Caderno de Sábado

Histórias (quase) esquecidas: um tiro na Matriz

Na década de 1930, a bala de um canhão quase derrubou o templo católico

A história de hoje enquadra-se perfeitamente no título dessa série. Um fato quase esquecido mesmo, afinal poucas pessoas o têm na memória e as informações relatadas são limitadas. Antes de contá-lo é preciso resgatar um pouco a história da Igreja Matriz Nossa Senhora de Lourdes. Como se sabe, a religião sempre foi a pedra fundamental dos imigrantes italianos. Por isso, logo que aqui se estabeleceram viram a necessidade de construir uma igreja. Primeiramente, um pequeno templo em madeira e dedicado a São Pedro foi erguido. Mas, a fé dos nova trentinos precisava de algo grandioso e, em 1903, com os Freis Capuchinhos assumindo o Curato de Nova Trento iniciaram-se as engrenagens para a construção de uma nova igreja, mais imponente e com toques franceses.

Em 1905, as pedras da nova igreja, dedicada a Virgem Maria Imaculada, foram colocadas. Sob a supervisão do arquiteto francês Victor Denarié, a igreja ostentaria o estilo gótico. Cinco anos depois do início da construção, seu telhado é posto. A igreja também ganhou os revestimentos nas paredes e os vitrais, oriundos da França. Em 1912, ainda não finalizada, a Matriz recebeu uma bênção solene. Mas somente em 1914 a Igreja foi concluída. Seu altar-mor, oriundo da Itália, foi inaugurado em 1925 e apenas em 1942 a igreja foi consagrada.

Quase caiu

História da Igreja Matriz contada, vamos ao dia em que um tiro de canhão quase derrubou o templo católico. Era o início da década de 1930 e um metalúrgico, que possuía sua oficina na Rua John Kennedy – onde hoje se encontra a sede da Agavi - testava suas invenções. Ele costumava fabricar espingardas de caça com dois canos e certo dia cismou em construir um canhão. O equipamento possuía uma armação superposta a duas rodas e com uma chapa de proteção para o atirador. Era idêntico aos antigos canhões de guerra e havia sido fabricado com o eixo de um antigo automóvel.

Morando bem ao lado da igreja, ele resolveu experimentar o canhão e ver se o mesmo funcionava – dizem que o metalúrgico era um anticlerical ferrenho. Foi então, que ele apontou o canhão para a parede lateral da Igreja Matriz e disparou. Bummmm....Quando o metalúrgico percebeu a bala havia feito um enorme rombo no templo. Era mais de um metro de diâmetro bem acima dos vitrais. Os tijolos desmoronaram dentro da igreja e causaram grandes avarias. “A bala do canhão fez um grande estrago nas paredes”, contou Alcides Corso em depoimento ao Museu e Arquivo Histórico Pedro Rossi, em 2001.

Conforme escritos de Claudino Antonio Boscatto, o estrago só não foi maior porque o projétil era maciço e não tinha carga em seu interior. Caso contrário, as paredes da Igreja Matriz poderiam ter caído. “Após o acontecimento, as autoridades policiais detiveram o autor do disparo e comunicaram o ocorrido a polícia de Caxias do Sul, a qual designou uma comissão de oficiais para proceder o inquérito militar e apreender a arma de guerra. O canhão foi apreendido, porém, o inquérito foi arquivado, depois de aceitarem a alegação que o disparo aconteceu de forma acidental e sem a intenção de atingir o templo”, relatou Boscatto.

Antes das últimas pinturas e reformas ocorridas na Igreja Matriz, realizadas em 2013, era perceptível na parede ao lado da nave esquerda uma estrutura e reboco diferentes do original. Provavelmente, resquícios do dia em que a Matriz quase veio abaixo.

 - Arquivo Histórico Pedro Rossi/Divulgação
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