Sete horas da tarde. O sol ainda brilha, mas a praia está quase vazia. Os cinco quilômetros de areia que cobrem a praia de Iztuzu de uma ponta à outra logo estarão envoltos na escuridão suave das noites de céu estrelado e lua cheia. Longe das luzes e barulho de bares e hotéis, dezenas de tartarugas chegam silenciosas à Iztuzu, uma das poucas áreas na costa da Turquia protegida do turismo depredatório. Além dos guardas ambientais da patrulha 24 horas, apenas os animais que habitam a área podem presenciar o momento extraordinário da desova.
Situada na costa mediterrânea, Iztuzu é também chamada de Praia das Tartarugas, e parte de Köyceğiz-Dalyan, a primeira área de preservação ambiental instituída na Turquia no início dos anos 1990. A área não envolve apenas a praia de Iztuzu, mas as regiões montanhosas de vegetação rasteira, as florestas de Pinus e Liquidambar, as terras alagadas do estuário do Rio Dalyan e as redondezas do Lago de Köyceğiz, um dos maiores do país.
Na verdade, o destino de Iztuzu poderia ter sido o mesmo de Fethiye, e muitas outras praias turcas onde acontece a desova. Não resistindo à cobiça dos empresários hoteleiros, a maioria delas se converteu em centros de turismo de massa nos anos 1990. Porém, graças aos esforços de um grupo de moradores, em 1988 a construção de um complexo turístico em Iztuzu, que abrigaria mais de 1.500 pessoas, foi embargada. Com a pressão de grupos internacionais e o projeto de construção cancelado, o governo turco se viu obrigado a criar – pela primeira vez na história do país – áreas de proteção ambiental.
Infelizmente, hoje a Turquia ainda engatinha em termos de preservação ambiental. Mas a praia de Iztuzu é um raro exemplo de história com final feliz, entre inúmeros casos em que o lucro da exploração turística é mais importante que a conservação do ambiente. Como na vizinha Fethiye, por exemplo. Apesar de estar incluída numa área de proteção ambiental – e dos protestos constantes de grupos ambientais – a praia fica aberta à noite, completamente a mercê da exploração turística, com bares, quadras de futebol de areia, iates, jet-skis e poluição de todos os tipos.
O reflexo da lua e estrelas no mar é que guia os filhotes na direção certa. A iluminação de hotéis, bares e restaurantes é uma das maiores ameaças aos filhotes, que acabam na direção oposta, atraídos pelas luzes artificiais. Já em Iztuzu, o acesso ao público acontece apenas durante o dia. Até o uso de guarda-sóis, cadeiras e esteiras é limitado a certas áreas. O professor Yakup Kaska, da Universidade de Pamukkale, esteve envolvido com a preservação de Iztuzu desde o início, quando ainda era estudante e acampava na praia para garantir a proteção das tartarugas. Kaska explica que os ninhos de tartaruga são encontrados entre 10 e 45 metros do mar, o que justifica a faixa de isolamento no meio da praia.
A importância da área de preservação ambiental de Köyceğiz-Dalyan não está apenas relacionada às espécies animais. As florestas que circundam as terras alagadiças do delta do Rio Dalyan têm árvores como o Liquidambar, cujo valor econômico e cultural remonta aos tempos bíblicos. Hoje, a seiva ainda é extraída do tronco do Liquidambar da mesma forma que o látex é extraído da seringueira para a produção de perfume e óleos essenciais. No entanto, o desmatamento para a construção de hidrelétricas e pomares tem sido a maior ameaça não só à tradição de coletar a resina do Liquidambar, mas à própria existência da espécie.
Além da beleza típica da costa mediterrânea e de sua importância ambiental, a área também agrada aos fascinados por história e arquitetura antigas. A poucos quilômetros da praia de Iztuzu, o topo de uma colina rochosa abrigou o centro de Caunos, há três mil anos. Mencionada até em livros do Antigo Testamento, a cidade era parte da antiga civilização Caria, que ocupava o sudoeste da atual Turquia. Relatos históricos confirmam que a extração da resina de Liquidambar acontecia desde aquela época na região. Hoje, as ruínas da cidade incluem um anfiteatro, templos, ruas, além das impressionantes tumbas reais da civilização Licia, esculpidas na rocha, às margens do rio Dalyan. Apesar das escavações terem começado em 1967, a maior parte das ruínas ainda não foi escavada, por falta de recursos financeiros.
Saiba mais
– A praia de Iztuzu está localizada na costa mediterrânea da Turquia. Dalyan é a vila mais próxima. Cidadãos brasileiros não necessitam de visto para visitar a Turquia por 90 dias.
– A Turquia é um país rico em história, com lindas paisagens e uma cultura única. É o mais ocidentalizado dentre todos os países que formam o mundo islâmico. Istambul, sua porta de entrada, é a única cidade do mundo construída entre dois continentes: Ásia e Europa. Com suas montanhas, florestas, lagos, rios, praias, flora e fauna, a Turquia é um verdadeiro paraíso de belezas naturais. Os cenários são lindos e variam da região do Mar Negro até a costa mediterrânea.
– A época ideal para visitar a Turquia é durante a primavera (abril/junho) e o outono (setembro/novembro). Julho e agosto são os meses mais quentes e úmidos. O inverno é rigoroso, e muitos hotéis fecham de meados de outubro até o fim de março.

