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Uma forma de se comunicar

Haitianos que residem em Flores da Cunha fazem vídeos e ganham dinheiro com os likes

Em busca de uma vida melhor e um trabalho honesto, muitos haitianos vieram para o Brasil deixando suas famílias no Haiti. Aqui, encontraram pessoas receptivas e dispostas a ajudar aqueles que fugiram da pobreza e da desigualdade social. 
“O Brasil é muito bom. Não queremos mais voltar”, afirma Badil Fleursaint, que está no país há quatro anos e em Flores da Cunha há dois. “Vim com minha esposa, mas tive que deixar minha filha de poucos meses lá. Ela fica com minha mãe. Agora que passar essa pandemia quero buscá-la”, diz ele, que fala muito bem o português. “Aprendi aqui a falar. Quando cheguei não sabia a língua, mas fui aprendendo. Me comuniquei as primeiras vezes em inglês”, diz Badil que ainda fala Criolo, a língua oficial do país, francês, espanhol, e agora português. “Aprendemos tudo na escola. Lá a educação é muito boa”, afirma ele. Com 28 anos, ele diz que a maior diferença de um país para o outro é a segurança. “Aqui vemos policiais na rua, eles cuidam das pessoas. Lá (no Haiti) não tínhamos isso. É cada um por si”. 
Muitos deles vieram para Flores da Cunha por indicação de parentes que aqui já residiam. Foi o caso de Leonaldo Versalles, que tem um primo e um irmão no município. “Lá no Haiti a minha vida era boa, mas aqui é muito melhor. Tem muito trabalho”, afirma Leonaldo emocionado, relembrando a sua família que ficou lá. “Meus pais não querem vir para cá”. 
Já as mulheres vieram para acompanhar os seus maridos. Algumas conseguiram vir só depois, como Villa Joslin, que deixou sua filha no país caribenho com um ano de idade – hoje, ela tem três. “Tenho muita saudade. Quero trazer ela para cá, mas ainda não tenho condições”. De acordo com o grupo, é preciso em torno de R$ 10 mil para viajar do Haiti ao Brasil.
Entre suas culturas, a comida é reproduzida aqui. “Tem várias comidas iguais. Usamos milho, banana, batata. O que diferencia é o preparo”, garante Badil. Mas entre eles há uma unanimidade. O que eles não gostam? O frio. “É muito frio. Da primeira vez achei que ia morrer”, declarou Jean Chrisnold, que está no Brasil há um ano e seis meses.

  

Um roteiro sobre a vida

Mas a saudade aperta o coração. Com um emprego fixo na indústria de plástico, Badil e os amigos buscam na gravação de vídeos dinheiro e também uma forma de se comunicar com quem ficou em seu país de origem. “Nós falamos nos vídeos sobre várias coisas da vida. Se você assistir vai entender, mesmo não sabendo nossa língua”, afirmam eles, que pretendem colocar legendas em português. 
Em um grupo de aproximadamente 10 pessoas, eles se reúnem nos finais de semana pelas ruas da cidade para montar os filmes, que são disponíveis no YouTube. Floriant Mario, é quem dirige os vídeos e posta no canal do YouTube (que tem o seu nome). “Minha paixão pelo audiovisual veio desde o Haiti, mas aqui consegui colocar em prática. Minha ideia é que com o tempo eu pare de trabalhar na indústria e me dedique só para os vídeos. Mas preciso da colaboração das pessoas para assistir e conseguir me sustentar com esse dinheiro”, diz Floriant. 
E o grupo é bastante unido. Um escreve o roteiro, outro encontra os atores ideais para o tema do vídeo, outro edita, e assim conseguem postar um material de qualidade. 

  

Sobre o Haiti

- O Haiti é um país caribenho situado na América Central.

- Sua única fronteira terrestre é a leste com a República Dominicana.

- A independência nacional foi conquistada no dia 1° de janeiro de 1804, sendo a primeira república da América Latina a conseguir autonomia política.

- A economia haitiana é pouco desenvolvida, sendo o setor primário o principal responsável pela captação de receitas financeiras.

- A instabilidade política do país dificulta a entrada de investimentos estrangeiros.

- Conforme dados da ONU, o Haiti detém o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do continente americano.

- Em 2010 o Haiti foi palco de um grande terremoto que destruiu o local.

  

Grupo de haitianos grava vídeos contando fatos da vida e publicam no Youtube para conseguir uma renda extra. - Gabriela Fiorio
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