Muito mais do que preparar o prato típico de Flores da Cunha, aos 70 anos Benedito Pauletti orgulha-se de já ter levado o menarosto para diversos municípios do Rio Grande do Sul e, inclusive, para outros estados do Brasil, como São Paulo.
Morador do Travessão Carvalho, no distrito de Otávio Rocha, ele conta que aprendeu com o falecido tio Dorinto Pauletti a prática que consiste em assar carnes de frango, coelho, leitão e codorna em roletes.
— Segredo em si não tem, mais é o capricho de fazer, cozinhar, lavar, espetar e temperar. (Antigamente) era girado (rolete) tudo à mão. Agora é tudo mecanizado — lembra Pauletti.
Com 43 anos dedicados ao ofício, ele explica que um dos diferenciais do prato é que as carnes devem ser marinadas por 24 horas. O cozimento, por sua vez, deve ser feito apenas com as brasas, diferente da forma em que assamos churrasco e galeto, por exemplo, que são cozidos no fogo.
— O churrasco em 40 minutos tu cozinha. O menarosto não, para ser bom deve assar por umas cinco horas. Tem que ser (cozinhar) devagar senão faz cor por fora e por dentro fica cru — revela Pauletti, que prepara mais de 40 menarostos por ano.
Por considerar uma “comida mais forte”, o cozinheiro acredita que o prato “apeteça” mais no inverno, onde pode ser acompanhado de um bom vinho. Além disso, Pauletti considera que no verão, devido ao calor, é mais difícil ficar cinco horas esperando ao redor do forno até a carne estar pronta.
Contudo, independentemente da estação, o florense revela porque acredita que seu menarosto tem um sabor especial:
— A diferença? Ah, não sei, pode ser os temperos, o gosto de um e outro. Pode ser que eu use os temperos que os outros não usam, mas eu coloco alho, sálvia, salsa, pimenta, e sal — empolga-se, orgulhoso.
Aprender desde cedo
A dedicação de Pauletti também está estampada nas páginas do livro “Menarosto: que delícia de patrimônio”. O estudo sobre o prato típico de Flores da Cunha ganhou formato de cartilha e foi distribuído, em outubro, para todas as escolas da rede municipal e estadual, além da Secretaria de Cultura, Câmara de Vereadores e Biblioteca Municipal.
De autoria da jornalista Danúbia Otobelli, a obra deve ser trabalhada na sala de aula pelos alunos dos 3º anos do ensino fundamental:
– A cartilha é o resumo do trabalho e se torna uma base para que os professores possam utilizar em sala de aula ou mesmo para que os alunos possam retirar nas bibliotecas das escolas para conhecer mais sobre as origens e preparos do menarosto.
Danúbia explica que este projeto foi um dos contemplados pela Lei Aldir Blanc e que a obra foi feita exclusivamente para ser entregue nas escolas.
Quem se interessar pelo conteúdo ou quiser se aventurar a preparar o prato típico florense pode acessar a pesquisa online por este link.
“Fortalece a identidade local”
O secretário de Desenvolvimento Econômico, Turismo, Cultura e Inovação, Tiago Centenaro Mignoni, enxerga a publicação como um “marco”:
— Ao chegar às escolas, o livro cumpre um papel fundamental: transmitir às novas gerações o conhecimento sobre essa tradição, mostrando que o menarosto não é apenas um prato, mas parte viva da nossa história. É um material educativo que fortalece a identidade local e contribui para que esse patrimônio imaterial continue sendo reconhecido, respeitado e celebrado pela comunidade.
Para tornar o prato cada vez mais conhecido a Terra do Galo realizou, neste ano, dois grandes eventos: O Festival de Vinhos e Menarosto, em junho, e o Festival Melhores Vinhos, em novembro. Em ambas as atividades o prato típico teve comercialização positiva.
— A tendência é que esse movimento (ampliar a visibilidade do menarosto) estimule o mercado a colocar o prato em mais estabelecimentos e operações gastronômicas. Seguiremos destacando o menarosto em nossas ações – defende Mignoni, que almeja fortalecer a cultura e impulsionar o turismo gastronômico por meio do prato típico florense.

