— Sempre quis fazer um filme que emulasse uma experiência sensorial, mais do que uma narrativa convencional. Levar o espectador a se projetar na tela, através das ferramentas da linguagem cinematográfica. O curta-metragem se propõe a esse tipo de experimentação e busquei fazer de uma forma com que cada espectador tenha sua leitura do filme, tire suas próprias conclusões.
Estes foram os objetivos do realizador audiovisual Juliano Carpeggiani, 43 anos, ao desenvolver o roteiro, produzir e dirigir o curta-metragem “Lontano” (traduzido do italiano, Distante), que teve pré-estreia na semana passada, no Casarão dos Veronese, em Otávio Rocha, distrito de Flores da Cunha.
– “Lontano” é a catarse de Maria (interpretada pela atriz Duda Meneghetti) uma jovem de um vilarejo de colonização italiana que vive de angústia e culpa, presa entre memórias do passado e devaneios do presente. A história acontece em quatro estações, durante o ciclo da vinicultura. Ela é uma força da natureza. O ciclo da videira e a maturação do vinho refletem o seu processo de libertação emocional – explica Carpeggiani sobre o curta de 16 minutos que mescla ficção e drama.
O florense conta que a pré-estreia foi exclusiva para a apresentação do filme dentro da conclusão do projeto, finalizado com recursos da Política Nacional Aldir Blanc. Agora os planos são submeter o curta à avaliação daqueles que têm o olhar cinematográfico. Por isso a produção deve “reservar o ineditismo” para poder ser inscrita em festivais de cinema de circuitos nacionais e internacionais, que exigem exclusividade.
Como tudo começou
O diretor explica que a ideia de produzir “Lontano” surgiu durante a primeira diária de gravações para o comercial da XIII Fenavindima, em janeiro de 2015, segundo ele os atores e a equipe perceberam que as cenas iam além de “uma publicidade tradicional”, eram “histórias bem contadas” e com potencial a ser explorado.
– Desenvolvi uma segunda parte da história, que se passa no inverno, um tempo depois da primeira fase. É no período da poda, durante a dormência da parreira. Os galhos secos, o frio e a serração refletem o estado emocional de Maria, a protagonista. Essa etapa de filmagem, com equipe bastante reduzida, aconteceu no inverno de 2015 – explica Carpeggiani, que prossegue:
– No outono de 2016 fizemos cenas extras para contemplar a atmosfera da estação em torno da locação (o casarão dos Lovatel em São Tiago) e dos ambientes internos. Também fizemos mais uma cena com a Bernardete Panizzon (interpretou a mãe da protagonista), na capela do Travessão Barra. Com isso, já se desenhava que o curta contemplaria o ciclo da videira e a maturação do vinho, como símbolo da catarse narrativa de Maria. Na primavera de 2017 concluímos as filmagens, com a realização das cenas mais lúdicas.
Desde as gravações da colheita até a edição final do curta, mais de uma década foi dedicada à produção do filme.
– Depois desse tempo todo de trabalho de edição e acompanhado as transformações do filme pela tela e som do computador, tive a certeza da conclusão como eu sempre imaginei, fora da caixa. E assistir com o público na tela grande foi realmente como assistir pela primeira vez. É como se pudesse sentir e perceber tudo agora com os olhos da plateia, percebendo que as intenções funcionaram – orgulha-se.
“A vida é uma aventura”
Bernardete Marostica Panizzon (Foto: Redes sociais, Reprodução)
Bernardete Marostica Panizzon, 64 anos, lembra que foi convidada pela servidora Camila Pauletti para fazer o comercial da XIII Fenavindima, ali conheceu Juliano Carpeggiani e surgiu o convite para participar do filme.
— Foi uma experiência maravilhosa, gostei pela amizade que a gente fez com a turma que estava fazendo a filmagem, uma turma bem atuante, brincalhona. A gente fez uma amizade maravilhosa. E foi bacana eu ter participado, foi uma coisa que eu nunca teria pensado em fazer, mas valeu a pena – evidencia Bernardete, que ganhou destaque no filme interpretando a mãe da protagonista.
Conhecida por seus trabalhos voluntários junto ao Rotary, à Liga Feminina de Combate ao Câncer, o Mão Amiga e à comunidade do Travessão Martins, a paduense conta que nunca havia atuado antes.
– Foi muito bacana (atuar e) poder resgatar as raízes do tempo das nossas nonas e das nossas mamas. Ter me visto na tela, foi uma emoção grande, uma alegria e eu até digo que nunca teria imaginado. Eu acho que todo mundo que recebe algum convite tem que aceitar, tem que quebrar essas barreiras, a gente tem que se aventurar, acho que a vida é uma aventura.
Renato Lovatel (Foto: Redes sociais, Reprodução)
“Continuar com o turismo”
O agricultor e linha de frente da La Grappa Licores e Destilados, Renato Lovatel, 61 anos, conta que “foi gratificante” ver sua propriedade, em São Tiago, no distrito de Mato Perso, se transformar em cenário para as gravações de “Lontano” e da publicidade da XIII Fenavindima.
– Foi bem legal, bem interessante, gostei muito (de ver a propriedade na tela)! Até tinha algumas cenas que eu comentei com ele (Juliano) que eu nem me lembrava que tinha feito, porque foi feito no quarto da minha mãe e só estava a Maria lá. Então eu disse: “Bah, olha que interessante”. E até eu apareci (filme), estava com o carretão e fiz mais uma parte que foi da gravação da Fenavindima – detalha Lovatel.
O empreendedor explica que o fato de sua propriedade ganhar visibilidade com as gravações foi uma motivação para que ele valorizasse e investisse ainda mais no turismo.
– Faz uns 20 anos já que eu trabalho com meus licores e com o turismo. Agora eu estou reformando todo o casarão (que é histórico). Estamos modificando, tem algumas coisas que a gente queria preservar e não conseguiu, mas bastante coisas a gente conseguiu preservar. E eu vou continuar com o turismo, não vou parar!
