É cada vez mais difícil encontrar professores homens nas escolas. Esta é uma tendência mundial nos níveis de educação infantil e fundamental, mas que em Flores da Cunha chega a um patamar absoluto: dos 314 professores municipais, 294 são mulheres e apenas 20 homens — ou seja, apenas 6% do corpo docente é masculino. As 13 escolas municipais são dirigidas por mulheres, com apenas um homem ocupando a vice-direção na Escola 1º de Maio.
O vice-diretor é Cassiano Renosto, que assumiu a função em 2019. Ele é professor de Artes desde 2010 e também atua como vice-diretor na Escola Municipal Alberto Pasqualini, em Caxias do Sul.
— Quando temos mais vozes e diferentes perspectivas dentro da escola, todos ganham, os estudantes, as famílias e a própria rede. Minha presença como gestor homem reforça que a educação é um espaço para todos, e pode também inspirar outros profissionais a ingressarem e permanecerem nesse campo tão essencial — afirma.
Entre os professores do sexo masculino, há formações em áreas como Pedagogia, Letras, Matemática, Física e Educação Física. O desinteresse masculino pela docência é explicado pela baixa remuneração e fatores culturais.
Professor de Artes com formação em música, Eduardo Airton Arruda leciona para o 6º ano na Escola Municipal 1º de Maio. Ele relata os desafios e aprendizados de sua trajetória no magistério.
— Eu sempre gostei de dar aula. Sempre lecionei música, especialmente aulas particulares. Depois que ingressei no curso superior para me formar como professor da rede pública, percebi que foi um grande desafio. O número de professores do sexo masculino é realmente baixo. No entanto, existe uma aceitação muito positiva por parte das crianças. Elas parecem se sentir bem em ter uma figura masculina na escola, e isso é algo que considero muito valioso — opina.
Para o professor de Artes, a diversidade de gênero contribui para a formação dos alunos.
— Independente de se o professor é homem ou mulher, o que realmente faz diferença é a qualidade do ensino e a didática aplicada. Se o professor sabe ensinar, a criança vai aprender, independentemente do gênero. Acredito que tanto meninos quanto meninas se identificam com as atividades lúdicas da disciplina de Artes — acredita Eduardo Arruda.
A Secretaria de Educação de Flores da Cunha ressalta que valoriza a diversidade, o respeito e a equidade de gênero nos espaços escolares. Embora não existam programas específicos para atrair professores homens, a rede mantém políticas de valorização profissional, formação continuada e condições adequadas de trabalho.
Diversidade nas escolas rompe estereótipos
O Resumo Técnico do Censo Escolar 2024, divulgado pelo Inep, apresenta o predomínio feminino na docência nacional. Nos anos iniciais do ensino fundamental, 87,2% dos professores são mulheres e 12,8% são homens. Ou seja, menos de um em cada cinco professores é homem no Brasil.
O dado de Flores da Cunha é ainda menor: um em cada 20 professores é homem. Sobre esta menor presença masculina na docência, a Secretaria de Educação de Flores da Cunha avalia que é uma tendência nacional é influenciada por fatores culturais, sociais e pela percepção da carreira. No município, os índices de ingresso de homens permanecem estáveis nos últimos anos.
Com 37 anos de experiência na educação, a psicopedagoga Sinara Paula Garbim analisa que a baixa presença masculina está ligada a fatores históricos e culturais.
— Está ligada aquela ideia histórica de que cuidar e educar crianças pequenas é “papel feminino”, ou seja, o cuidado afetivo é algo culturalmente visto como feminino. Acredita-se que esses estereótipos acabam afastando os homens da profissão — explica.
Sinara, que também atua como professora na rede municipal, considera que ampliar a diversidade na docência ajuda a romper estereótipos e tornar as escolas mais inclusivas.
— Mesmo em número reduzido, a presença de homens na equipe traz um impacto muito positivo na dinâmica escolar. Eles ampliam as trocas, enriquecem as relações e oferecem às crianças outras referências de interação, cuidado e diálogo. Essa diversidade de olhares fortalece o trabalho coletivo, contribui para práticas pedagógicas mais completas e ajuda a construir uma escola mais inclusiva e próxima da realidade social — pontua.
Entre as estratégias para incentivar mais homens a ingressarem na carreira, especialmente nos anos iniciais, a psicopedagoga aponta a necessidade de enfrentar estigmas culturais.
— Fomentar, disseminar, criar campanhas da importância do papel masculino na Educação, dando também visibilidade a homens que já atuam na área, criando espaços de diálogo e acolhimento, ajudando a reduzir preconceitos e tornando a profissão mais convidativa — conclui Sinara.

