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Irmã Clara celebra 25 anos de vida silenciosa e de oração

Única florense da Ordem das Clarissas Capuchinhas, irmã Clara sairá da clausura para celebrar os 25 anos de religiosidade. Festa ocorrerá na Igreja do bairro São José na manhã de domingo, dia 11 de agosto

Paz e bem! É dessa forma e com um sorriso no rosto que a irmã Clara Francisca da Anunciação recepciona seus visitantes. Hábito que adquiriu durante a vida religiosa e silenciosa. Vivendo em clausura no Mosteiro Nossa Senhora do Brasil, em Flores da Cunha, a irmã clarissa capuchinha tem um motivo especial para o sorriso estampado no rosto: neste mês de agosto ela comemora 25 anos de vida religiosa, quando anunciou seus primeiros votos na Ordem das Irmãs Clarissas Capuchinhas. Os festejos são especiais também por coincidirem com as novenas em homenagem à Santa Clara de Assis, fundadora da Ordem e na qual seu nome religioso foi inspirado.

Nascida Vania Fátima Vaccari em 13 de outubro de 1962, na localidade de São Cristóvão, a irmã tornou-se Clara Francisca da Anunciação durante o noviciado, por volta de 1987. “Hoje é possível manter o nome, mas na minha época tinha que trocar. Como simpatizo muito com Clara, preferi ficar assim”, conta a irmã. O nome Clara foi sugestão das religiosas que já habitavam o Mosteiro quando ela chegou ao local – eram cinco italianas e duas brasileiras. “Elas me indicaram porque eu era a mais nova e não havia ninguém de nome Clara. Eu coloquei o Francisca e depois o Anunciação numa homenagem à Maria que recebeu o anúncio de um anjo sobre a vinda de Jesus”, explica a religiosa.

Irmã Clara foi a primeira florense a entrar na Ordem e a única a aparecer na capa do jornal O Florense em 11 de agosto de 1993, quando realizou os votos perpétuos na Igreja Matriz do município. Naquela edição, a manchete de capa anunciava: “Irmãs Clarissas saem da clausura e recebem a irmã Clara”. A religiosa iniciava a profissão perpétua num ano comemorativo para a Igreja Católica, os 800 anos do nascimento de Santa Clara de Assis, e se tornava a primeira clarissa florense. Conforme notícia do jornal, mais de 800 pessoas participaram da cerimônia, inclusive as demais irmãs que receberam a licença do então papa João Paulo II e puderam assistir à celebração. Mas a vocação de irmã Clara já havia começado bem antes dessa data.

O despertar
A primogênita de Antônio Vaccari e Iolanda Otobelli Vaccari (in memorian), Vania desafiou a família para ingressar na ordem religiosa. Na infância gostava do contato com a natureza – hábito que permanece até hoje – e na adolescência não era muito de frequentar a igreja ou orar. Tinha pouco contato com o cristianismo e achava até chato rezar o terço. Mas participava do grupo de jovens de São Cristóvão e foi num desses encontros que o encanto aconteceu. Numa palestra sobre Jesus Cristo, feito pelas Irmãs Murialdinas, ela se sentiu ‘tocada’ e despertou o desejo de doar sua vida a Jesus. Ao conversar com as Murialdinas foi convidada a conhecer a Congregação, localizada em Fazenda Souza. Irmã Clara estava com 18 anos, namorava e se mostrava disposta a largar tudo e seguir a vida religiosa. “Quando contei em casa ninguém acreditou, fiquei um ano amadurecendo a ideia, lendo a Bíblia, terminei o namoro e resolvi entrar na Congregação”, diz.

No seminário murialdino ela permaneceu por cinco anos. Nessa mesma época, em Flores da Cunha, as Irmãs Clarissas Capuchinhas instalavam o primeiro Mosteiro da Ordem no Brasil. “Lembro que as pessoas comentavam que havia chegado irmãs que faziam milagres e fui até o mosteiro conhecer e pedir para que elas orassem por mim, porque queria seguir a vocação, mas ao mesmo tempo estava muito difícil com a minha família. Eu queria e não queria”, afirma. No mosteiro, irmã Clara sentiu uma paz e um silêncio que a confortaram. “Eu tinha muitas dúvidas porque era bastante ligada à família e conversar com a irmã Benvenuta (italiana e uma das primeiras da Ordem) era muito bom.” Nas férias ela sempre visitava o local e costumava levar comida para as irmãs. “Eu ouvia que elas passavam fome, nunca comiam algo diferente e dormiam em cima de pedras. Então, eu comprava bolachas e abacaxis e levava”, conta Clara, entre risos. Mesmo com esses rumores, a religiosa sentia muita paz no lugar e admirava as irmãs que ali moravam, sempre sorridentes e orando.

Questionamentos a trouxeram de volta para Flores da Cunha
Na Congregação Murialdina, a noviça Clara foi fazer uma experiência de vida religiosa em Porto Alegre. Foi trabalhar numa creche, só que percebeu que aquilo não era o que queria para si. “Lá senti que não queria aquilo para mim. Fui fazer uma nova experiência numa escola em Caxias do Sul, no bairro Santa Fé, mas também parecia que faltava algo.” Irmã Clara então pediu para sair da congregação, voltou para a casa dos pais e foi procurar respostas sobre suas inquietações junto às Irmãs Clarissas. Estava com 22 anos e insatisfeita sobre os rumos a seguir. “Conversei com a irmã Benvenuta, pedi como era a vida ali, contei sobre a minha caminhada e solicitei que eu queria algo como a vida delas: uma devoção total”, diz Clara, que complementa: “A irmã me pediu para conversar com o frei Lori, que me questionou muito sobre o assunto. Até hoje ele brinca comigo dizendo que foi o advogado do diabo”.

Por orientação do frei, Irmã Clara ficou seis meses em casa, voltou a trabalhar numa vinícola e tentou sair, mas o que antes ela gostava bastante, já não fazia mais sentido. Aos pais, disse que estava confusa e precisava pensar. Eles ficaram contentes com a volta da primogênita e não imaginavam que Clara já estava traçando os caminhos para a clausura. “Os meus pais sabiam que eu ia bastante ao Mosteiro, mas não pensavam que isso era sério”, lembra.

A decisão foi tomada e em 25 de março de 1987 irmã Clara ingressou no Mosteiro Nossa Senhora do Brasil. A caminhada foi rápida. Foram seis meses de postulantado (normalmente são dois anos) e um ano e três meses de noviciado (geralmente são dois anos). Foi durante o noviciado que Vania deu lugar à irmã Clara. “É quando deixamos para trás as coisas do mundo exterior e trocamos as vestes”, explica. Em 1988, fez seus primeiros votos – é a partir desses votos que ela conta seus 25 anos de vida contemplativa.

Os primeiros passos, apressados, foram diminuídos nos primeiros votos. Geralmente são três anos até os votos de profissão perpétua (que significa para sempre), mas irmã Clara levou quatro anos. Isso porque a dúvida estava novamente a assombrando. “Foi difícil tomar a decisão, porque eu sabia que não ia mais sair, não ia mais para casa. E foi difícil para os meus pais também. Eu estava segura da minha decisão, mas, ao mesmo tempo, sentia saudades da família e sabia que muitas coisas que gostava não poderia mais ter”, relembra a irmã.

Em agosto de 1993, quando fez os votos perpétuos, a insegurança havia passado e a religiosa tinha certeza da escolha. “Nunca mais tive dúvida, pois sabia que esse é o meu lugar e a minha família foi se acostumando e vendo que eu era muito feliz aqui e hoje me apoiam muito”, diz Clara, que recebe visitas do pai, dos irmãos e sobrinhos sempre que pode.

Fé e lazer
As raízes com o Mosteiro de Flores da Cunha também são fortes. Em 2002, a Ordem das Clarissas fundou uma unidade em Macapá (AP) e irmã Clara não sentiu a vocação em se mudar. “Não senti vontade em ir, até comentei que meu amor era pequeno, mas frei Darci Vazatta me falou que o meu amor também era grande por ficar aqui, porque Clara tinha nascido, vivido e morrido em Assis. Acho que minha missão é por aqui mesmo”, frisa.

Com as dificuldades superadas e a saudade da família vencida, hoje irmã Clara convive com outras 10 religiosas, num clã de convivência, harmonia e paz. “Cada uma tem a sua caminhada e não somos perfeitas, mas buscamos a misericórdia de Deus, porque não teria sentido ficarmos orando pelo mundo senão estivéssemos bem conosco.” A rotina dentro do Mosteiro começa bem cedo e é mesclada com orações coletivas, contemplações individuais, atendimento aos fiéis (os jovens são os preferidos da irmã) e trabalhos manuais – as Irmãs Clarissas confeccionam velas e, mais recentemente, estão comercializando massas e pães. Irmã Clara cuida da cozinha, da portaria, da lavanderia e no ornamento da capela. “Como não sou artista, o meu forte fica nos trabalhos manuais”, brinca.

Mas quem pensa que o mundo da religiosa é apenas de orações se engana. Há também os momentos de lazer. Jogar vôlei na quadra que fica atrás do Mosteiro e caminhar no bosque em dias de sol são os programas preferidos. Ler é um dos hobbies prediletos e não apenas leituras religiosas, mas um pouco de tudo. Assistir tevê é menos usual. As Irmãs acompanharam a estadia do papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude e, às vezes – em dias frios e chuvosos – assistem filmes vocacionais e infantis. A internet é outro lazer e serve de comunicação com amigos e familiares distantes.

A clausura não incomoda – irmã Clara é a única que pode sair para tratar de assuntos pertinentes. Para ela, a palavra é mais forte que o ato em si. “Não me assusta porque não me sinto presa. O que sinto é quando me convidam para algum evento. A minha sobrinha fez 15 anos e não fui à festa porque sentia que não era um ambiente para mim, mas sinto pela minha família que gostaria que eu fosse”, exemplifica.

Ao renovar sua fé depois de 25 anos em vida silenciosa, irmã Clara segue os mesmos princípios que fez quando realizou os votos perpétuos, o de “ser auxiliar do próprio Deus, sustentáculo dos membros vacilantes da igreja”. Paz e bem!

Igreja do bairro São José sedia Festa de Santa Clara no domingo
Neste domingo, dia 11, será realizada a Festa em honra à Santa Clara de Assis. A celebração tem início às 10h30min, na Igreja São José Operário, no bairro São José. A eucaristia será presidida pelo bispo dom Alessandro Ruffinoni e a co-celebração será do frei Cleonir Paulo Dalbosco, entre outros religiosos. Sob o tema Eis-me aqui! Vocação de Clara, Nossa Vocação, a missa terá animação do Cenáculo de Maria. Na data haverá bênção e distribuição dos pãezinhos de Santa Clara.

O evento também festejará os 25 anos de vida religiosa da irmã Clara Francisca da Anunciação. Após a celebração eucarística haverá almoço festivo no salão do bairro. Durante o almoço haverá música ao vivo com Leandro Ávila. O cardápio inclui sopa de agnolini, lesso, pien, galeto, churrasco, salada verde, maionese, pão, vinho, refrigerante, café com biscoito e torta. Os ingressos custam R$ 30 e podem ser adquiridos no Mosteiro das Clarissas, na secretaria paroquial, no armazém Vindima e com a diretoria do bairro São José.

As novenas de Santa Clara que iniciaram no dia 2 encerram-se amanhã, dia 10, às 19h30min, no Mosteiro Nossa Senhora do Brasil. As novenas e a Festa de Santa Clara são realizadas pelas Irmãs Clarissas Capuchinhas.


Programação das novenas

Hoje, dia 9
Tema: Santa Clara reconheceu-se fruto do imenso amor de Deus e renunciou tudo.
Celebrante: padre José Nunes de Lara Neto.
Equipe de liturgia: Grupo dos Batizados.

Sábado, dia 10
Tema: Santa Clara amou como Jesus amou e praticou o que ele ensinou.
Celebrante: frei Gilson Nunes.
Equipe de liturgia: Grupo Vocacional.

Festa de Santa Clara e celebração de 25 anos
de vida religiosa da irmã Clara Francisca


Domingo, dia 11
Horário: 10h30min.
Onde: na Igreja São José Operário, no bairro São José.
Tema: Eis-me aqui! Vocação de Clara, Nossa Vocação.
Celebrante: bispo dom Alessandro Ruffinoni.
Liturgia: Cenáculo de Maria.
- Haverá bênção e distribuição dos pãezinhos de Santa Clara.



Irmã Clara abraçou a vida religiosa aos 18 anos, esteve no seminário das Murialdinas e em 1987 ingressou no Mosteiro florense. - Danúbia Otobelli
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