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Prevenir a parreira, para não remediar depois

Fiscais agropecuários receberam, na Embrapa Uva e Vinho, em Bento, treinamento para evitar o ingresso de moléstias no Estado

O cancro-bacteriano da videira é uma doença que causa prejuízos à viticultura no Vale do Submédio São Francisco. Já a traça-dos-cachos da videira, a lagarta Lobesia botrana (Lepidoptera: Tortricidae), é a principal praga da videira na Europa. O que elas têm em comum é o fato de não terem sido registradas no Rio Grande do Sul. Visando manter tal panorama, a Embrapa Uva e Vinho, de Bento Gonçalves, ofereceu para fiscais agropecuários estaduais e federais atuantes no RS, um treinamento técnico preventivo. “Repassamos à fiscalização informações sobre as duas moléstias (descrição e características biológicas, sintomas apresentados pelas mudas e uvas atacadas, etc.), para que se evite a entrada delas no Estado”, aponta o chefe-geral da Embrapa, pesquisador Lucas Garrido.

No evento, realizado no final de novembro do ano passado, Garrido falou sobre o cancro-bacteriano, cabendo a abordagem sobre a traça-do-cacho ao pesquisador Marcos Botton. Abaixo, confira resumos sobre as moléstias escritos pelos pesquisadores.

Cancro-bacteriano
“O cancro-bacteriano da videira é uma doença de difícil controle, principalmente em regiões ou em épocas do ano com maior concentração de chuvas e alta umidade. A doença é causada por uma bactéria, Xanthomonas campestris pv. viticola, que sobrevive nas plantas infectadas ou no solo.

Apareceu no Brasil no final da década de 1990, na região do Vale São Francisco, em vinhedos de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), provavelmente devido à introdução de material vegetativo infectado trazido do Exterior. Esta bactéria é considerada uma praga quarentenária A2, ou seja, restrita apenas a uma região do Brasil.

Nesse sentido, o trânsito de qualquer material vegetativo de videira da região de ocorrência desta doença para outras regiões é proibido por lei. Esta medida visa evitar a disseminação da bactéria para outras regiões produtoras de uvas, ocasionando grandes prejuízos, chegando a 100%. É extremamente importante que nenhum produtor ou técnico traga para o Rio Grande do Sul qualquer estaca, gema ou muda de videira proveniente da região de Petrolina ou Juazeiro, bem como qualquer material vegetativo, de outras regiões do Brasil sem um Certificado de Fiscalização Oficial (CFO).

A bactéria não se dissemina a longas distâncias por correntes aéreas, mas, sim, por materiais vegetativos contaminados que, muitas vezes, não estão com sintomas visíveis da doença. Essa doença se caracteriza pelo desenvolvimento de manchas aquosas nas folhas, causando desfolhas; cancros nos ramos, raquis, pecíolos e lesões nas bagas. Não há produtos com boa eficiência para o controle.

O treinamento oferecido pela Embrapa Uva e Vinho aos fiscais federais e estaduais visou à conscientização sobre a importância do grande potencial destrutivo desta doença, podendo em curto espaço de tempo colocar em risco toda a viticultura do Rio Grande do Sul.” Por Lucas Garrido, chefe-geral e pesquisador da Embrapa Uva e Vinho.

Traça-dos-cachos
A traça-dos-cachos da videira Lobesia botrana (Lepidoptera: Tortricidae) é a principal praga da videira na Europa. Os adultos da espécie são pequenas mariposas que colocam ovos nas flores e nos frutos. As lagartas originárias destes ovos danificam as inflorescências da videira e os cachos. Devido ao ataque da praga, as bagas danificadas extravasam o suco, sobre o qual proliferam doenças, com destaque para a Botrytis. Para o controle do inseto, os produtores necessitam realizar de três a quatro tratamentos com inseticidas por safra.

A Lobesia botrana não está presente nos vinhedos brasileiros, por isso é considerada uma praga quarentenária. No entanto, recentemente, em 2008, a mesma foi detectada no Chile; em 2009, na Califórnia (EUA); em 2010, na Argentina. Isso indica que a praga está se dispersando pelos diferentes países vitícolas localizados fora do continente europeu.

O maior risco é a introdução da espécie principalmente com a uva de mesa importada da Argentina e do Chile. Por essa razão, a fiscalização de cargas na fronteira será intensificada, com o objetivo de evitar a introdução da espécie no país.” Por Marcos Botton, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho.


Lagarta de ‘Lobesia’. - Andrea Lucchi / Divulgação
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