Um novo turismo pós-Covid-19
Empreendimentos de Flores da Cunha e Nova Pádua estão otimistas com o futuro da atividade
A pandemia do coronavírus afetou significativamente o turismo que estava em desenvolvimento na região de Flores da Cunha e Nova Pádua. Conforme a consultora e mestre em Turismo Ivane Favero, todo o mundo está passando por uma crise sem precedentes. “Aos poucos, e com todo cuidado, as atividades estão sendo retomadas e, atualmente, a preocupação também é auxiliar os empreendedores, no sentido de manterem sua saúde e a saúde de seus negócios”, declara. Para Ivane, preservar as equipes de colaboradores, dentro do possível, e promover ações sanitárias adequadas aos novos tempos está entre a tônica das discussões do setor público e entidades e das ações do setor privado. “Equilíbrio é fundamental neste momento. Também a solidariedade está sendo fortalecida, com diversas iniciativas sendo realizadas”, informa a mestre. Nesse momento, conforme Ivane, é fundamental investir em capacitação, planejamento e reforçar a união. “Um novo turismo vai surgir, e não será como era antes da pandemia da Covid-19. A mudança não se deve somente a presença das máscaras, que vai diferir as fotos de antes e depois do coronavírus. As mudanças serão na quantidade de pessoas nos atrativos, sendo que as aglomerações serão evitadas, e na busca por experiências significativas para a vida”, finaliza.
E nessa mesma linha, os empreendimentos estão se planejando para a pós-pandemia e estão otimistas. É o caso da Vinícola Luiz Argenta, que percebeu nos últimos anos um aumento significativo no turismo da região. “O turismo estava em grande ascendência em nossa cidade. Foi possível presenciar na Luiz Argenta um crescimento de quase 20% entre 2018 e 2019, sendo que o início de 2020 já apontava um crescimento ainda maior. Depois da notícia da pandemia, além do número de turistas ter baixado drasticamente e todos os prejuízos econômicos atrelados a isto, a preocupação da empresa era muito grande também com a preservação da saúde da equipe de trabalho, principalmente a equipe de atendimento direto ao turista, como também a saúde do visitante”, destaca a gerente comercial e marketing da vinícola, Daiane Panizzon Argenta, 34 anos. Conforme os dados da empresa, a principal redução foi sentida no final de março e durante o mês de abril, quando foi fechada toda a atividade de enoturismo. A partir de maio, a abertura foi gradual. “Mas nestes meses tivemos muito “abre e fecha”, o que prejudicou no resultado também, que ficou em torno de 50% de redução”, informa.
De acordo com Daiane, a instabilidade com relação às decisões de restrições e troca de bandeiras do Governo do Estado e prefeitura, geram muita dificuldade na gestão do negócio. “As decisões de abertura, fechamento, horários de atendimento, número de funcionários, são tomadas no mínimo semanalmente, e muitas vezes, de um dia para o outro. E o fato de não haver uma perspectiva e previsão de retorno à 'normalidade', torna tudo ainda mais difícil”.
Atualmente, para quem quiser realizar o tour e degustação na vinícola, é necessário o uso de máscara e álcool em gel, além da redução de capacidade: antes eram atendidos grupos de até 20 pessoas. Hoje, a Argenta atende no máximo oito pessoas. É permitida a retirada da máscara apenas no momento da degustação.
Para amenizar as perdas e continuar atraindo visitantes na vinícola, a Argenta promoveu ações em maio e junho, como o ‘Cinema em Drive-in’, inspirado nos anos 70. “Fizemos uso da estrutura de pátio já existente para desenvolver uma atividade cultural e de entretenimento totalmente segura para visitantes e para a comunidade”, destaca Daiane.
Para a gerente, as mudanças de comportamento que estamos tendo neste momento deverão permanecer. “O cuidado maior com a higienização, preferência por destinos nacionais, turismo autoguiado e a preferência por atividades ao ar livre devem estar em alta no pós-pandemia. Acredito também que o turismo de experiência deve aumentar, porém o consumismo deve diminuir devido às dificuldades que sabemos que iremos enfrentar economicamente daqui para a frente”, acredita. Para Daiane, este é o momento de viver um dia por vez e com bastante resiliência, mas sem deixar de sonhar. “Sempre acreditamos no enoturismo e vamos continuar investindo e apostando em gerar experiências e bons momentos para os nossos visitantes poderem sempre lembrar”, salienta.
Para a Secretária de Turismo de Flores da Cunha, Fátima Ortiz, o setor do turismo está sendo afetado e terá uma retomada gradual e em nível de região. “O turismo vai se modificar. As pessoas vão procurar mais as experiências e lugares mais tranquilos, o que beneficiará a nossa região, por ser um local menor e ter boa qualidade de vida. O turista quer vivenciar o lugar”, enfatiza. Para Fátima, a pandemia vem sendo um momento de reinvenção.
Projetando o futuro
O Otávio Rocha Vila Colonial foi o último roteiro lançado em Flores da Cunha, em maio de 2019. Nele estão contemplados oito empreendimentos além de diversos pontos turísticos do distrito florense. O Dona Adélia Hotel e Restaurante é uma das atrações. Conforme o proprietário Valdomiro Muterle, nos últimos finais de semana o movimento foi bom, adaptado a todas as normas previstas. “Nos dois últimos finais de semana, os 50% da capacidade que podíamos atender estavam lotados. Além dos almoços de domingo, que estão girando em torno de 100 pessoas, mantendo a metade da ocupação”, informa Muterle. Conforme o proprietário, o Hotel ficou fechado de 19 de março a 17 de junho. “Não estamos pensando no lado financeiro. Nosso objetivo é preservar a saúde das pessoas. Então estamos atuando com 50% da nossa capacidade no hotel e também no restaurante, com afastamento das mesas e também a utilização de máscara e álcool gel”, informa. Além disso, todas as pessoas, antes de entrarem no empreendimento, passam pela aferição da temperatura e são coletados os dados, para que, se haja alguma contaminação, possa fazer a rastreabilidade do vírus. “Temos uma clientela formada há muitos anos, então assim que tudo isso passar, vamos voltar ao normal”, garante Muterle. O empreendimento possui oito funcionários fixos, que tiveram as férias de dezembro antecipadas e a suspensão de contrato por 60 dias, e, durante os finais de semanas, o Hotel e Restaurante conta com mais nove funcionários. Conforme Muterle, a carteira continua completa. O Hotel conta com 49 apartamentos.
Já no roteiro turístico Compassos da Mérica Mérica, Joel Bolzan, 37 anos, que está a frente da Casa dos Cogumelos, está apostando em novas estratégias para a volta do turismo. Joel e a esposa, Dilene Colcenty Bolzan, querem que o turista passe mais tempo na propriedade. “O turismo pós-pandemia tem a tendência de ser mais regional, além das pessoas buscarem mais a natureza. Se nos prepararmos para isso, vamos ter um belo futuro para o turismo. Temos um grande potencial para atrair novamente os turistas”. Para isso, eles estão se estruturando na parte física e também buscando estratégias e pensando em novas atividades dentro da propriedade. “Atualmente o que é oferecido é uma visitação com uma explanação do processo do cultivo do cogumelo e visualização, e depois temos uma degustação e um pequeno varejo. Estamos falando de uma visita de uma hora. Então, nosso intuito é estender o tempo que o turista vai ficar na propriedade. Estamos nos estruturando para proporcionar, além da experiência sobre os cogumelos, uma alimentação baseada no cogumelo em conjunto com as nossas paisagens, as belezas naturais que nossa região tem”, propõem.
Durante esta pandemia, a Casa do Cogumelo ficou 45 dias fechada e, quando se estabeleceu o distanciamento controlado através das bandeiras, voltaram a atender com restrições e seguindo todas as normas. “No máximo atendemos de cinco a seis pessoas e isso afetou bastante a empresa, que teve uma redução de 90% no setor turístico, pois nosso foco eram grupos maiores, de 30 a 40 pessoas”, declara. Mas, para amenizar as perdas, Joel e a esposa apostaram fortemente nas redes sociais e na entrega do cogumelo (shitake e shimeji) a domicílio. “Isso deu uma alavancada de 20 a 30% nas vendas, dando uma suprida na perda que se teve no atendimento”, esclarece. Além disso, a demanda pelo produto aumentou. “Com o fato das pessoas estarem mais em casa, acabou que a procura pelos cogumelos está muito maior, pois as pessoas estão cozinhando mais. Isso contribuiu no crescimento das vendas”, finaliza.
Sem previsão para reabertura
A Adega Dom Camilo, em Nova Pádua, está desde o mês de maio fechada. Isso porque, assim que voltaram a atuar, o espaço de piqueniques ficou lotado, mesmo com as restrições da pandemia, e os proprietários perceberam as dificuldades em seguir todas as medidas preventivas. Conforme o sócio proprietário João Pedro Sonda, diariamente são recebidas ligações e mensagens questionando quando voltam a atender. “Atualmente estamos atendendo somente no varejo com a venda de produtos, o espaço para realização dos piqueniques permanece fechado por decisão própria. É difícil falar sobre essa previsão para a reabertura, pois se trata de uma situação totalmente insegura e imprevista”, declara Sonda.
Para ele, o espaço da Adega influencia muito na movimentação turística do município e da região, mas no cenário atual, a maior preocupação é com a saúde.
Outro empreendimento que está fechado é o Restaurante Famiglia Veadrigo, que compreende o Roteiro Compassos da Mérica Mérica. Conforme a sócia-proprietária Fabiane Veadrigo, 34 anos, a opção por fechar foi considerada devido a idade dos cozinheiros, pais de Fabiane, que compreendem o grupo de risco. “Não nos sentimos seguros em abrir o restaurante. Mas, por outro lado, a venda de vinhos da Vinícola Veadrigo aumentou, então focamos e direcionamos nosso trabalho para isso, dando um equilíbrio para o negócio”, informa Fabiane. De acordo com ela, a agenda do restaurante já conta com eventos de formatura para esse segundo semestre, mas a indecisão ainda ronda as datas.
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