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Religião: a fé contada por várias vozes

Crescimentos dos evangélicos e uma geração em busca de significados reconfiguram o cenário religioso de Flores da Cunha

O Brasil tem testemunhado uma transformação significativa no cenário religioso. A expansão das denominações evangélicas é uma tendência crescente, enquanto a população católica, tradicionalmente majoritária, está em redução. 
Flores da Cunha não está alheia a este cenário. O último Censo Demográfico, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010, apontou que o número de católicos no município caiu 9%, enquanto os evangélicos cresceram 5,5%. A expectativa é que essa tendência se mantenha nos próximos levantamentos, uma vez que o IBGE não divulga novos dados sobre a religião dos florenses há 14 anos.
O sociólogo e cientista político da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Augusto Neftali Corte de Oliveira, projeta que a população evangélica continuará aumentando nos próximos anos, mas ressalta que a tendência é que esse crescimento se estabilize.
— A leitura que fazemos é que existe um forte crescimento da população evangélica. Isso tende a crescer ainda mais. Nós trabalhamos com a ideia de que os evangélicos cheguem ao patamar de 40% da população, potencialmente superando o número de católicos. Ainda há espaço para o crescimento da população que se declara evangélica, embora não represente um crescimento sem limites. A partir desse patamar, podemos esperar que esse número chegue a um platô — sustenta.


Busca de sentido

A ascensão dos evangélicos pode ser atribuída a diversos fatores. A busca por uma espiritualidade mais direta e a ênfase na experiência pessoal com a fé que atrai muitos fiéis. As igrejas evangélicas têm se mostrado eficazes na mobilização social, oferecendo apoio comunitário e assistência em momentos de crise. Esse engajamento pode ser percebido na criação de redes de ajuda e na realização de eventos que fortalecem laços entre os membros.
O apóstolo Katalin Sales, da Igreja Ministério da Reconciliação, acredita que o aumento no número de evangélicos esteja relacionado a uma questão geracional.
— Na modernidade, dentro do contexto do crescimento dos evangélicos, na verdade, sempre estivemos inseridos na sociedade. Agora, uma nova geração surgiu, ousada e criativa, que entendeu como se fazer presente para que Cristo fosse conhecido — opina o evangélico.
Em contrapartida, a Igreja Católica, que por séculos foi a principal referência religiosa no país, enfrenta desafios que resultam em uma diminuição de fiéis. A crise de identidade e a falta de renovação nas práticas litúrgicas são alguns dos fatores que podem ter contribuído para essa perda. Em muitas comunidades, a presença católica tem se tornado menos visível, enquanto igrejas evangélicas se expandem, promovendo cultos mais dinâmicos e interativos.
Embora os evangélicos tenham conquistado novos espaços, os católicos ainda representam a maioria da população de Flores da Cunha: cerca de 85%, conforme o último Censo. Para o frei Jaime Bettega, a sociedade passa por um período de liberdade de escolha religiosa.
— O catolicismo é formado de pessoas e, onde há pessoas, há muitos acertos, mas também muitas falhas. Quem faz a escolha pela religião se sente consciente e se sente bem. Acho que vamos deixar de usar a expressão "sou católico relaxado". Não precisa ser relaxado, não seja então, mas escolha com clareza e inteligência — destaca o frei.
Augusto Neftali aponta ainda que o trabalho realizado pela igreja evangélica dialoga com a realidade da população. 
— Existem associações ligadas à igrejas evangélicas que proporcionam alguns serviços públicos. Por exemplo: o acolhimento de dependentes químicos e o incentivo à inserção profissional. Evidentemente, é muito importante a maneira como isso se relaciona com as comunidades — afirma o sociólogo da PUCRS.

Diálogo e diversidade

istãos têm a habilidade de dialogar e ressalta que o principal objetivo da Igreja Católica não é expandir o número de fiéis ou se contrapor aos evangélicos.
— As religiões mais tradicionais tem capacidade de diálogo, uma vez que o ponto principal não é aumentar o número de adeptos, mas ser uma ponte entre a criatura e o criador. Se há diálogo é porque também há uma serenidade na relação. Os seres humanos são diferentes entre si e podem escolher sua religião e ver qual se adequa ao seu jeito de ser. Isso é algo muito bonito e significativo. As tensões religiosas surgem quando Cristo não é o centro e queremos apenas ter mais adeptos — afirma.
O apóstolo Katalin Sales faz uma reflexão sobre a essência da fé evangélica, questionando a relevância do número de fiéis em relação à profundidade da conexão de cada um com Deus.
— De que adianta ter 70 milhões ou 80 milhões (de adeptos) e não amar o próximo como Jesus amou? De que adianta sermos 90 milhões e não servir à nossa comunidade? De que adiantaria sermos 100 milhões de evangélicos e vivermos uma vida como se não conhecêssemos a Deus? — questiona.
No contexto da diversidade religiosa em Flores da Cunha, os dados de 2010 também revelaram a presença de diferentes crenças e o aumento da identificação de indivíduos sem religião. Naquele ano, 1,3% da população se declarava ateia ou agnóstica, enquanto os espíritas e os testemunhas de Jeová representavam, respectivamente, 1,1% e 0,5% da população. Juntas, essas manifestações de fé totalizavam 786 florenses. O último Censo realizado pelo IBGE em 2022 revelou ainda que Flores da Cunha possui 60 igrejas ou templos religiosos.
 

 - Comunicação da Reconciliação/Divulgação
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