Na Escola Municipal 1º de Maio, são quatro professores homens que atuam nos anos iniciais. Já na Escola Estadual de Ensino Médio São Rafael, a presença masculina é mais expressiva, ainda que em número reduzido: nove homens entre aproximadamente 60 docentes.
O professor de Física Tairo Pacheco leciona na escola São Rafael há 12 anos. Ele destaca a colaboração da presença masculina no ambiente escolar.
— Eu acredito que o meu papel como homem e professor ajuda a quebrar alguns paradigmas, já que na Escola São Rafael a maior parte do quadro é feminino. Vejo também que faz parte do papel do homem, de uma perspectiva familiar, compreender seu compromisso e responsabilidade com a educação. Acredito que, por esse olhar, consigo exercer minha profissão de forma significativa. Ser homem traz um impacto positivo, independentemente do gênero, para os alunos — explica.
Segundo Pacheco, o trabalho docente vai além da questão financeira, já que os salários são informados nos editais dos processos seletivos. Para ele, vocação e compromisso são fundamentais.
Na mesma escola, o professor Ricardo Medeiros, formado em Pedagogia e Letras, atua há uma década com turmas dos anos iniciais. Ele relembra o estranhamento ao perceber a ausência masculina ainda na graduação.
— Eu percebi essa diferença quando entrei na faculdade de Pedagogia. No início, eu era o único homem do curso, e isso gerou um certo estranhamento. Com o tempo, outros colegas foram chegando e, como fui muito bem acolhido, tudo fluiu de forma tranquila. Acredito que essa predominância feminina nas séries iniciais é muito mais uma questão cultural. Também passa pelos processos seletivos e pela baixa procura de homens por essas vagas. Nas séries iniciais, onde atuo aqui no São Rafael, a presença masculina ainda é muito pequena — conta.
“Sou apaixonado pelo que faço”
Na Escola Estadual Professor Targa, não há professores homens nos anos iniciais. O corpo docente conta com 23 professoras e apenas dois professores homens. Um deles é Wesley Prudente, formado em Matemática e com 18 anos de experiência na educação.
— Dou aula na Escola Targa há dois anos, cumprindo carga horária integral. Ministro aulas para turmas do 6º, 7º e 9º anos pela manhã e para o 6º ano à tarde. Em algumas ocasiões, também atuei com turmas menores, do 1º, 2º e 5º ano, devido à falta de professoras na escola. Quando cheguei aqui, eu era o único professor homem. Depois entrou outro professor, o Cláudio, que acabou saindo, e então veio o professor Rodrigo (Amopretti). Hoje, ainda somos poucos homens no quadro docente, mas a presença masculina vai se mantendo de forma gradual — relata.
Segundo Prudente, a presença masculina acaba se tornando uma referência para os alunos, que demonstram confiança e procuram diálogo, contribuindo para o desenvolvimento emocional e social.
Também na Escola Targa, Rodrigo Amopretti, formado em Letras e Pedagogia, divide a docência com sua outra profissão, de cabeleireiro.
— Acredito que nas cidades mais interioranas, como Flores, têm essa predominância ainda feminina. Vejo como uma questão sexista porque entende-se que a mulher é responsável por educar. Eu conheço professores homens e pedagogos, que trabalham com educação infantil, nos anos iniciais e fazem um trabalho incrível com as crianças, mas ainda no interior existe essa questão da resistência, de que é uma profissão feminina — explica.
Sobre a remuneração, acrescenta:
— A questão salarial realmente existe, mas, como eu sempre digo, ninguém entra enganado. Todo mundo sabe quanto vai ganhar. Hoje eu abro mão de outra profissão, muito mais rentável. Sou cabeleireiro há 20 anos, tenho salão de beleza em Caxias, e mesmo assim voltei para a sala de aula. Mesmo ganhando menos, porque eu sou apaixonado pelo que faço.

