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Muito mais que lixo

Na Semana do Meio Ambiente, conheça o projeto da Apae de Flores da Cunha, que recolhe e separa resíduos gerando recursos para a entidade

Reaproveitamento. Dar vida nova a algo que antes era considerado lixo. Esse pensamento guia voluntários como os da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Flores da Cunha que, por meio da separação de resíduos, fazem uma dupla boa ação: ajudam o meio ambiente enquanto geram novos recursos financeiros para a entidade. 
Mas para tornar esse reaproveitamento possível, antes foi preciso que o descarte se realizasse corretamente. O projeto teve início em 2009, quando a entidade engajou alunos, familiares e colaboradores na separação do lixo orgânico e do lixo seco. “A intenção era conscientizar para os cuidados com o meio ambiente. Nós separávamos o lixo direitinho e encaminhávamos para os recicladores aqui de Flores da Cunha”, conta a diretora da Apae, Maria Branchini. 
O serviço era feito tão corretamente que, em 2017, algumas empresas procuraram a entidade para realizar a separação dos resíduos gerados por elas, oferecendo uma compensação financeira para tal. “Nós ficamos bem felizes e surpresos. Além dos benefícios para o meio ambiente, tivemos um retorno financeiro. A partir daí, nós nunca mais paramos”, diz Maria.
A entidade passou a selecionar vários tipos de lixos, entre os quais: plásticos; papéis; sucatas; materiais escolares; esponjas scotch-brite; embalagens de tetra pak; itens de beleza pessoal e cápsulas de café (se higienizados). Os materiais são encaminhados não só para o município – alguns são enviados por correio a São Paulo, sede da empresa Terra Cycle, líder global em soluções para resíduos de difícil reciclabilidade. 
Para a coleta dos materiais, a entidade desenvolveu folders e cartazes e conta com o auxílio de pontos comerciais espalhados por Flores da Cunha – na Forbal, por exemplo, há o canto APAE, onde os funcionários deixam o lixo produzido em suas casas. Segundo a diretora da associação, a APAE conversa com lideranças para proliferar esses pontos pela cidade e ter ainda mais adesão ao projeto, que cresce ano a ano. 
Em 2017, a entidade arrecadou pouco mais de R$ 6 mil – três anos mais tarde, em torno de R$ 25 mil foram obtidos com a separação do lixo, valor revertido para as suas atividades e particularmente importante em um ano escasso de recursos devido à pandemia. “Nós ficamos felizes quando vemos as empresas nos auxiliando, mas não tirando do financeiro deles para doar. É uma doação que não tem custo nenhum, mas que a gente transforma em dinheiro para a entidade, oferecendo mais serviços para os nossos usuários”, comenta Maria.
A ação e seus resultados servem de exemplo em um país que produz quase 80 milhões de toneladas de lixo por ano, mas recicla apenas 4% disso, deixando de faturar cerca de R$ 14 bilhões anualmente, segundo dados Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). O que mostra que os benefícios da sustentabilidade não se encerram no meio ambiente e impactam positivamente diversas áreas, como a economia.
Mas a maior riqueza gerada, segundo a diretora da Apae, é para o planeta. “Com isso, o espaço onde vivemos ganha muito e todos temos melhores condições de vida. Nosso intuito é seguir mostrando, ensinando, orientando quem vem depois para que a gente possa ter um mundo melhor. Um mundo com mais qualidade para todos”. 
Além das empresas, qualquer pessoa está convidada a ajudar a instituição, entregando os resíduos, recebidos de segunda a sexta das 8h às 11h45min e das 13h às 17h, na sede da Apae, uma ação definida como transformadora pela diretora da entidade: “Agradecemos muito os voluntários, principalmente aqueles que já têm uma certa idade, que não trazem apenas o lixo que produzem, mas o de outras pessoas também. É uma ação transformadora: tornar melhor o local onde a gente vive, porque precisamos respirar, oxigenar”. 

Equipe engajada
Há um ano e meio, o projeto da Apae conta com uma contribuição importante: a da Olimóveis Urbanismo, que desde o fim de 2019 coleta os materiais de seus colaboradores e entrega à entidade. “Fizemos uma limpeza no escritório e recolhemos papéis para reciclagem. Chegando lá, descobrimos que eles coletam mais materiais. Eu voltei para a empresa e surgiu a ideia de coletar com todos os colegas”, conta a engenheira ambiental, Indianara Donazzolo.
Para tirar a ideia do papel, Indianara distribuiu sacolas, entregou folders e explicou como realizar a coleta para toda a equipe. Desde então, a cada 30 dias, ela recolhe os materiais trazidos, organiza em sacos maiores e os leva até à Apae. No mês seguinte, os cestinhos são novamente preenchidos e, posteriormente, encaminhados à entidade. 
“O pessoal é bem amigo, bem parceiro nessa mobilização. Tenho colegas que não só coletam o lixo da própria casa, mas do prédio inteiro. Eu fico muito feliz, muito entusiasmada”, diz a engenheira ambiental, que a cada mês manda uma mensagem de whatsapp para os colegas, avisando-os do dia de recolhimento.
Segundo Indianara, esse é só uma das atitudes que mostram a preocupação da empresa com a saúde do planeta: “Nós temos que cumprir as legislações ambientais e cumprimos sempre, até além. De uma forma interna, a ideia é fazer mais do que a legislação exige. Para o bem da empresa, para o bem do meio ambiente, para a conscientização das pessoas”. 
De fato, não é só o planeta que ganha – ações como essa também trazem a satisfação de ter feito sua parte na luta por um ambiente mais saudável: “O trabalho voluntário é bem cativante, quando tenho oportunidade, estou sempre ajudando. Ele te dá aquela esperança que tu podes tornar o mundo melhor”, encerra Indianara. 

Apae estimula comunidade a separa o lixo e reverte em verba para a entidade. - Pedro Henrique dos Santos
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