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Com um clima cada vez mais instável, a geada, a seca e as chuvas intensas representam um desafio significativo para os produtores de uvas. As adversidades climáticas podem comprometer a qualidade e a produtividade das safras. Dentre as diferentes estratégias adotadas pelos vinicultores para se previnir, a irrigação por aspersão tem ganho cada vez mais adeptos na região.

O método, baseado na aplicação contínua de água sobre os brotos, transforma a água em gelo, criando uma camada protetora que mantém os brotos a zero grau célsius. 

Produtor entre as comunidades de Nova Roma e Santa Bárbara, Renato Bassanesi é testemunha dos benefícios. Ele implementou o sistema de irrigação há 15 anos para proteger as parreiras de sua propriedade familiar de 4,5 hectares.

— Esse sistema protege tanto da geada quanto auxilia durante períodos de seca — explica Bassanesi, que relembraa que o sistema também é utilizado para irrigar as parreiras.

Com um investimento inicial de R$ 150 mil, o agricultor afirma que o sistema já o salvou em quatro safras e provou seu custo-benefício ao longo dos anos. Bassanesi estima que, se fosse implementar o mesmo sistema hoje, o custo seria pelo menos quatro vezes maior.

Apesar dos benefícios, Bassanesi contextualiza que a irrigação por aspersão não é isenta de desafios.

— O limite de uso é a capacidade de água. O sistema é altamente dependente de energia e pode falhar devido a problemas mecânicos.
Ainda assim, a tecnologia se mostrou eficaz para manter a temperatura dos brotos adequada e evitar a queima durante as geadas, um problema comum quando as temperaturas ficam abaixo de 1ºC.

A Vinícola Boscato adota uma abordagem diferenciada para proteger as uvas vitis viníferas. A engenheira agrônoma Roberta Boscato explica que a escolha das variedades e a localização dos vinhedos dentro do terroir são cuidadosamente planejadas para minimizar os impactos das geadas. Cuidado técnico necessário, afinal não é possível fazer o uso de coberturas plásticas para proteger as uvas vitis viníferas contra a geada.

— Temos um estudo minucioso do nosso microclima, do nosso terroir e estabelecemos parcelas do vinhedo onde colocamos variedades precoces, mas que sofrem mais com a geada. (Posicionamos) onde sabemos que pela localização e pelo microclima vai ter menos impacto. Não é que não sofra, porque dependendo da intensidade da geada, sofre, mas minimizamos os danos com esses cuidados e com o manejo das podas.

A aplicação do conhecimento em controle biológico, adquirido ao longo de 30 anos, fortalece a resistência de cada variedade vinífera.

Irrigação por gotejamento

Pioneira na produção de vinhos finos no Brasil, a Vinícola Boscato utiliza a irrigação por gotejamento para mitigar os efeitos da variação climática. Diferente do sistema de irrigação por aspersão, o método não protege as uvas contra a geada. Utilizado para ajustar a quantidade de água de acordo com as variedades e as fases de desenvolvimento das uvas e com o terroir, o gotejamento é um aliado nos períodos de excesso ou escassa ocorrência de chuvas.

Roberta explica que este é um sistema especial que fica próximo ao solo e dimensiona o diâmetro da gota e a quantidade de água por parcela.

— Como as variedades precoces, intermediários e tardias foram plantadas em terroirs diferentes e em microclimas diferentes, com certeza, a quantidade de água necessária para cada uma dessas variedades será diferente, independente do período: brotação, floração, crescimento dos bagos ou maturação — aponta a engenheira agrônoma. 

Roberta Boscato, que também é especialista em viticultura e controle biológico, destaca que o sistema de gotejamento é essencial para gerenciar a demanda hídrica das uvas viníferas, especialmente em períodos de seca como acontece durante o fenômeno La Niña.

— O gotejamento permite uma irrigação precisa e adaptada às necessidades de cada variedade de uva e microclima — garante Roberta.