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Opinião – Reflexão e análise da realidade em três palestras

Por Carlos Raimundo Paviani, diretor do Jornal O Florense

Três palestras prenderam a atenção e despertaram o interesse de mais de 2 mil pessoas nesta semana em Flores da Cunha. De forma inédita em nosso município, três eventos promovidos coincidentemente na mesma semana movimentaram o calendário de atividades culturais e sociais de nossa comunidade proporcionando informação, análise e reflexões da realidade. Um jornalista, um economista e um sociólogo relataram suas visões de mundo, as vezes contraditórias, e contaram suas experiências de vida, aplicando ao mundo que vivem três diferentes lentes.

Caco Barcelos, que antes de ser jornalista foi motorista de táxi em Porto Alegre, adquiriu notoriedade como repórter em mais de 40 anos de profissão, fenômeno raro nos dias atuais. Ele relatou quais os critérios utilizados para escolher os jovens profissionais para trabalhar no Profissão Repórter da Rede Globo, traçando um paralelo com o empreendedorismo. A escolha de seis profissionais entre mais de 26 mil candidatos não se dá apenas pelo currículo, pelas habilidades e competências apreendidas na vida acadêmica. É necessário ter ‘curiosidade’ e ‘coragem’ para buscar aquilo que outros profissionais nem sempre percebem. Falar pelo menos três línguas é hoje uma necessidade neste mundo em que as distâncias diminuíram e que a informação é facilmente disseminada de um continente a outro. Seus candidatos à repórter devem ter também ‘sensibilidade’ com as questões sociais.

Ricardo Amorim iniciou sua palestra com bom humor, dizendo-se um especialista em crises, por ser brasileiro e palmeirense. Mas afirmou que todas as crises passam. Mais do que isso, disse que, inevitavelmente, os ciclos de crescimento e decrescimento se alternam permanentemente. Ao falar da crise moral, política e econômica que o Brasil vive, disse que “nada dá errado para sempre”. Falou que para entender economia é muito simples: basta compreender a “lei da oferta e procura”. E deixou claro que a economia está fortemente baseada nas expectativas de quem movimenta os investimentos e o consumo, muitas vezes contaminados pelas notícias negativas.

Para Amorim, um dos principais índices que provam que o período de recessão vivido em 2015 e 2016 está no final é o índice de confiança da indústria que está novamente em crescimento. Prova de que vai voltar a haver investimentos que geram emprego, renda, consumo e tributos e assim a economia volta a crescer. O economista comunicador também defendeu a tese de que a crise econômica gera ou amplia a instabilidade política provocando rupturas e até queda de governos. Foi assim da depressão pós 1929, quando teve início o Estado Novo; em 1954 com o suicídio de Getúlio Vargas; em 1964 com o golpe militar; na década de 1980 com a redemocratização; em 1992 com o impeachment de Fernando Collor de Melo; e em 2016, com o impeachment de Dilma Rousseff. E que muitas vezes a instabilidade econômica é fruto das decisões políticas erradas no comando da economia.

O sociólogo e ex-membro do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar do Rio de Janeiro Rodrigo Pimentel, hoje comentarista e consultor da Globo em segurança, falou sobre organização de equipes, estratégia e planejamento para obtenção do sucesso. Autor do roteiro dos filmes Tropa de Elite I e II, Pimentel construiu paralelos entre as equipes do Bope e de empresas, afirmando que é preciso orgulhar-se de pertencer a uma equipe e que a disciplina, a hierarquia e o rigor são fatores fundamentais para o sucesso das mesmas. Para ele, os líderes devem reconhecer as qualidades de seus subordinados e que cada membro de uma equipe deve ‘proteger’ um ao outro para que todos alcancem seus resultados. Destacou também como fundamentais a organização e o planejamento, etapas que devem prescindir qualquer ação. Contou histórias de ações militares dos ‘Caveiras’, os autodenominados membros do Bope, interagindo com a plateia de forma bem humorada e provocativa. Em relação às dificuldades da profissão militar que desempenhou por 11 anos, disse que pode haver três caminhos: ou você se omite, ou se corrompe ou parte para a guerra, ressaltando a opção pela terceira via – que deveria ser seguida por todos.

Senti orgulho de nossas instituições e empresas nesta semana, as quais nos proporcionaram três grandes palestras, informativas e reflexivas e, em nenhuma das três, foi necessário ter jantar para poder atrair as pessoas. Mais do que isso, na palestra promovida pelo Centro Empresarial de Flores da Cunha, os mais de 600 presentes pagaram ingressos no valor de R$ 100 e R$ 50. Claro que por trás dos três palestrantes está a Rede Globo, onde os três trabalham.

Carlos Raimundo Paviani

Diretor do Jornal O Florense

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