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Em pauta, a demolição do prédio da prefeitura paduense

Projeto de lei do Poder Executivo para derrubada da edificação com mais de 70 anos entrará em votação na Câmara de Vereadores
Prédio que abriga a atual prefeitura (E) foi construído na década de 1940 e novo (D) será inaugurado em dezembro.

Em 3 de agosto deste ano, o jornal O Florense informava que o salão comunitário de Nova Pádua iniciava seu processo de demolição para a construção de uma nova estrutura. Dois meses depois, O Florense volta a divulgar uma nova demolição no Pequeno Paraíso Italiano. Dessa vez, um projeto de lei encaminhado pela prefeitura à Câmara de Vereadores dispõe sobre a demolição do atual prédio do Centro Administrativo. Construída por volta de 1946, a edificação deverá ser demolida em virtude da nova prefeitura, que foi construída nos fundos do atual prédio. O projeto foi encaminhado pelo prefeito Itamar Bernardi (PMDB) em 8 de outubro. Na tentativa de uma enquete no município sobre a demolição, a maioria das pessoas consultadas preferiu não se manifestar sobre o assunto.

tual edificação seria derrubada por estar com sua estrutura avariada, além de apresentar instalações sanitárias e elétricas sobrecarregadas e corroídas. “Por tais motivos, demonstra-se economicamente inviável a reforma e adequação do imóvel para futura utilização”, aponta a justificativa da proposta. Conforme o prefeito em exercício Ronaldo Boniatti (PSDB), o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) foi consultado e foi constatado que o prédio não se enquadrava dentro dos itens para tombamento e nem com características arquitetônicas. “O prédio está deteriorado e uma reforma seria custosa. Optamos em preservar o prédio da Câmara de Vereadores, que está mais conservado”, esclarece Boniatti. O projeto prevê a preservação de alguns materiais para serem reutilizados pela administração em outras obras públicas.

Nova prefeitura
A nova prefeitura deverá ser inaugurada no mês de dezembro, entretanto, a mudança ocorrerá em novembro. Iniciada em 2011, tem uma área total construída de 1,5 mil metros quadrados e com três pavimentos, a edificação terá custo de R$ 1,5 milhão e foi construída na parte de trás do atual prédio. No local do ‘antigo’ Centro Administrativo será feito um estacionamento com ajardinamento.

Edificação era local de estudos
O prédio da atual prefeitura paduense foi construído por volta de 1946 para abrigar o moinho Ciro Munaro, o qual fabricava farinhas de milho e trigo para a região. Em 1949, após passar por reformas devido a um sinistro, o moinho deu lugar à Escola Sagrada Família, das irmãs de São José. A estrutura abrigou a escola até 1965, quando a instituição encerrou suas atividades.

A partir de 1968 os alunos foram transferidos para as dependências do Grupo Escolar e o prédio ficou desocupado até 1973. Nessa época, as Irmãs de São José o alugaram para o Estado com o intuito de atender aos alunos da Escola Estadual Luiz Gelain, devido à falta de espaço. Os alunos estudaram no local até 1991. Com a emancipação de Nova Pádua, em 1992, e tendo a necessidade de instalação da prefeitura, as irmãs alugaram o prédio – que foi comprado pela prefeitura em 1996. Na edificação da Escola Sagrada Família foi instalada a prefeitura, que permanece até os dias atuais.

Artigo
O que e para quem preservar?
Gissely Lovatto Vailatti*

O tempo é o senhor de todas as coisas, mas cabe àqueles capazes de transformar o espaço em que vivem a grande responsabilidade de servirem como guardiões da memória. Todos, indiferentes a diversidade cultural existente, têm um grande compromisso consigo mesmo. Não existe nada que possa provar que a nossa geração é melhor do que as que nos antecederam.

O tempo é o senhor de todas as coisas, mas cabe àqueles capazes de transformar o espaço em que vivem a grande responsabilidade de servirem como guardiões da memória. Todos, indiferentes a diversidade cultural existente, têm um grande compromisso consigo mesmo. Não existe nada que possa provar que a nossa geração é melhor do que as que nos antecederam.

Principalmente nas décadas de 1970 e 1980, foram sendo demolidas casas e casarões, queimados documentos e fotografias, o que de alguma forma não representasse o poder do Século 20, provenientes de uma ideologia consumista e de abrangência mundial. Junto com esta mudança ideológica, foram-se muitos resquícios que ligavam as pessoas as suas origens, que as faziam diferentes de outras existentes em outros lugares.

Por isso, é importante preservar alguns resquícios do passado. Porque todo o poder econômico gerado nesta terra é fruto de muito trabalho, fé e determinação, aceitemos isso, ou não, isso faz parte da nossa história. Foi um esforço contínuo, geração após geração, o que deve ser motivo de orgulho e não de vergonha.

Preservar significa manter, conservar e dar significados, tornar útil. Podemos exemplificar com a questão dos imóveis. Existem inúmeras formas de manter características históricas e ao mesmo tempo usá-los de forma moderna e inteligente. Existem lugares em nosso país onde o próprio poder público incentiva que se preserve ao menos as fachadas, podendo construir por trás delas espaços modernos e arrojados. Existem lugares onde o poder público auxilia por meio da isenção parcial de impostos as construções modernas, feitas com características arquitetônicas específicas de uma época.

A preservação pode acontecer no todo ou em partes, condizendo com as condições estruturais, quando bem conservadas ou em estado de ruína. Sendo viável, e um imóvel de importância comum, sem a menor dúvida, recomendasse o restauro. Não sendo viável, recomendasse a conservação, a manutenção e a troca das partes danificadas ou que apresentam perigo de perda total. Com toda a tecnologia que dispomos é possível fazer as mais variadas formas nos mesmos moldes que as originais. É possível trocar a fiação de luz, o encanamento, controlar as infiltrações, trocar a cobertura ou forro, pintar. Sem com isso descaracterizar ou demolir um lugar de memória. O que deve ser considerado não é o valor a ser investido, mas o valor que um determinado imóvel tem para população.

Muitas vezes faltam espaços para instalação dos arquivos históricos, públicos e/ou particulares, de museus, memoriais, de salas de leitura e pesquisa, de comunicação via internet, de salas para cursos, palestras, apresentações, de espaços para atividades culturais, educacionais ou sociais, locais para informações turísticas, entre tantas outras coisas. Por isso, quando existe a disposição de um imóvel que é referência para a história de um lugar, é preciso avaliar coletivamente.

É preciso organizar um conselho para os bens culturais, formá-lo com profissionais capacitados e atuantes em diversas áreas do conhecimento. É preciso mais que ouvir, porque às vezes, aos olhos e de alguns ou da maioria, não faz sentido preservar um determinado espaço, por mais significativo que seja para a história de um determinado lugar. É preciso discutir, elencar os prós e os contras, buscar informações sobre os possíveis usos, dar significância, buscar auxílio financeiro para a conservação junto aos órgãos competentes e, quando possível, torná-los uma forma de investimento. O que não se pode é ficar indiferente.

* Professora de História, pesquisadora e escritora.


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