Na manhã do dia 5 de janeiro, depois de iniciar a entrevista relatando problemas enfrentados principalmente na área agrícola, o prefeito de Nova Pádua, Itamar Bernardi (PMDB), o Kiko, mudou a fisionomia e anunciou a instalação de uma nova vinícola no município. O empreendimento será erguido no Travessão Paredes, em área a ser comprada e doada pela prefeitura à empresa. Segundo Kiko, a negociação foi iniciada em julho do ano passado e está praticamente acertada. No entanto, por enquanto, ele não revela o nome.
Além de lamentar as perdas na agricultura, o chefe do Executivo disse que pretende contratar um médico para solucionar o problema da falta de atendimento no turno da tarde na Unidade Sanitária Dom Henrique Gelain. Outro projeto prevê a construção da nova sede da prefeitura. As chuvas intensas dos últimos dias revelaram a frágil estrutura do prédio. No início da semana baldes foram improvisados, inclusive no gabinete de Kiko, para conter a água das goteiras.
As obras do Centro Administrativo iniciam neste ano e devem estar concluídas em 2011. O projeto inicial previa uma construção conjunta da prefeitura e da Câmara de Vereadores, mas o plano foi alterado para contemplar apenas o Executivo. Confira a entrevista em que o prefeito paduense avalia o seu primeiro ano de administração.
O Florense: Que avaliação geral o senhor faz do seu primeiro ano como prefeito de Nova Pádua?
Itamar Bernardi:
Dois mil e nove foi um ano marcado pela insegurança na agricultura devido ao excesso de chuva e a sequência de temporais. Quando falamos em manter e melhorar as condições da agricultura se parte do princípio de que é preciso conscientizar e incentivar o agricultor a plantar, e que dará certo. Sem falar na logística, que inclui as estradas de produção e os acessos principais. Na parte pública, este ano, foi assim: arrumamos, veio a chuvarada. Arrumamos de novo, e nova chuvarada. O ano foi praticamente de manutenção. E isso demanda máquinas, cascalho e combustível. Sem dúvida foi um ano atípico. Começamos dessa forma, e a situação se agravou nos últimos quatro meses. Esse foi o ponto negativo de 2009, principalmente porque Nova Pádua é um município essencialmente agrícola. Mesmo assim, com dificuldades, conseguimos desdobrar os problemas e subsidiar máquinas para os agricultores encaminharem suas produções. O início da nossa administração também foi marcado por muita negociação. Em janeiro os cabos de telefonia da Brasil Telecom (hoje Oi) no Travessão Mützel foram furtados. Foi o primeiro pepino a ser resolvido. E não foi fácil descascá-lo, pois a empresa queria cobrar os cabos dos moradores. Era um preço muito alto. Depois de muitas tratativas a empresa repôs os equipamentos. A segunda ação foi fazer caixa, pois estávamos com os cofres vazios. Resguardamos algumas coisas.
O Florense: Em janeiro o senhor disse que o caixa estava “raspado”. Na metade do ano, o cofre não estava mais vazio. E hoje?
Bernardi: Sim, começamos com o caixa praticamente zerado. Mas na medida em que as receitas foram entrando e fomos gastando menos, a reserva aumentou. Isso foi uma consequência da redução de custos com combustíveis, uso de carros e telefones. Mantivemos ações essenciais, como o subsídio de máquinas para o interior. Inclusive cortamos a contratação de pessoas – farmacêutico e dentista foram chamados somente no segundo semestre. O próximo passo foi legalizar as férias acumuladas de alguns servidores, que tinham até quatro meses para gozar. E encontramos um caso curioso: entre licenças-prêmio e férias, um funcionário público tinha oito meses para tirar. Era muita coisa. Tivemos de fazer um planejamento em cima disso. Antes, enviamos uma lei à Câmara de Vereadores para legalizar a situação. O regimento interno previa que, caso o servidor não solicitasse as férias, elas seriam ‘perdidas’. Claro que isso não iria acontecer, mas provavelmente seria preciso entrar na Justiça para reaver o direito. Também investimos na terceirização de máquinas pesadas para o setor agrícola, com o objetivo de estimular o agricultor a plantar. Isso porque desde que o município foi emancipado, em 1993, 2009 foi o ano que Nova Pádua teve o menor retorno de ICMS. Nesse contexto, atacamos a agricultura e proporcionamos recursos para estimular a produção. Um investimento forte nesse sentido foi a alteração da lei do Programa de Incentivo ao Desenvolvimento Avícola (Pida), quando alteramos os valores concedidos aos agricultores interessados em construir ou reformar aviários. Isso tudo foi feito com o foco no aumento da receita. Claro que esse retorno não virá este ano, mas somente em 2011 e 2012. Temos de iniciar esse processo. Outra ação na agricultura foi o aumento da ajuda para o frete do calcário. Na educação, aumentamos as linhas do transporte escolar e acrescentamos uma para o ensino fundamental. Colocamos à disposição dos universitários dois ônibus (antes era um) e aumentamos o subsídio para os alunos filhos de pais paduenses que estão fora da cidade, bem como ampliamos de 10% para 20% o custeio do curso de Agronomia. Dessa forma, o profissional trabalhará a terra aqui em Nova Pádua.
O Florense: No final de 2009, a área da saúde recebeu críticas, principalmente pela falta de médicos no posto de saúde. O problema permanece?
Bernardi: Faço questão de registrar uma frustração: terminamos o ano sem um clínico-geral no turno da tarde na unidade sanitária. Recebemos reclamações no final do ano, mas esbarramos na questão do salário. No final de 2008 a médica que atuava se aposentou. Fizemos uma contratação emergencial no início do ano. Depois, fizemos concurso público – houve apenas um inscrito. Ele passou, foi nomeado, trabalhou na unidade sanitária por três meses e pediu exoneração porque alegou ter conseguido um emprego melhor. Desde novembro não temos um médico na parte da tarde. Tentamos vários contatos, os candidatos vêm aqui, mas desistem quando são informados do salário, que é de cerca de R$ 1,8 mil por 20 horas (cerca de R$ 1,5 mil com descontos). Esse é um grande problema que enfrentamos. Espero contratar até o final de janeiro um profissional de forma emergencial e, em 2011, fazer um novo concurso. Com isso, os atendimentos são concentrados na parte da manhã e os casos urgentes da tarde são enviados para Flores da Cunha. Em contrapartida, melhoramos o atendimento com novas especialidades, equipamos a unidade com ar condicionado para a sala de medicamentos, disponibilizamos o plantão 24 horas para o serviço de ambulância e adquirimos um carro para a Vigilância Sanitária.
O Florense: Que outros investimentos foram encaminhados?
Bernardi: No início do segundo semestre começamos a investir, depois das ações iniciais. Repassamos para as entidades de Nova Pádua mais de R$ 150 mil; pintamos a estrada entre os travessões Paredes e Bonito e a do Parque dos Peixes, obras que não foram concluídas na gestão passada; deslocamos a rede elétrica no Travessão Divisa em 3,2 quilômetros para agora encaminharmos o asfaltamento; e iniciamos a troca da tubulação, na sede do município, do esgoto pluvial, mudança necessária porque os atuais tubos não suportam mais a vazão da água. Esta obra será realizada ao longo dos anos em praticamente todas as ruas da sede. Dessa forma mostramos que a administração está preocupada em fazer obras; devagar, mas está fazendo. Pensamos em deixar o caixa consideravelmente alto em 2009 para realizar em 2010 obras maiores.
“Pensamos em deixar o caixa alto em 2009 para realizar obras maiores em 2010”
O Florense: E quais seriam estas obras?
Bernardi: Como nosso caixa está razoavelmente bem, e com a expectativa de que este ano seja melhor em termos de receita do que 2009, digo que até abril asfaltaremos 3,2 quilômetros no Travessão Divisa. Inclusive, se conseguirmos a liberação do Daer (Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem), faremos o trevo de acesso à localidade e ao loteamento Baixo. Só precisamos da liberação, porque nos comprometemos a fazer a obra, temos o projeto. O pedido está no Daer desde abril de 2009 – a previsão é de que até março receberemos uma resposta positiva. Vamos calçar três ruas na área central: a Dom Júlio Scardovelli, a Ângelo Pilatti e o acesso principal do loteamento Baixo. Vamos iniciar a construção do novo Centro Administrativo. A primeira parte será em 2010 e a conclusão em 2011. O aporte inicial será de R$ 500 mil. E continuaremos com a troca da tubulação pluvial. Além disso, com a aprovação da Câmara do projeto do Provias, vamos adquirir uma escavadeira hidráulica e uma retroescavadeira, que serão usadas na agricultura. Esta licitação já foi feita. Também vamos disponibilizar aos alunos do município transporte vespertino até Flores da Cunha. Como em 2011 teremos a Feprocol, em 2010 faremos um trabalho intenso de divulgação bem como de escolha da rainha e princesas. E tenho uma novidade econômica para 2010.
O Florense: Em qual setor? Do que se trata?
Bernardi: A grande negociação de 2009 envolve a instalação de uma empresa. Uma nova vinícola irá se instalar no município. O negócio está praticamente acertado. Será um marco para a economia de Nova Pádua. Com isso, vamos aumentar a receita e viabilizar que os agricultores entreguem a matéria-prima, a uva, no município. Por exemplo, aqueles produtores que não tinham um cliente fixo com certeza poderão entregar a fruta nessa nova empresa. Ela terá capacidade de absorver essa produção. A vinícola vai gerar emprego e renda. A negociação se iniciou em julho de 2009 e, no máximo, até fevereiro enviarei à Câmara um projeto para aquisição de uma área de 6,1 hectares no Travessão Paredes, para posteriormente ser doada à empresa. A princípio, pagaremos entre R$ 85 mil a R$ 90 mil o hectare (total de R$ 518,5 mil a R$ 549 mil). Já amarramos o negócio com o proprietário do terreno. A área foi escolhida com indicação técnica, e tem pouca mata nativa. Para os paduenses será muito importante, pois a produção será absorvida. Em breve anunciaremos o nome do empreendimento.
O Florense: O senhor disse que a prefeitura comprará máquinas pesadas. Ou seja, o empréstimo junto ao Banco do Brasil, por meio do Programa de Intervenções Viárias (Provias) do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foi aprovado?
Bernardi: Sim, e ainda está causando polêmica. O Provias terá 54 meses para pagamento, com carência de seis meses. As parcelas irão adentrar o mandato do próximo prefeito. Mas esse custo terá sua dotação própria. Digo para os que gostam de complicar a vida e não querem ver o município crescer, e que são pessoas da administração passada, que foram eles quem iniciaram o processo de empréstimo do Provias. Tenho cópia do protocolo de intenções assinado por Ivo João Sonda (PP) em 12 de maio de 2008. Será que as duas administrações estão erradas ou são algumas cabeças que não entendem? Fizemos um levantamento de consertos e manutenção de máquinas e mostramos para toda a comunidade. Em 2008, a média de gasto mensal era de R$ 50 mil. Somente em dezembro do mesmo ano foram R$ 130 mil. As pessoas que disseram que o Provias não serve precisam estudar um pouquinho. A grande maioria das prefeituras faz isso.
O Florense: O processo permite às prefeituras pedir até R$ 1,25 milhão. Nova Pádua pegará o valor integral?
Bernardi: Não. Solicitei R$ 900 mil, mas a licitação fechou em R$ 727 mil, o valor exato para a compra das duas máquinas. Fizemos um leilão de carros e de uma retroescavadeira, e temos outros itens que devem ser leiloados. Não é viável gastar tanto com manutenção. A prefeitura não terá esse custo por pelo menos seis anos. Só temos de trabalhar. Foi isso que eu disse para os servidores. Além disso, a terceirização será reduzida. O empréstimo, na verdade, foi autorizado em 2009, mas como o dinheiro será liberado em 2010, enviamos novo projeto à Câmara para incluir o valor no Plano Plurianual (PPA) e na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Com a aprovação, remeteremos a documentação ao BNDES e, até o final de janeiro teremos o valor disponível. Calculo que em 15 de fevereiro as máquinas estarão em Nova Pádua.
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