O novembro mais seco da década
Escassez de chuva em Flores da Cunha e Nova Pádua afetou, entre outras lavouras, a de cebola, que tem perdas de produtividade por hectare reduzida à metade. No mês passado, choveu apenas 11mm no solo padense, ou seja, quase 90% menos do que o previsto
O excesso de chuva prejudicou o plantio da cebola em Nova Pádua há três meses. Mesmo assim, os agricultores trabalharam no barro para que suas mudas fincassem as raízes no solo, visando o crescimento. Agora, a situação se inverteu: a falta de chuva está prejudicando boa parte dos produtores do legume no município. Na verdade, não se trata de falta, mas sim escassez. Em novembro, choveu apenas 11 milímetros (mm) em Nova Pádua, ou seja, quase 90% menos do que a média climatológica prevista, de 108,7mm. Desde 2000 não chovia tão pouco. Resultado: quem não conseguiu irrigar suas lavouras terá, no mínimo, perda de 40% na produtividade. Além da cebola, o alho sofre com o mesmo problema. E os agricultores também já estão de olho na uva, que começa a murchar nas videiras pela sequência de dias secos.
Morador do Travessão Mützel, o agricultor Fábio Loro, 28 anos, cultiva com um sócio 3,5 hectares de cebola nas proximidades da área urbana de Nova Pádua. A estimativa inicial de colher 150 toneladas já foi descartada. “Fico satisfeito se chegarmos a 100 toneladas. Trabalhamos a terra e transplantamos as mudas no barro. Teve ainda a geada. E, agora, a seca”, lamenta o produtor, que cultiva ainda 6 hectares de uvas Isabel, Lorena, Cabernet Sauvignon e Merlot. Ao caminhar pela lavoura, Loro mostra o exemplo da baixa produtividade: alguns legumes chegaram ao tamanho normal, porém, a maioria, não.
As cebolas colhidas na propriedade são transportadas e selecionadas em um galpão. Mas ainda não há um destino certo para os legumes. “Estão oferecendo R$ 0,55 pelo quilo. É muito pouco”, afirma Loro. O técnico agrícola do escritório da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) de Nova Pádua, Leonildo Sperotto, lembra que o mínimo seria entre R$ 0,75 a R$ 0,80 ao quilo. Nas plantações de alho do município o problema da seca se repete. “A falta de chuva afetou principalmente os agricultores que não tinham irrigação. Entretanto, alguns deles foram prejudicados pela legislação, que impede que açudes sejam ampliados ou tenham a terra retirada do fundo”, exemplifica Sperotto.
O investimento para manter as plantações é oneroso. Além de ter a garantia do fornecimento de água (açude), o produtor deve aplicar entre R$ 15 mil a R$ 20 mil para irrigar 1 hectare. “O equipamento tem alta durabilidade. Entretanto, o sistema de aspersão, que gasta mais água, está sendo trocado pelo gotejamento, que custa, em média, 30% menos, ou seja, cerca de R$ 14 mil”, informa Sperotto. Sobre o alho, o técnico conta que em 2010 o produto foi vendido por entre R$ 5 e R$ 8 o quilo. Em 2011, deve ficar em R$ 3.
O Secretário de Agricultura de Nova Pádua, Rafael Martello, cita que o excesso de dias quentes está começando a impedir o desenvolvimento do carro-chefe das lavouras paduenses: a uva. “Algumas estão murchando nas parreiras, sinal de que não se desenvolverão mais. Elas podem até render um bom vinho, mas a produtividade pode ficar comprometida”, especifica. Há registro ainda de produtores com perdas nas plantações de outras frutas, como pêssego (quebra de 30% na safra).
Em Flores da Cunha, o secretário de Agricultura e Abastecimento, Jair Carlin, conta que são cultivados 90 hectares de cebola. Entretanto, a falta de chuva e de irrigação ocasionou perda de 50% da lavoura. Nas videiras, o solo está melhor preparado. “As plantas dos profissionalizados, principalmente aqueles que aderiram à cobertura vegetal (a maioria), aguentam mais. Porém, as parreiras em solo raso serão mais prejudicadas”, sentencia Carlin. O secretário florense cita ainda problemas nas plantações de milho. Em novembro, choveu apenas 25,1mm em Flores, que tem a mesma média climatológica de Nova Pádua (108,7mm para o mês). O pior é que a previsão não é nada animadora: até a primeira quinzena de dezembro deve chover apenas 16mm nos dois municípios.
Preocupação estadual
Conforme o Informativo Conjuntural divulgado pela Emater no dia 25, o mês de novembro terminaria com um regime de chuva abaixo do padrão em todas as regiões do Rio Grande do Sul, com desvios negativos bastante expressivos na Serra e nos Campos de Cima da Serra. Essa situação se confirmou: em Flores da Cunha choveu apenas 23% do previsto e, em Nova Pádua, 10,4%. Essa situação preocupa os produtores, que pensam em atrasar o plantio de algumas espécies devido à deficiência do solo.
Segundo a Emater, a safra de arroz teve um bom avanço, mas o baixo nível das barragens e rios nas regiões Centro e Sul têm preocupado os orizicultores, que podem enfrentar, caso persistam as atuais condições de chuvas irregulares, restrições no uso da água para a irrigação. No milho existem cenários distintos: no Noroeste e Norte, junto à divisa com Santa Catarina, as lavouras estão em bom estado; na Serra, houve a suspensão no avanço da semeadura em alguns municípios.
Na soja, a evolução do plantio também ocorreu de forma irregular. Enquanto que na Serra e no Sul a semeadura foi interrompida, em outras regiões os produtores aproveitaram a ocorrência de chuvas para intensificar o plantio. Já para a cultura do trigo, o tempo mais seco tem sido benéfico, principalmente para o amadurecimento e a colheita das lavouras.
Na quarta e quinta, dias 30 de novembro e 1º de dezembro, respectivamente, choveu em algumas regiões do Estado – inclusive na Serra. Mas os pingos não foram suficientes para mudar o quadro do mês de novembro menos chuvoso da última década em Flores da Cunha e Nova Pádua.
Chuvas irregulares ao longo de 2011
A quantidade de chuva que caiu em Flores da Cunha e Nova Pádua neste ano foi muito irregular no comparativo mensal. Em Flores, por exemplo, choveu mais do que a média climatológica nos meses de janeiro, fevereiro, março, abril, junho, julho e agosto; e menos do que a média em maio, setembro, outubro e novembro (veja as tabelas abaixo). O destaque fica para os meses de fevereiro, julho e agosto, que registraram, respectivamente, 93%, 160% e 126% de precipitação acima da média. Em Nova Pádua, choveu menos do que o previsto em janeiro, maio, setembro, outubro e novembro. O destaque fica para agosto, que registrou 122,9% de precipitação acima da média climatológica.
De acordo com a Somar Meteorologia, apesar da atuação do fenômeno La Niña (resfriamento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico), o mês de dezembro apresentará precipitação entre a média e acima da média no Rio Grande do Sul. As ondas de frio mais fortes que o normal continuarão a aparecer no último mês do ano. Por isso, a previsão é de temperatura abaixo da média – entre 2ºC e 3ºC. Para o verão (inicia às 2h30min de 22 de dezembro e vai até as 2h14min de 20 de março de 2012), o padrão La Niña ficará mais evidente no Estado, com a previsão de chuva entre a média e abaixo da média.
(Clique nas tabelas para ampliar a imagem)
Morador do Travessão Mützel, o agricultor Fábio Loro, 28 anos, cultiva com um sócio 3,5 hectares de cebola nas proximidades da área urbana de Nova Pádua. A estimativa inicial de colher 150 toneladas já foi descartada. “Fico satisfeito se chegarmos a 100 toneladas. Trabalhamos a terra e transplantamos as mudas no barro. Teve ainda a geada. E, agora, a seca”, lamenta o produtor, que cultiva ainda 6 hectares de uvas Isabel, Lorena, Cabernet Sauvignon e Merlot. Ao caminhar pela lavoura, Loro mostra o exemplo da baixa produtividade: alguns legumes chegaram ao tamanho normal, porém, a maioria, não.
As cebolas colhidas na propriedade são transportadas e selecionadas em um galpão. Mas ainda não há um destino certo para os legumes. “Estão oferecendo R$ 0,55 pelo quilo. É muito pouco”, afirma Loro. O técnico agrícola do escritório da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) de Nova Pádua, Leonildo Sperotto, lembra que o mínimo seria entre R$ 0,75 a R$ 0,80 ao quilo. Nas plantações de alho do município o problema da seca se repete. “A falta de chuva afetou principalmente os agricultores que não tinham irrigação. Entretanto, alguns deles foram prejudicados pela legislação, que impede que açudes sejam ampliados ou tenham a terra retirada do fundo”, exemplifica Sperotto.
O investimento para manter as plantações é oneroso. Além de ter a garantia do fornecimento de água (açude), o produtor deve aplicar entre R$ 15 mil a R$ 20 mil para irrigar 1 hectare. “O equipamento tem alta durabilidade. Entretanto, o sistema de aspersão, que gasta mais água, está sendo trocado pelo gotejamento, que custa, em média, 30% menos, ou seja, cerca de R$ 14 mil”, informa Sperotto. Sobre o alho, o técnico conta que em 2010 o produto foi vendido por entre R$ 5 e R$ 8 o quilo. Em 2011, deve ficar em R$ 3.
O Secretário de Agricultura de Nova Pádua, Rafael Martello, cita que o excesso de dias quentes está começando a impedir o desenvolvimento do carro-chefe das lavouras paduenses: a uva. “Algumas estão murchando nas parreiras, sinal de que não se desenvolverão mais. Elas podem até render um bom vinho, mas a produtividade pode ficar comprometida”, especifica. Há registro ainda de produtores com perdas nas plantações de outras frutas, como pêssego (quebra de 30% na safra).
Em Flores da Cunha, o secretário de Agricultura e Abastecimento, Jair Carlin, conta que são cultivados 90 hectares de cebola. Entretanto, a falta de chuva e de irrigação ocasionou perda de 50% da lavoura. Nas videiras, o solo está melhor preparado. “As plantas dos profissionalizados, principalmente aqueles que aderiram à cobertura vegetal (a maioria), aguentam mais. Porém, as parreiras em solo raso serão mais prejudicadas”, sentencia Carlin. O secretário florense cita ainda problemas nas plantações de milho. Em novembro, choveu apenas 25,1mm em Flores, que tem a mesma média climatológica de Nova Pádua (108,7mm para o mês). O pior é que a previsão não é nada animadora: até a primeira quinzena de dezembro deve chover apenas 16mm nos dois municípios.
Preocupação estadual
Conforme o Informativo Conjuntural divulgado pela Emater no dia 25, o mês de novembro terminaria com um regime de chuva abaixo do padrão em todas as regiões do Rio Grande do Sul, com desvios negativos bastante expressivos na Serra e nos Campos de Cima da Serra. Essa situação se confirmou: em Flores da Cunha choveu apenas 23% do previsto e, em Nova Pádua, 10,4%. Essa situação preocupa os produtores, que pensam em atrasar o plantio de algumas espécies devido à deficiência do solo.
Segundo a Emater, a safra de arroz teve um bom avanço, mas o baixo nível das barragens e rios nas regiões Centro e Sul têm preocupado os orizicultores, que podem enfrentar, caso persistam as atuais condições de chuvas irregulares, restrições no uso da água para a irrigação. No milho existem cenários distintos: no Noroeste e Norte, junto à divisa com Santa Catarina, as lavouras estão em bom estado; na Serra, houve a suspensão no avanço da semeadura em alguns municípios.
Na soja, a evolução do plantio também ocorreu de forma irregular. Enquanto que na Serra e no Sul a semeadura foi interrompida, em outras regiões os produtores aproveitaram a ocorrência de chuvas para intensificar o plantio. Já para a cultura do trigo, o tempo mais seco tem sido benéfico, principalmente para o amadurecimento e a colheita das lavouras.
Na quarta e quinta, dias 30 de novembro e 1º de dezembro, respectivamente, choveu em algumas regiões do Estado – inclusive na Serra. Mas os pingos não foram suficientes para mudar o quadro do mês de novembro menos chuvoso da última década em Flores da Cunha e Nova Pádua.
Chuvas irregulares ao longo de 2011
A quantidade de chuva que caiu em Flores da Cunha e Nova Pádua neste ano foi muito irregular no comparativo mensal. Em Flores, por exemplo, choveu mais do que a média climatológica nos meses de janeiro, fevereiro, março, abril, junho, julho e agosto; e menos do que a média em maio, setembro, outubro e novembro (veja as tabelas abaixo). O destaque fica para os meses de fevereiro, julho e agosto, que registraram, respectivamente, 93%, 160% e 126% de precipitação acima da média. Em Nova Pádua, choveu menos do que o previsto em janeiro, maio, setembro, outubro e novembro. O destaque fica para agosto, que registrou 122,9% de precipitação acima da média climatológica.
De acordo com a Somar Meteorologia, apesar da atuação do fenômeno La Niña (resfriamento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico), o mês de dezembro apresentará precipitação entre a média e acima da média no Rio Grande do Sul. As ondas de frio mais fortes que o normal continuarão a aparecer no último mês do ano. Por isso, a previsão é de temperatura abaixo da média – entre 2ºC e 3ºC. Para o verão (inicia às 2h30min de 22 de dezembro e vai até as 2h14min de 20 de março de 2012), o padrão La Niña ficará mais evidente no Estado, com a previsão de chuva entre a média e abaixo da média.
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