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R$ 7 milhões para solucionar o problema de enchentes no São Cristóvão

Em 2012, o bairro São Cristóvão presenciou uma tragédia. O taxista Olásio Minetto, 57 anos, morreu após ter seu veículo levado pela correnteza do Arroio Curuzu, que encheu com as chuvas e tomou as ruas da localidade. Foi o episódio mais traumático dos problemas de alagamentos que aterrorizam os moradores a cada previsão de chuva forte. Agora, mais de 12 anos depois, a prefeitura promete uma solução. Ontem (12), foi licitado, com proposta de duas empresas, o projeto de R$ 7 milhões para canalização de 320 metros ao longo da Rua Luiz Zanandrea.

A instalação de galerias irá começar na Avenida 25 de Julho, próximo a empresa Florense, e seguirá pela rua Luiz Zanandréa (interditada desde maio) até a ponte da Francisco Ascari. A previsão é que as obras iniciem ainda em setembro e o prazo de execução é previsto em seis meses.
O secretário municipal de Obras, Lucas Carenhato, explica que o projeto foi feito após estudos hidrológicos (45 dias) e geológicos (30 dias). Foram estes especialistas que indicaram o início da canalização do Arroio Curuzu por este ponto. Também foram feitos o projeto de engenharia e o licenciamento ambiental, passos necessários para o processo licitatório.

— O laudo hidrológico é bem complexo. Ele faz um estudo de toda bacia de captação, de todos os afluentes que chegam até aqui. Faz, inclusive, a previsão de expansão de área urbana para sabermos as áreas que vão estar impermeabilizadas. Com isso, é possível calcular o volume de água que passará dentro das galerias. Foi um estudo longo e demorado justamente por precisar fazer uma projeção. É uma obra complexa e não podemos resolver no achismo — pontua o secretário.
A prefeitura aponta que previa iniciar parte desta obra de canalização dentro do projeto de reformulação da Avenida 25 de Julho, que estava licitada e iniciaria no dia 6 de maio. Contudo, as fortes chuvas fizeram, no dia 1º de maio, a galeria sucumbir em função da enchente. Os estragos foram grandes e acabaram por facilitar a sondagem por parte da equipe técnica da prefeitura.

Assim que a burocracia for vencida, as obras iniciarão pela saída desta galeria, que fica na avenida 25 de Julho, ao lado da empresa Florense, onde desaguam dois arroios: o Curuzu e o o córrego que vem do Parque dos Pinheiros.
Além da construção da nova galeria pluvial, também será construída uma rotatória que estava prevista no projeto de melhorias da Avenida. Para essa etapa, o trânsito da 25 de Julho será desviado pelo pátio da antiga Lubritec (conforme o mapa).
A sequência desta galeria continuará por 320 metros paralelos a rua Luiz Zanadrea, acesso que está interditado desde maio em função do rompimento do asfalto. A última etapa é a remoção da ponte da rua Francisco Ascari, onde serão colocadas as galerias e será aterrado.  A previsão é que esta parte final da obra aconteça no primeiro semestre de 2025. 

— O estudo levantou cinco pontos de intervenção. O primeiro deles é esse que vamos fazer agora, (estes 320 metros) com os R$ 7 milhões. O segundo ponto é a ponte atrás do Mercado Grisa. Outro local é a ponte do campo do São Cristóvão, onde dentro do clube tem uma outra ponte precisa ser substituída. O quarto ponto que precisará de intervenção é na proximidade da Rua Guilherme Lucian, tem uma água que vem do Monte Belo. E o quinto é o direcionamento do rio em direção a Estrada Velha. Mas, só temos o projeto da primeira etapa. O restante não temos como precisar o valor que precisará ser investido — lista Carenhato, sem previsão para licitação e obras das demais intervenções necessárias. 

Sobre a Licitação - A melhor proposta apresentada que restou vencedora da concorrencia pública que trata da reconstrução da macrodrenagem da rua Luiz Zanandrea é do consórcio formado pelas empresas Prosul Empreendimentos e Construções Ltda e Tubossinos Tubos de Concreto para Saneamento com o Valor Global de  6.972.178,40. Todas as documentações, tecnicas e financeiras, apresentadas já foram avaliadas e aprovadas, aguardando apenas a formalização do Consórcio perante a Junta Comercial para que o certame seja homologado e para que o contrato e ordem de início sejam assinados.

Recursos - Os R$ 7 milhões orçados no projeto desta obra foram realocados após as enchentes de maio. Inicialmente, a verba estava prevista para a reformulação da Avenida 25 de Julho. Deste valor, R$ 5.825.000 são provenientes do excesso de arrecadação pela concessão da Corsan. Outros R$ 31.690 vem das indenizações da instalação do Condomínio Horizontes. Por fim, R$ 1.143.310 são do orçamento próprio da prefeitura.
 

“Desde 2003, foram cinco enchentes. Três foram devastadoras”

A preocupação constante com a possibilidade de chuvas atinge basicamente todos os moradores do bairro. Moradora há 20 anos do São Cristóvão, a publicitária Taís Elena Carpeggiani Gelain, 49 anos, afirma que cada vez que a previsão de chuva é acima de 30mm “todo mundo começa a ficar de cabelo em pé”.
Taís mora no ponto principal da obra que está para começar. Sua residência fica ao lado da ponte entre a Luiz Zanandréa e a Francisco Ascari. Durante as chuvas históricas de maio, a água tomou toda a via pública, invadiu o seu terreno e subiu cerca de 1,80 metro dentro de sua moradia.
Infelizmente, não foi uma novidade. Nas enchentes de novembro do ano passado, Taís e o marido Jean Gelain já haviam gastado cerca de R$ 20 mil para recuperar os pertences estragados pelas águas.
— Desde 2003, que é quando começamos a reformar a casa para morar, já foram cinco enchentes, sendo três delas muito devastadoras. Foram dois momentos bem ruins: a enchente de 17 de novembro para nós, em termos de perdas,  foi pior. Não estávamos em casa e, quando chegamos, já estava tudo alagado. A água subiu cerca de 1,20 metro — relembra.
O segundo episódio é o mais recente, quando a água subiu ainda mais, mas os prejuízos foram menores.
— Já em maio deste ano, tiramos o que deu da garagem, mas mesmo assim, tinham coisas que eram mais difíceis de remover e acabamos perdendo de vez. A água chegou a 1,8m, quase dois metros — conta Taís.
Com a expectativa de finalmente ver as obras começarem em busca de uma solução, Taís ressalta que há muito a ser feito e pede comprometimento dos candidatos desta eleição.
— A minha mensagem para os três candidatos (a prefeito) é que São Cristóvão não pode esperar mais quatro anos para ver soluções nestes problemas dos alagamentos. Nosso grupo de moradores também está em cima dos políticos, Executivo e Legislativo, para que não deixem o São Cristóvão abandonado. Realmente espero que olhem para São Cristóvão. Independentemente de quem ganhar, precisamos de atenção. A administração atual está fazendo um movimento para solucionar o problema da falta de vazão do rio, mas é preciso continuar (por todo o bairro) — desabafa Taís.
 

“Não consigo dormir quando chove”

A empresária e ativista da causa animal, Justina Inês Sugare, 60, é outra que sofre com os problemas de alagamento no bairro. Moradora do São Cristóvão há três décadas, ela também possui um escritório na rua Guilherme Lucian, que já foi invadido mais de 10 vezes pelas águas em função das chuvas.
— A minha luta aqui com o rio é diária. Fizeram a canalização do campo errada e desviaram o curso do rio. Quando dá muita chuva, a água invade. Ainda mais para mim aqui, com os cachorros (abrigados), acaba sendo sempre uma novela. Dá bastante problemas. Lembro que quando fizeram esta galeria, uns 30 anos atrás, nós avisamos que não iria ficar bom, que não daria certo. Agora, disseram que irão fazer uma obra para melhorar. Não interessa se é época de eleição, eu quero que alguém faça alguma coisa — desabafa.
Justina relata que nunca tinha acontecido uma enchente como a de maio. Ela testemunhou diversas casas com a água acima da janela. A preocupação de Justina é maior por terem dezenas de cachorros da ONG Upeva no pátio.
— Antes, a água do rio ficava no campo. Só que dessa última vez estourou o muro e veio uma onda. Não consigo mais dormir à noite cada vez que chove. Só em maio, entrou água três vezes no meu espaço. Isso que limparam o rio depois que briguei muito. Eu não sei o que iria acontecer se não tivessem limpado. E eu espero, sinceramente, que eles façam alguma coisa, pois estou bem cansada para ficar carregando 80 cachorros doentes de um lado para outro. Essa obra é muito necessária para muitos moradores terem uma vida digna — reforça a ativista Justina.  
 

 

 - Antonio Galvão Situação do bairro em maio de 2024 - Tais Carpeggiani
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