Chegou a eleição das mulheres?
Vereadoras históricas aconselham pré-candidatas para ampliar a representatividade feminina na política florense
Paola Castro - redacao3@jornaloflorense.com.br
A presença feminina na política de Flores da Cunha ainda é uma batalha em curso. Em um cenário marcado pela escassez, apenas quatro mulheres foram eleitas vereadoras e oito ocuparam o plenário como suplentes. Um total de 12 empossadas na centenária história florense. Um número pouco maior que o total de eleitos em uma legislatura: são nove cadeiras no Legislativo a cada quatro anos.
A ex-vereadora Renata Zorgi Lusa (PMDB), que atuou por duas décadas na Câmara, enfatiza a necessidade do olhar feminino dentro da atuação no Legislativo e dos debates de projetos.
— Independente do partido, acredito que as mulheres fazem a diferença e é importante a participação delas (na política). Mas, às vezes, ao invés de se unirem e se engajarem, as próprias mulheres não se apoiam entre si. Eu percebo que essa (união) faz falta — lamenta a ex-parlamentar.
A ex-vereadora Claudete Gaio Conte (PDT) salienta que a falta de apoio entre as mulheres não é a única barreira para as candidatas.
— O grande desafio ainda é o convencimento da população de que a mulher também tem espaço na política. Que a mulher também nasceu para ser uma boa política e pode fazer a diferença. Na Câmara de Vereadores ela é importantíssima, porque traz outro lado no momento das decisões — opina ao afirmar que olhares de diferentes gêneros podem se complementar e desenvolver uma solução melhor.
Ao ser eleita para a Câmara, Renata considera que sua forma de agir com cautela e calma colaborou para que a representatividade feminina aumentasse pouco a pouco no Legislativo.
— Desde que entrei (em 1997) sempre teve pelo menos uma ou duas vozes femininas (considerando as suplentes) e isso foi importante. O desafio é justamente a gente procurar se encaixar em um espaço que é muito masculino e fazer a voz feminina ser ouvida também.
Na última eleição, apenas a vereadora Silvana de Carli (Progressistas) foi eleita. Contudo, três suplentes tiveram a oportunidade de ocupar o plenário ao longo deste mandato, sendo a mais recente Amália Suss (PDT), que supre a licença do vereador Ângelo Boscari Júnior até 30 de julho. Ou seja, quatro mulheres tiveram voz na Câmara nos últimos três anos — um terço do total.
— (A representatividade feminina) é sempre muito tímida em Flores da Cunha, até porque não há tantas candidatas. Mas, acredito que nesta eleição teremos mais mulheres sendo eleitas. Tenho essa impressão e espero estar certa — diz a convicta Renata.
Escolhida com 436 votos em 2020, Silvana aponta que a falta de candidatas também acontece em razão dos partidos que não formarem lideranças e não prepararem mulheres.
— Dificilmente algum partido irá colocar mais mulheres candidatas do que a cota mínima. Entre o universo de possibilidades de escolha do eleitor, sempre haverá menos mulheres participando.
Para Claudete, o espaço na política deve ser conquistado.
— Acho que todo momento é propício para que as mulheres se coloquem à disposição. A política não é algo que você impõe. A vontade de participar, de estar presente e de contribuir tem que estar dentro de você. Então essas (mulheres) que têm o desejo, devem se colocar à disposição. O espaço é conquistado, a gente não disputa com ninguém.
Cota de gênero
A legislação brasileira prevê que os partidos e coligações respeitem o percentual mínimo de 30% de candidaturas de cada sexo. Para poder viabilizar o máximo de 10 candidatos a vereador, portanto, cada partido precisará ter o mínimo de três homens e três mulheres.
Como é interessante ter mais candidatos angariando votos, os partidos têm se esforçado para trazer mais mulheres para a política, ainda que sem o devido preparo ou estratégia para realmente eleger estas representantes.
A cada eleição, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem ampliado o regramento contra candidaturas laranjas para burlar a cota de gênero. A penalização para esta fraude é a cassação de todos os candidatos eleitos vinculados aos partidos que fraudaram a cota.
Dicas para as mulheres pré-candidatas
"Sejam vocês mesmas e tenham muito amor pelo que querem fazer. A gente tem que se dedicar com amor pela causa. Venham com vontade de realmente contribuir. E queiram olhar para comunidade como um todo para fazer a diferença no nosso município. Nós precisamos de mulheres, cada vez mais".
Renata Zorgi Lusa (MDB)
"Sejam gentis com as pessoas e tenham coragem, porque esse mundo ainda é muito masculinizado e machista. Sejam fortes. Como vereadora você precisa discutir, estar à frente e fazer valer a tua opinião. Tenha posição e defenda as suas ideias, obviamente que embasadas. Conquiste o seu espaço, porque capacidade, com certeza, todas as mulheres têm".
Claudete Gaio Conte (PDT)
"Tem que gostar de pessoas, estar disposta a ouvir as demandas da comunidade, se colocar à disposição para levar adiante os assuntos e buscar a solução deles. Lá dentro, você vai aprender o que é o Legislativo e como funciona. Essa questão de precisar saber antes não é uma preocupação. Depois se busca o conhecimento e se aperfeiçoa dentro da Câmara de Vereadores. Claro que se quiser fazer cursos antes, sempre é bem-vinda".
Silvana De Carli (Progressistas)
Mudança tem que vir dos partidos e das próprias mulheres
Partiu da atual vereadora Silvana a criação da Galeria das Vereadoras, quadro apresentado no acesso ao plenário, iniciativa para que as mulheres possam se ver e se sentir mais representadas na Casa do Povo. Outra conquista deste mandato foi a implementação de uma Procuradoria da Mulher no Legislativo.
— Enquanto vereadora, nós podemos trazer demandas da comunidade e em especial das mulheres, porque, às vezes, determinados assuntos os homens não vão levar para dentro da Câmara de Vereadores e, consequentemente, para o Legislativo. Temos esse olhar para algumas pautas que são necessárias. É preciso que as mulheres sejam representadas — afirma.
Silvana também reforça que é necessário criar uma estrutura de apoio dentro dos partidos. A parlamentar compara com o município vizinho de São Marcos, que elegeu quatro mulheres entre os nove vereadores da atual legislatura.
— A representatividade feminina que nós temos é muito pequena. Os partidos têm que acreditar no potencial da mulher. Hoje nós vemos em Flores da Cunha muitas entidades e empresas que são conduzidas por mulheres e porque elas não vêm para a política? É um espaço que também é delas e elas tem capacidade e habilidade para estar ali.
As vereadoras na história de Flores da Cunha
Eleitas:
Dolores Maria Soldatelli (Arena), em 1968
Renata Zorgi Lusa (PMDB), em cinco mandatos consecutivos entre 1997 e 2016
Claudete Gaio Conte (PDT), em 2005, 2008 e 2017
Silvana De Carli (Progressistas), em 2020
Suplentes:
Odilla Anna Oldra (PSD), em 1961
Sonia Beatriz Montanari (PDT), em 1992
Graciosa Oliva Caldart Venturini (PP), em 1997, 1998 e 1999
Mari Siqueira da Silva (PDT), em 2000
Bernardina Sandi (PDT), em 2001
Angela Maria Machado Cardoso (Republicanos), em 2022
Maria De Fatima Krüger Finger (Progressistas), em 2022
Amália Ides Suss (PDT), em 2024
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