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Moradores de rua habitam Poliesportivo

Ginásio inacabado serve de moradia para três pessoas. Estruturas dos carros alegóricos da Fenavindima servem de cozinha e dormitório

Restos de comida, manchas de óleo de cozinha na terra e no cascalho. Peças de roupa e calçados espalhados ao lado de colchões. Ao fundo, um varal improvisado. Pertinho dali, o fogo de chão, com duas chaleiras e uma panela. No mesmo cenário, o inacabado ginásio poliesportivo de Flores da Cunha, inclua 13 carros alegóricos utilizados na 12ª Festa Nacional da Vindima. Destes, pelo menos três viraram cozinha e dormitório por três andarilhos que não têm onde morar e retornaram ao município depois de receberem apoio do poder público.

Clair Antônio Barreto, 39 anos, é natural do Paraná. Airton Nestor Salvaterra, 45 anos, é de Espumoso (centro-norte gaúcho). Maria Marisete Gonçalves da Rosa, 51 anos, nasceu em Jaquirana, nos Campos de Cima da Serra. Em comum, eles têm o endereço – atualmente o poliesportivo – e o abandono da família. Barreto e Maria são companheiros. Há ainda um quarto amigo, internado no Hospital Fátima com sérios problemas de saúde. “Ele bebia demais”, aponta Barreto.

O tempo exato eles não sabem definir, porém, residiram em uma casa abandonada da Rua Ernesto Alves, entre a avenida 25 de Julho e a rua Frei Eugênio. Depois, foram para debaixo da escadaria da Câmara de Vereadores. De lá, receberam auxílio da prefeitura e deixaram a cidade. Retornaram há cerca de 10 dias e se instalaram na estrutura ao lado do Centro Municipal de Esportes e Lazer (Cemel). Antes de vir para Flores da Cunha, o trio residia em Osório – entre outras cidades por onde passaram. “Se nos conseguirem passagens de ônibus, vamos embora. Gostaríamos de ir para Capão da Canoa. Viver assim é difícil”, diz Maria, mãe de oito filhos.

A vida difícil também se refere à distância da família. Todos têm a sua, mas acabaram por viver na rua. Lágrimas correm nas faces de Maria e Salvaterra quando o tema é abordado. “Quem vive na rua cuida dos amigos”, prega Salvaterra, que tem parentes em Flores da Cunha. O mesmo Barreto que denunciou o problema de saúde do “amigo” mostra um tonel, cheio até a borda com embalagens plásticas, ao lado do varal. “Esse é o nosso problema”, revela, apontando com a mão calejada para dezenas de garrafas de cachaça vazias. “Catamos latas e fazemos alguns serviços por aí. Ganhamos comida e vamos vivendo”, resume Barreto, que chegou a ter uma profissão: soldador.

O trio foi abordado pela reportagem do O Florense na manhã de quinta-feira, dia 12. Barreto e Maria dormiam em uma cama improvisada dentro de um carro alegórico. Salvaterra dormia debaixo do mesmo carro, em cima de dois colchões. Acordados pelo barulho dos passos no cascalho, todos foram solícitos em contar suas histórias. Falando ao mesmo tempo, queriam ser ouvidos. Encolhidos com o vento frio que cruzava a estrutura do poliesportivo, pediram licença para, perto dali, não deixar o fogo apagar. Passava do meio-dia e o almoço seria providenciado. O cardápio? Maria não soube dizer. Estava indefinido. Como o futuro deles.

O que diz a prefeitura
Por meio de nota, a Secretaria de Desenvolvimento Social informa que todos os meios legais foram tomados para impedir que moradores de rua utilizem espaços públicos como moradia. No caso das pessoas que estão utilizando a estrutura do ginásio de esportes como abrigo, todas foram identificadas pelo Departamento de Assistência Social. Em outra ocasião, os sem-teto receberam atendimento médico, encaminharam novos documentos e receberam moradia provisória, roupas e alimentos. Além disso, o posto do Sine fez o encaminhamento deles para vagas de emprego.

Segundo o secretário Samuel de Barros Dias, o trio recusou o trabalho oferecido e pediu auxílio financeiro para adquirir passagens de ônibus para retornarem as suas cidades de origem. Agora, passados aproximadamente dois meses, eles retornaram à Flores. Para Barros, isso ocorreu, em parte, pelo fato de a comunidade florense ter auxiliado os moradores de rua, o que “enfraquece as ações de políticas sociais do município”. Segundo ele, as assistentes sociais da prefeitura estiveram no poliesportivo, porém, ninguém foi encontrado.

Sobre os carros alegóricos, a Secretaria de Turismo, Indústria, Comércio e Serviços esclarece que as estruturas usadas na Festa Nacional da Vindima (Fenavindima) serão retiradas do ginásio nesta sexta-feira, dia 13. O imóvel utilizado pela prefeitura como depósito no bairro Aparecida teve o seu contrato renovado em abril. Desde então, foi necessário organizar o espaço para armanezar os materiais utilizados na Festa. A limpeza foi concluída nesta semana e, agora, os carros alegóricos serão encaminhados para o mesmo pavilhão.
Abaixo:
- Barreto, Maria e Salvaterra: falta de oportunidades.
- Galo tem como companhia camas dos andarilhos.



Prefeitura prometeu retirar carros alegóricos e resolver a situação ainda nesta sexta-feira. - Fabiano Provin
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