Quando a gente ama alguém de verdade / Esse amor não se esquece / O tempo passa, tudo passa / Mas no peito o amor permanece, já diz a canção Amor sem Limite do rei Roberto Carlos. Há 65 anos a música ainda não existia, mas o casamento do agricultor Faustino Bisinella, 86 anos, com Santina Maróstica Bisinella, 84 anos, estava apenas começando. Amanhã, dia 18, a família estará em festa para comemorar as bodas de ferro com uma missa que reafirma os laços de cumplicidade, companheirismo e amor do casal. Santina e Faustino são exemplos de uma vida a dois de muita paz, assim como a da irmã de Faustino, Cecília Bisinella Paviani, 91 anos, que no dia 11 comemorou 70 anos de união com o marido, João Paviani, 90 anos.
Qual será o segredo de casamentos duradouros como esses de Nova Pádua? Palavras como paciência, renúncia e compreensão são lembradas, mas não formam uma receita mágica. Talvez com trabalho, sempre presente, aliado à vontade de proporcionar uma vida melhor para a família, chegando ao sucesso juntos.
Trabalho e dedicação lembrados nos 70 anos
O dia 11 de maio foi muito especial para Cecília Bisinella Paviani, 91 anos, e João Paviani, 90 anos. Eles celebraram as bodas de vinho – 70 anos de uma vida compartilhada com amor, trabalho e muita determinação. Foi no dia 8 de maio de 1943 que os dois, perante a comunidade e Deus, assumiram uma trajetória juntos. Da união nasceram 11 filhos, 16 netos e nove bisnetos. A vida não foi fácil para o casal que lutou no trabalho e em momentos difíceis, mas que em simples toques de mão, demonstram que tudo valeu a pena.
Ainda jovem, por volta dos 17 anos, o casal teve a primeira conversa em um almoço festivo no Travessão Barra. O grupo de amigos partiu junto para casa e, no caminho, João pediu para acompanhar Cecília. “Pedi licença para conversar com ela, quando me disse: ‘Por que não?’ Acompanhei-a até o portão, onde conversamos e mostrei meu interesse em estar ao seu lado. Uma semana depois conheci sua família e começamos nosso namoro”, conta João, sorrindo. O toque nas mãos era proibido e aconteceu uma vez só antes do casamento. Após dois anos de namoro os jovens se casaram.
As dificuldades financeiras nos primeiros anos de casamento foram muitas. Enquanto Cecília trabalhava na colônia, plantava e colhia as diversas culturas e ainda cuidava dos filhos, João dava os primeiros passos para uma vida atuante perante a comunidade. Após servir no Exército, dedicou-se à Cooperativa de Nova Pádua. Juntos eles cresceram e durante 22 anos trabalharam como fabriqueiros da Paróquia Santo Antônio. “A ajuda pela comunidade aconteceu graças ao apoio que tive da Cecília”, valoriza João.
Durante todos esses anos, enquanto João saía para a cooperativa, Cecília tomava conta dos filhos e ainda preparava a colacion, o café da manhã ‘especial’. “Não tínhamos muito conforto, não tinha uma garrafa para manter o café quente, mas eu fazia de tudo pelo conforto do João. Não via a hora de chegar o almoço para trocarmos algumas palavras, até ele sair de novo para trabalhar”, lembra Cecília.

Com o passar dos anos a vida foi melhorando e o casal mudou-se para o Centro. Durante 30 anos João fez parte da direção da cooperativa. Foi também eleito vereador em 1965, participou do Esporte Clube Paduense e, com o irmão Raimundo Paviani, fundou o Hospital Nossa Senhora de Fátima de Flores da Cunha. Juntos, Cecília e João construíram uma vida pessoal, profissional e pública, que embora difícil no início, é feliz. “Nunca desistimos, por mais difícil que tenha sido”, valoriza o casal.
Juntos há 65 anos
Em 22 de maio de 1948 a família Bisinella uniu-se à família Maróstica com a união religiosa de Faustino e Santina. Neste sábado haverá uma missa e um almoço reunindo a família em Nova Pádua. “Começamos com a festa de 25 anos, 50, 60 e agora 65 anos. Não sei se vamos parar, quem sabe até os 80”, diverte-se Faustino. A união resultou em sete filhos, 14 netos, três bisnetos e muitas histórias para contar.

(Foto/Camila Baggio)
Aos 19 anos Santina disse ‘Sim’ para Faustino, aos 21 anos de idade, mas a história começou cedo, quatro anos antes, quando ela ia para a catequese. Faustino fez um pedido de namoro, mas ela era jovem e pediu para esperar um ano. Passado o período lá estava Faustino formalizando novamente suas intenções. Foram três anos de namoro. “Na época demorei a conhecer a família dele, mas não me importava se iria precisar trabalhar na colônia ou com a quantidade de dinheiro, mas me importava muito em encontrar alguém católico, que me acompanhasse nas missas. E ele sempre me leva até hoje”, lembra Santina.
Após o casamento e um período na casa da família Bisinella, o casal mudou-se para o Travessão Bonito, onde nasceram os sete filhos. Trabalharam juntos na agricultura, ocupação que a maioria dos filhos permanece. Vinte anos se passaram e o casal deixou a propriedade para um filho e hoje mora no Centro de Nova Pádua. Eles ajudam quando necessário – sempre juntos. “Temos a graça de chegar até aqui. Isso é o que importa. Durante mais de 60 anos ele fez parte da Banda Santa Cecília e sempre teve meu apoio. Uma das vezes eu estava grávida e rezei muito para que nosso filho nascesse antes dele ir, Nossa Senhora de Caravaggio ajudou e antes da viagem nosso filho nasceu. Passamos por muitas coisas”, relembra Santina.

Santina e Faustino: o causo do trator é imperdível.
(Fotos/Reprodução)
Os 65 anos juntos não foram somente de ‘flores’, mas ensinaram que diferenças são insignificantes perante o amor. “Passamos por muitas dificuldades. O trabalho era difícil, tudo era longe, mas isso não mudou nosso companheirismo. Sempre tivemos o apoio um do outro. Foram lutas, mas sempre vencendo”, valoriza Faustino. O bom humor na troca de olhares e as histórias compartilhadas demonstram que o passar dos anos não foi tempo que passou, mas tempo aproveitado. “Em 65 anos acontece de tudo. As briguinhas, ela fala, eu falo. E depois fica tudo bem”, garante o agricultor.
Para os casais jovens Santina passa uma dica: pensar no outro é fundamental. “As pessoas devem conversar mais, uma vez não era tão fácil esse contato, mas hoje os casais devem conversar mais e ter mais respeito um com o outro. A falta de paciência com o companheiro e com a família acaba com muitas uniões”, acredita ela.
Muito bom humor
Além do amor, a união de Santina e Faustino é repleta de bom humor. Uma história marcante – e engraçada – ocorreu quando Faustino ‘perdeu a esposa’ voltando de um casamento. “Estávamos voltando do jantar, o Faustino dirigindo o trator e eu sentada em uma cadeira em cima da carroceria. Em um determinado momento a plataforma quebrou e eu caí na valeta da estrada. Ele não viu e foi para casa”, conta Santina. “Quando cheguei, vi que ela não estava mais lá. Com o barulho do trator não ouvi nada e então mandei nosso filho encontrá-la. Perdi a mulher”, conta Faustino, aos risos. A história é apenas uma das tantas que o casal coleciona. Sempre com amor e bom humor. “Vamos sempre juntos para onde quer que seja. Durante toda a vida trabalhamos, de manhã à noite, e assim sempre será. Se fosse possível voltar no tempo e fazer tudo de novo, certamente voltaria”, valoriza Santina, que completou 84 anos ontem, dia 16.

