O Coletivo Quitérias divulgou uma carta aberta criticando a descaracterização do Projeto de Lei que obrigaria a divulgação do Disque 180 no comércio de Flores da Cunha. O grupo de mulheres considera que a retirada da obrigatoriedade, aprovada pela maioria dos vereadores na última segunda-feira ( 15), “esvazia sua eficácia”.
— À Câmara, deixamos um apelo: que a proteção da vida das mulheres esteja acima de interesses políticos, disputas internas ou cálculos de conveniência. A violência não espera. E nós também não — apela o Coletivo Quitérias no documento, que foi divulgado em redes sociais e será enviado à Câmara de Vereadores.
Criado a partir de iniciativas independentes em 2023, o Coletivo Quitérias se formalizou em maio deste ano, com diretoria e estrutura organizacional definidos, para atuar na promoção da igualdade de gênero e no combate às desigualdades sociais e raciais. O grupo considera que o Projeto de Lei original que obrigava a divulgação do Disque 180 no comércio um avanço importante no combate a violência.
— Seguia o caminho adotado em várias cidades brasileiras: criar um ambiente onde mulheres possam lembrar, de forma simples e acessível, que existe uma rede de apoio, um canal de denúncia e um serviço nacional preparado para orientar, acolher e encaminhar situações de violência — destaca o texto.
Por fim, o grupo de mulheres convida os estabelecimentos a “se somarem voluntariamente a esse movimento a adotarem a sinalização do Disque 180, mesmo sem a obrigatoriedade legal”, pois este é um gesto que salva.
Debate dividiu a Câmara
O Projeto de Lei Complementar 09/2025, da vereadora suplente Jaqueline Zanella (Republicanos), previa a obrigação dos estabelecimentos comerciais divulgarem o Disque Denúncia de Violência Contra a Mulher, o Disque 180. Contudo, o vereador Deivid Schenato (PP) protocolou a Emenda Substitutiva 01/2025, para alterar o texto e prever esta divulgação “de forma facultativa”.
A emenda foi para votação na última segunda-feira (15) e dividiu a Câmara de Vereadores. Foram quatro votos a favor e quatro contrários, restando a presidente Silvana De Carli (PP) dar o voto de minerva e definir a aprovação do novo texto.
Como votou cada vereador:
Foram a favor da Emenda Substitutiva e a retirada da obrigatoridade prevista no Projeto de Lei as bancadas do PP e PL:
- Vereador Deivid Schenato (PP)
- Vereador Diego Tonet (PP)
- Vereador Marcelo Golin (PL)
- Vereador Oscar Francescatto (PL)
- Vereadora Silvana De Carli (PP)
Foram contrários a Emenda Substitutiva, os parlamentares do Republicanos e MDB:
- Vereador Luizzão (Republicanos)
- Vereador Valdecir Paulus (MDB)
- Vereador Ademir Barp (MDB)
- Vereador Claudimir Kremer Alemão (MDB)
Confira a carta na íntegra:
CARTA ABERTA DO COLETIVO QUITÉRIAS À COMUNIDADE DE FLORES DA CUNHA
O Brasil atravessa um momento crítico de violência contra mulheres. Todos os dias somos dilaceradas por relatos de agressões, ameaças, feminicídios e silenciamentos que ocorrem dentro de casas, nos espaços públicos e nos ambientes de trabalho. Em Flores da Cunha isso também é realidade, ainda que tantas mulheres sofram em silêncio e longe das estatísticas. A informação salva vidas, e quando o poder público tem a chance de facilitar esse acesso, não é um detalhe burocrático. É responsabilidade.
Por isso, recebemos com profunda preocupação a decisão da Câmara de Vereadores de retirar a obrigatoriedade da divulgação do Disque 180 em estabelecimentos de grande circulação. A proposta original, apresentada pela vereadora suplente Jaqueline Zanella, seguia o caminho adotado em várias cidades brasileiras: criar um ambiente onde mulheres possam lembrar, de forma simples e acessível, que existe uma rede de apoio, um canal de denúncia e um serviço nacional preparado para orientar, acolher e encaminhar situações de violência.
Transformar essa iniciativa em algo facultativo é esvaziar sua eficácia. É fechar os olhos para a realidade de que muitas mulheres não sabem a quem recorrer, não reconhecem que estão em situação de violência ou não têm segurança para pedir ajuda. Para essas mulheres, uma placa visível pode ser o primeiro passo para romper o ciclo.
O Coletivo Quitérias, movimento de mulheres engajadas em sensibilizar a sociedade para desigualdades de gênero, raça e condição social — reafirma: juntas somos multidão, e multidão não se cala.
Não se trata de punir o comércio local. Ao contrário: trata-se de construir, em parceria com a comunidade, uma cultura de proteção, solidariedade e responsabilidade coletiva. Uma cidade que valoriza suas mulheres fortalece sua economia, sua imagem e sua capacidade de se desenvolver.
Seguiremos mobilizadas para que a pauta da proteção às mulheres não retroceda e para que políticas públicas de prevenção, simples, baratas e efetivas como esta, sejam tratadas com a urgência que merecem. Também convidamos os estabelecimentos que desejarem se somar voluntariamente a esse movimento a adotarem a sinalização do Disque 180, mesmo sem a obrigatoriedade legal. Esse gesto importa. Esse gesto salva.
À Câmara, deixamos um apelo: que a proteção da vida das mulheres esteja acima de interesses políticos, disputas internas ou cálculos de conveniência. A violência não espera. E nós também não.
Coletivo Quitérias — Juntas somos multidão.

