Há festivais que nascem grandes. Outros nascem potentes e crescem porque alguém acreditou que a poesia podia ser mais do que um conteúdo escolar. E foi exatamente essa crença que deu início, em 1997, ao Festival da Poesia da Escola São Rafael. A idealizadora foi a professora Zanete Oldra, que foi homenageada na semana passada, na 28ª edição do Festival, por ter plantado esta semente que atravessa gerações.
— Eu trabalhava o ano inteiro com poetas clássicos e, no fim do ano, avaliava a declamação e a oratória dos alunos. Naquele primeiro ano, os meninos não queriam declamar de jeito nenhum. Eu insisti: cada um escolheria um poema e apresentaria para a turma — recorda.
A resistência inicial rapidamente se transformou em surpresa e foi esse espanto positivo que acendeu a fagulha do festival.
— Quando começaram a declamar, fiquei espantada. Pensei: “Meu Deus, eles estão me surpreendendo”. Na hora, chamei a diretora para assistir. As apresentações eram tão bonitas que sugeri mostrar para a escola inteira — conta a professora Zanete.
Foi deste gesto simples e movido pela sensibilidade de uma educadora que surgiu um espaço de expressão que, ano após ano, moldou trajetórias e fortaleceu vínculos entre alunos, professores e a comunidade florense.
“A arte transforma”
Com o tempo, o festival consolidou sua estrutura e incorporou novas linguagens, oficinas, jurados e um Salão Poético que dialoga constantemente com artistas brasileiros. A cada edição, uma nova geração redescobre a força da palavra, explorando diferentes formas de expressão.
O que começou como um exercício tímido de declamação se transformou em um verdadeiro laboratório criativo, que envolve música, teatro, artes visuais e performance.
— No começo, trabalhávamos apenas com poemas clássicos dos autores. Eu que indicava qual poema cada aluno deveria declamar. Hoje, eles criam partes autorais, misturam referências, reinventam e juntam versos de diferentes autores. Ver essa diversidade e criatividade é muito bonito — pontua a professora Zanete.
O festival também se tornou um espaço de descoberta pessoal. Muitos encontraram ali coragem para falar em público, sensibilidade para interpretar e motivação para ler mais.
— Muitos alunos perderam a timidez nas apresentações. Encontravam sabor na leitura, na interpretação, no conhecimento. Alguns seguiram escrevendo, outros seguiram declamando. A arte transforma — reflete.
Uma homenagem que ecoa
A homenagem recebida por Zanete nesta 28ª edição emocionou a comunidade escolar. A educadora, que sempre valorizou o coletivo, fez questão de dividir o reconhecimento.
— Fiquei cheia de gratidão. Mas quis dividir essa homenagem com todos os professores que deram continuidade ao festival. Se ele chegou até aqui, é porque muitos acreditaram e mantiveram o projeto vivo — reconhece.
O impacto do festival ultrapassa o palco e a escola: ele cria repertório, aproxima gerações e desperta sensações que acompanham os estudantes por toda a vida.
— A maior alegria é quando alguém diz que começou a gostar de poesia por causa das aulas, que encontrou coragem para subir no palco, que se descobriu. A arte desperta coisas que às vezes nem imaginamos — comenta.
Por isso, ao olhar para o futuro, Zanete mantém o mesmo desejo que a moveu no início: que a poesia siga sendo ponte e caminho.
— Espero que o festival continue por muitos anos. Ele faz o aluno gostar da escola, sentir prazer em aprender. A escola muda quando o estudante se encontra e a poesia ajuda muito nisso — conclui.
Assim, o Festival da Poesia segue crescendo, ano após ano, renovado pelos que ensinam e pelos que aprendem. Sustentado pelo trabalho de muitos, mas sempre honrando o gesto inaugural de uma professora que viu, naquele primeiro “declama para mim”, o nascimento de um dos capítulos mais belos da história cultural da comunidade escolar florense.

