O documentário 'Dayendji - Vida de Imigrante' será lançado nesta sexta-feira (6)
A ideia do curta-metragem nasceu da necessidade de humanizar os imigrantes haitianos na Serra Gaúcha e divulgar as músicas do artista local
Mostrar à comunidade florense que os novos moradores da Terra do Galo não são apenas imigrantes, mas pessoas com talentos, sonhos e uma rica bagagem de vida. Esse é o objetivo do documentário "Dayendji - Vida de Imigrante", que será lançado nesta sexta-feira (6) no Youtube. Idealizado pelo diretor Nícolas Mabilia, o filme conta a trajetória de Damisson Noel, o MC Dayendji, um jovem artista haitiano que, aos 16 anos, deixou seu país em busca de uma nova vida em Flores da Cunha. A produção promete explorar, através de um olhar intimista, as camadas da adaptação cultural, do racismo e dos desafios enfrentados por estrangeiros.
Foi há quatro anos, durante a gravação de um simples videoclipe, que Mabilia encontrou o compositor que se tornaria posteriormente o protagonista de seu documentário.
— Eu achei ele (Dayendji) muito talentoso. Achei inusitado, aqui em Flores da Cunha, um imigrante com o sonho de ser rapper. Ele fala muito sobre a luta dele por ser imigrante e negro (nas músicas). Achei isso muito interessante — relembra Mabilia.
O diretor revela que o sonho de contar a história do jovem artista já o acompanhava há anos. No entanto, a produção foi adiada devido à falta de oportunidades, até que o edital da Lei Paulo Gustavo possibilitou a concretização desse projeto tão aguardado.
O documentário vai além de uma biografia. A história é uma narrativa de resistência. Hoje, aos 24 anos, o músico sonha com o reconhecimento no mundo do rap, enquanto enfrenta diariamente os desafios de ser um imigrante em um país estrangeiro.
— Sempre quis contar a história do Dayendji. Acho que a questão da imigração aqui em Flores da Cunha não é que seja uma segregação, mas eu acho que não existe uma comunidade. Parece que eles (os imigrantes) não são inseridos; parece que há Flores da Cunha e os imigrantes que moram em Flores da Cunha — avalia.
Conforme o diretor, que também assina a fotografia e a edição do curta, a obra busca humanizar os imigrantes e aproximar os habitantes da Terra do Galo, uma cidade também de imigrantes italianos, ao contar as histórias dessa nova população que chegou a Flores da Cunha. Os depoimentos do rapper são alternados com as músicas compostas por ele, buscando também divulgar a arte local.
— Contando a história do Dayendji, que é uma história positiva, acredito que isso pode agregar à cidade e mostrar que os imigrantes haitianos não são apenas imigrantes. Eles são pessoas com histórias para contar.
Damisson Noel transforma os obstáculos em arte. Há cinco anos soltando a voz, Dayendji retrata em suas músicas fragmentos da sua história como estrangeiro, o amor pelos pais e suas raízes culturais, com letras em crioulo e também em português, almejando inspirar pessoas não apenas no município, mas em todo o mundo.
— Cheguei (em Flores da Cunha) com apenas 16 anos e falava só crioulo e francês, que são as nossas línguas. Tive que dar um jeito de me virar, de ver como podia conversar com as pessoas. Ninguém me conhecia e eu também não conhecia ninguém, além da minha família. É difícil chegar em um país onde você não conhece ninguém. A dificuldade que passamos, inclusive em Flores da Cunha, todo mundo sabe. Antigamente, era difícil para os estrangeiros; sofríamos muito preconceito por causa da nossa cor e por sermos imigrantes. As pessoas achavam que a gente era diferente — relata o rapper
— Eu sou um cara forte. Tudo que eu já passei peguei e transformei na minha história para cantar para as pessoas. Tudo virou arte; algumas coisas que aconteceram comigo eu transformei em rimas, como uma missão para mim — complementa.
No filme, composições como “Thug Love”, “O Mãe” e “Vida de Imigrante”, onde o cantor relata a sua vivência em um país diferente, estão presentes. O documentário pode ser acessado nas redes sociais do rapper, disponível no YouTube (Dayendji Rap) e no Instagram (mc_dayendji).
— Com esse documentário, espero ganhar mais visibilidade, para que as pessoas me conheçam e saibam quem sou eu, quem é o MC Dayendji. Quero que minha história também consiga inspirar as pessoas a lutarem pelos seus sonhos, principalmente os imigrantes. Não só os daqui de Flores da Cunha, mas em qualquer lugar do mundo. Para que eles saibam que são iguais a todo mundo, que têm talentos e sonhos, e que a história deles é linda. O respeito vem primeiro — finaliza Dayendji.
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