Sensação de impotência diante da fúria da natureza. Foi esse sentimento que os moradores de Flores da Cunha vivenciaram na semana passada quando um tornado deixou um rastro de destruição na Rua Girólamo Mioranza, no Travessão Alfredo Chaves. Os maiores prejuízos foram registrados na agricultura, nos cultivos de uva e morango, onde 73 hectares tiveram estruturas totalmente destruídas e outros 100 hectares sofreram danos pelo vento ou granizo. Os prejuízos foram estimados em R$ 4,35 milhões.
Entre os produtores atingidos na localidade está Gilberto Sandri, 61 anos, e sua esposa Isabel Fabian Sandri, 60 anos. O casal de agricultores teve todo o telhado levado pela força dos ventos, que ultrapassou os 100 km/h.
– (As perdas foram) muito grandes. O vento praticamente levou o telhado inteiro e alguns móveis também. Colchões, alguns nós conseguimos salvar, outros não. Tivemos janelas e vidros quebrados. Na parte hidráulica os canos foram quebrados e comprometeram também a rede elétrica — lista Sandri, que atualmente está abrigado na residência de sua cunhada, Jacinta Fabian, no Travessão Paredes, em Nova Pádua.
Os três hectares de parreiras de sua propriedade também foram prejudicados. O agricultor conta que os danos foram agravados pelo fato de árvores como Nogueira, Eucalipto e Ipê terem caído em cima dos parreirais, depositando muito peso sobre as videiras.
— Muita gente veio ajudar, todos os dias vem gente para prestar algum serviço e já conseguimos organizar bastante as coisas em comparação ao jeito que estava antes. Um parreiral de Bordô foi erguido já (na segunda-feira, dia, 15) e tem um outro que está no chão que é da variedade Isabel (deve ser erguido nos próximos dias). Vamos precisar ainda de ajuda porque tem mais coisa para fazer e sozinhos não somos nada – emociona-se.
Isabel complementa o marido e destaca que no momento do tornado os dois estavam na cozinha quando, repentinamente, “saiu o teto inteiro”. Ela reforça que só tinham visto um cenário parecido na televisão.
“Não consigo mais dormir”
Mesmo ainda sem poder contabilizar as perdas, o casal calcula que os prejuízos sejam grandes, o que acaba tirando o sono de Sandri. O agricultor está tendo dificuldades para dormir pois teme que uma situação semelhante possa se repetir no futuro:
— Quando acordo, seja às 3h ou 4h, não consigo mais dormir. Fico pensando que eu poderia dormir mais um pouco, mas não consigo. Fico pensando no que pode acontecer mais adiante porque está sendo frequente isso, não só aqui, mas em outros lugares também. Então, cada viração de tempo a gente fica com medo, já ficava antes, agora então mais ainda — admite.
Sem filhos, o casal agradece a comunidade e todos que de alguma forma estão contribuindo pare reerguer os parreirais e consertar a casa. A prioridade, agora, é conseguir cobrir a residência antes da próxima chuva para proteger o que restou e, após a reativação da água e da luz, voltar a morar no local.
“Ninguém para o vento”
O impactante cenário deixado pelo tornado na Rua Girólamo Mioranza incluiu a destruição da quadra de esportes de Alfredo Chaves e o telhado da capela São João Batista.
Dez dias após o evento climático a comunidade começa a se mobilizar e pensar em alternativas para estes locais. O movimento para reconstruir o telhado da capela já iniciou e os reparos devem ser concluídos nos próximos dias.
— Como a igreja e o salão são da Mitra, a gente está fazendo várias reuniões, tentando conversar com o pessoal aqui da comunidade, tentando montar uma comissão para tentar fazer uma festa e arrecadar fundos e patrocínios para poder revitalizar a parte ali do salão, que é a parte antiga. Pelo que eu entendi, (a comunidade) não tem planos de reconstruir a cancha, eles pretendem revitalizar a área, mas deixar sem a cancha. E reorganizar ali a igreja, que foi destelhada – explica a médica e moradora de Alfredo Chaves, Vitória Sonda Gazzi, 27 anos.
À frente do mercado local, Luciano Junior Felchak, 38 anos, complementa:
— Onde tinha o ginásio, a princípio não vai ter nada, só vamos pavimentar, colocar bloquetos e fazer um paisagismo para harmonizar e ficar bonito. Construir, até onde sei, não vai ser possível.
Outro morador que testemunhou o tornado e seus impactos foi Gilmar Caron, 64. Mesmo sem ter sido atingido diretamente pelo fenômeno, ele lamenta o que aconteceu à comunidade.
– Não adianta, ninguém para o vento. (A comunidade) está fazendo o possível para se levantar, mas não vai ser fácil. Estão cobrindo a igreja, mas acho que não vão reconstruir a quadra. É o que ouvi falar, pelo menos por enquanto.
“De um a dois anos para a gente voltar como estava antes”
A sede da Terrasul Vinhos Finos foi diretamente atingida pelo tornado que derrubou dezenas de tanques metálicos gigantes (pipas para armazenamento de vinhos).
O proprietário da vinícola, Augusto Salvador, explica que a parte da retirada dos entulhos está bastante adiantada. Agora, a maior preocupação é em ter os tanques disponíveis para processar a uva, já que o início da safra está próximo.
— Estamos bem despreparados ainda, mas a gente acredita que se tudo der certo no que a gente está planejando, a gente vai conseguir (ter tudo organizado) para os dias 20, 25 de janeiro (quando deve iniciar a safra) — prospecta Salvador.
O telhado já começou a ser reconstruído, mas, mesmo assim, Salvador revela que para tudo voltar ao que era ainda irá levar algum tempo:
— A rotina acho que vai demorar mais de ano, porque nós temos todas essas coisas dos tanques, isso aqui vai um período muito longo para arrumar, consertar, fazer novos. A gente acha que (vai levar) de um a dois anos para a gente voltar como estava antes — projeta.

