Na noite do último domingo (30), a Avenida 25 de Julho ganhou um brilho diferente com a abertura da 29ª edição do Sinos de Natal. Foi o início de um novo capítulo para Flores da Cunha, um novo modo de anunciar a chegada do Papai Noel, concebido a partir da colaboração entre grupos culturais, artistas e milhares de moradores que decidiram transformar a Avenida em cenário de imaginação e pertencimento.
A tradicional descida do Papai Noel da torre da Igreja Matriz marcou os munícipes. Mas, com o restauro do patrimônio tombado, o gesto precisou ser reinventado. A resposta encontrada pelo município foi inaugurar outra tradição, um espetáculo artístico em formato de desfile.
Entre os grupos que se apresentaram, a impressão geral foi de uma experiência que mistura novidade, pertencimento e a percepção de que, mesmo com limitações, o que importa é o que se move junto.
O ator, apresentador e produtor cultural Janio Nunes, proprietário da Garagem de Teatro, destacou que Flores da Cunha adere a um movimento nacional que resgata cortejos e ocupação artística das ruas.
— Esse novo formato acompanha o movimento que está acontecendo em todo o país. O desfile permite trazer novidades, transformar a experiência a cada edição, e isso é muito válido. Ele é um formato maleável, que se adapta e cresce conforme a produção e a comunidade desejam — afirma.
Ele reforçou que o sucesso de uma proposta assim depende também da participação ativa dos moradores e demonstrou entusiasmo pelas novas possibilidades:
— Encontramos um formato bonito. Ver o Papai Noel caminhando pela rua e sentir o brilho nos olhos das pessoas foi muito especial. É muito importante que a comunidade participe, porque o que é do povo precisa permanecer com o povo, é investimento no bem-estar e na qualidade de vida das pessoas.
“Transformar em algo ainda maior”
Se o novo formato buscava proximidade com o público, poucos grupos trouxeram isso com tanta intenção quanto o Vui Le Carte. Em sua apresentação, a companhia apostou na emoção, sobretudo das crianças, utilizando símbolos e gestos que evocavam o espírito natalino nos pequenos.
A presidente, Tais Pandolfi, destacou que a proposta era trabalhar o afeto.
— Nossa experiência foi extremamente positiva. Queríamos levar algo simples, mas que representasse o verdadeiro espírito do Natal. Nosso foco foi aproximar o Homem de Lata das crianças, distribuindo abraços e criando momentos de carinho. A estrela da árvore representou a luz que aparece quando colocamos amor nessa data tão especial — reflete.
A participação do Estúdio de Dança Tamara Sitta acrescentou movimento, cor e energia ao desfile. A diretora, Tamara Sitta, frisou que o envolvimento das bailarinas reforçou o papel da arte na formação cultural do município, especialmente quando vivenciada em espaços públicos e compartilhados.
— Foi uma grande honra participar. As bailarinas estavam felizes e engajadas em contribuir com a arte e a cultura. O desfile foi bem organizado e muito bonito. Esperamos que essa iniciativa continue e se aperfeiçoe, que venha mais um Natal repleto de encanto e sucesso! — almeja.
“Ponto chave foi a ludicidade”
A Molhados na Chuva Produções, com mais de três décadas de experiência em grandes desfiles, trouxe uma contribuição importante ao evento. O produtor Rafael Homem contou que a equipe buscou equilíbrio entre técnica, orçamento, criatividade e o entendimento do que a Avenida pede.
— Houve muita vontade de entregar algo bonito. Optamos por uma performance adaptada às condições e a comunidade entendeu a proposta. Foi muito produtivo. Essa ideia tem muito espaço para evoluir. Flores da Cunha tem forte tradição comunitária e, com continuidade, pode transformar isso em algo ainda maior — considera.
Rafael ressaltou que a proximidade criada pelo formato contribuiu para a atmosfera calorosa da noite.
— Ficou mais intimista. Todas as alegorias ficaram próximas do público, e isso deixou tudo mais visível e agradável. Vista de cima, a apresentação estava muito bonita — avalia.
Já a Equipe Marcolina, grupo muito enraizado na cultura local, comentou que o entusiasmo do público foi determinante para o clima geral do desfile. Segundo a coordenadora geral, Renata Trentin, a resposta da comunidade reafirma a capacidade de transformar manifestações artísticas em experiência para todos.
— O tempo de duração foi excelente. Ter onde sentar para boa parte dos espectadores também foi muito positivo. Envolver as equipes foi com certeza uma boa sacada. Trouxe criatividade, alegria e agregou demais no enredo todo. O ponto chave foi a ludicidade do tema — observa.
O que o primeiro ano ensinou
O entusiasmo geral demonstrou que a mudança de formato foi bem recebida, mas a partir da observação de alguns grupos e da própria dinâmica da noite, alguns aspectos se destacaram como pontos a serem aperfeiçoados.
Um deles foi a iluminação. Em alguns trechos da Avenida, a visibilidade ficou comprometida. Segundo Janio, esse cuidado é fundamental para que cada alegoria, personagem ou coreografia seja percebida plenamente pelo público.
— Percebemos que alguns pontos ficaram escuros. Com um pouquinho mais de iluminação, o desfile fica ainda mais bonito. Mas isso é normal em um primeiro formato, é um ajuste simples.
Renata Trentin concorda com a avaliação e reforçou que uma iluminação e uma sonorização mais uniforme valorizaria ainda mais a proposta do cortejo, ampliando a experiência tanto para quem se apresenta quanto para quem acompanha.
— A iluminação não foi legal, vários pontos escuros não destacaram as alegorias e as pessoas na Avenida. O som também não tinha boa qualidade; a distribuição das caixas de som deixou a desejar.
Por fim, a observação de Tamara sobre a divulgação antecipada das datas, reforça a necessidade de planejamento.
— Gostaria que a data do evento fosse definida e informada com maior antecedência, permitindo uma preparação ainda mais completa. Se possível, que ocorra um pouco mais cedo no mês, para evitar a coincidência com outros compromissos típicos do período. Antecipar o início da organização certamente proporcionaria uma desenvoltura ainda melhor do trabalho — afirma.

