“A língua é uma herança em transformação”. Foi sob essa égide que pautou-se o Bate-Papo no Villa da última quarta-feira, dia 8. Durante a noite, cerca de 50 pessoas assistiram ao documentário Eco das Montanhas – A Viagem das Palavras e debateram a preservação dos dialetos trazidos pelos imigrantes. Dividido em dois atos, o encontro contou com a presença do diretor e roteirista do documentário André Constantin e dos professores da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Cleodes Maria Piazza Julio Ribeiro e José Clemente Pozenato. O produtor do filme, Fernando Roveda, que também participaria do encontro, não pode comparecer por motivos de saúde.
Na primeira parte da noite, os participantes assistiram ao documentário Eco das Montanhas, que aborda o dialeto cimbro. Durante 45 minutos, o público conheceu as memórias, histórias e reminiscências de um idioma antigo, quase esquecido pelo tempo, a não ser nas lembranças de descendentes de imigrantes italianos. Na história, o dialeto serve como ponto de ligação e identidade entre dois personagens: um jovem morador de Verona na Itália e uma senhora de 96 moradora de Antônio Prado, no Brasil. “É um retrato das relações entre culturas e personagens separados pelo tempo, pela história e pelo mar”, disse após a exibição o diretor do documentário, André Constantin. Um fato curioso do filme, gravado entre os anos de 2006 a 2008, no Brasil e na Itália, é que a personagem principal Rosa Costa Martello faleceu durante os trabalhos de finalização, em fevereiro deste ano. O velório da personagem acabou sendo incorporado ao documentário e criou uma metáfora do próprio idioma que hoje está extinto. “Achamos interessante por que ela era um resquício da memória e da forma de falar essa língua”, frisou Constantin.
Talian
No segundo momento, a professora da UCS Cleodes Maria Piazza Julio Ribeiro contou como conheceu o cimbro. “Nunca tinha ouvido falar e por meio da gravação de uns discos ouvi uma música em um idioma que ninguém sabia traduzir. Passados 20 anos surgiu essa oportunidade de saber a tradução daquela música”, disse Cleodes, referindo-se ao documentário. A professora também abordou a questão da preservação dos dialetos. “Para preservar devemos conhece-los. Cada um dos imigrantes das diversas províncias tinha um dialeto próprio. Mas, aqui instalados, os grupos majoritários, que eram os vênetos, colocaram o seu dialeto em prática e este acabou predominando. E os demais dialetos acabaram sendo esquecidos ou desaparecendo, como o cimbro”, destacou ela, que no projeto piloto da UCS Inventário da Diversidade Cultural da Imigração Italiana trabalhará como se formou a nossa cozinha.
Após, o professor José Clemente Pozenato explicou sobre o projeto Inventário da Diversidade Cultural da Imiagração Italiana, que parte de uma política da Unesco sobre preservação da diversidade linguística. “Durante a Segunda Guerra foram proibidas que se falassem outras línguas. Era o período do nacionalismo e quem não falasse a língua nacional era discriminado. Por isso, perdeu-se muito”, explanou. Conforme o professor, as duas línguas mais antigas oriundas da imigração são o alemão e o italiano. “Aqui predominou o Vêneto que se misturou com o português. Não é uma língua italiana, mas foi criada aqui no Brasil. De todas as línguas da imigração, o Talian teve a sorte de ter sido registrado desde o início da sua história. E é socialmente e ideologicamente importante que o país passe a preservar e inventariar esse patrimônio imaterial brasileiro”, afirmou Pozenato.
O Bate-Papo no Villa é realizado periodicamente pelo Hotel Villa Borghese, pelo jornal O Florense, pela G4 e pela Apac – Associação dos Produtores de Arte e Cultura e tem apoio da Apromontes. O evento tem por objetivo debater algum assunto e proporcionar momentos de cultura e informação aos florenses.

