Histórias (quase) esquecidas: o casamento vermelho
O Florense inicia uma série de matérias que apresentam alguns fatos que ocorreram em Flores da Cunha e que se perderam nas memórias
Você sabia que a comunidade da Linha 80 foi amaldiçoada? Ou que no Alfredo Chaves ocorria o baile dos Pelados? Há ainda aquela história da sombra de uma morta retratada no túmulo. Toda cidade tem suas histórias. Existem aquelas que foram construídas a partir de documentos e fatos oficiais. Mas há ainda aquelas que, muitas vezes, não foram registradas, mas constam no imaginário popular. Flores da Cunha é campeã nesse quesito. A História do Galo é de longe um fato que não consta em documento oficial nenhum, mas faz parte da memória afetiva da cidade.
E são essas histórias, que muitas vezes se perderam nos livros e nas memórias daqueles que já se foram, que o Jornal O Florense quer relembrar. São aqueles fatos que ocorreram (ou não) e que não nos contam mais. Numa série de ensaios, publicados especialmente no online, essas histórias esquecidas serão exploradas. E a primeira delas envolve revolução, sangue e casamento.
O casamento vermelho
Na série mundialmente famosa Game of Thrones, no episódio 9 da 3ª temporada é retratada uma cena conhecida como ‘Casamento Vermelho’, quando um massacre mata toda uma família durante uma festa de casamento. Pois sabiam que em Flores da Cunha algo semelhante aconteceu? Não nas mesmas proporções, mas também durante um casório.
Começamos do princípio. De 1893 a 1895, o Rio Grande do Sul vivenciou a Revolução Federalista, uma guerra civil disputada entre os federalistas (maragatos) e os republicanos (chimangos). Ela representa uma das mais violentas e sangrentas revoltas travadas no sul do Brasil – até porque ficou conhecida como a Revolução da Degola, visto que o degolamento de pessoas era comum com o intuito de poupar armas e munições. Num resumo breve, os federalistas estavam insatisfeitos com as ações do governo e eram contrários ao sistema de governo presidencialista, enquanto que os republicanos acreditavam no nacionalismo.
Nos confins dos matagais da Serra, os florenses viviam ‘imunes’ a revolução. A única estrada de passagem para Antônio Prado e Vacaria passava pelo Travessão Alfredo Chaves e desembocava no Rio das Antas. Para atravessá-lo era necessário pegar uma balsa. E foi por ela que as forças revolucionárias chegaram.
Conforme consta no livro ‘Memórias de um Neto de Imigrante Italiano’, de Claudino Antonio Boscatto, a família Cavallaro, de Monte Bérico, comemorava a celebração de um casamento quando as forças republicanas chegaram na localidade. “Ao se aproximarem da residência dos noivos ouviram os gritos de ‘Viva i spozi’. A tropa atacou os que ali estavam com intensa artilharia. Eles não entediam a língua italiana e puseram todos os convidados a correr, os quais fugiram pelo meio do mato”, escreveu Boscatto.
Ao ficarem sozinhos, os revolucionários se fartaram do banquete e no dia seguinte seguiram viagem. A família Cavallaro, quando percebeu que estava segura, deixou a mata e começou a procurar pelos parentes. Um deles não foi encontrado. O noivo, ao tentar fugir por uma janela, foi alvejado pelas costas e morreu. E o que era para ser uma festa, se transformou numa tragédia.
A população novatrentina ficou muito revoltada com a ação, mas ninguém chegou a pegar em armas para se vingar. Quer dizer, uma pessoa se juntou as tropas. O imigrante Rodolfo Fortunatti, conhecido como ‘Storti’, participou de diversos embates. Mas isso é história para outro dia...
0 Comentários