Geral

Em pauta, a demolição do prédio da prefeitura paduense

Projeto de lei do Poder Executivo para derrubada da edificação com mais de 70 anos entrará em votação na Câmara de Vereadores

Em 3 de agosto deste ano, o jornal O Florense informava que o salão comunitário de Nova Pádua iniciava seu processo de demolição para a construção de uma nova estrutura. Dois meses depois, O Florense volta a divulgar uma nova demolição no Pequeno Paraíso Italiano. Dessa vez, um projeto de lei encaminhado pela prefeitura à Câmara de Vereadores dispõe sobre a demolição do atual prédio do Centro Administrativo. Construída por volta de 1946, a edificação deverá ser demolida em virtude da nova prefeitura, que foi construída nos fundos do atual prédio. O projeto foi encaminhado pelo prefeito Itamar Bernardi (PMDB) em 8 de outubro. Na tentativa de uma enquete no município sobre a demolição, a maioria das pessoas consultadas preferiu não se manifestar sobre o assunto.

tual edificação seria derrubada por estar com sua estrutura avariada, além de apresentar instalações sanitárias e elétricas sobrecarregadas e corroídas. “Por tais motivos, demonstra-se economicamente inviável a reforma e adequação do imóvel para futura utilização”, aponta a justificativa da proposta. Conforme o prefeito em exercício Ronaldo Boniatti (PSDB), o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) foi consultado e foi constatado que o prédio não se enquadrava dentro dos itens para tombamento e nem com características arquitetônicas. “O prédio está deteriorado e uma reforma seria custosa. Optamos em preservar o prédio da Câmara de Vereadores, que está mais conservado”, esclarece Boniatti. O projeto prevê a preservação de alguns materiais para serem reutilizados pela administração em outras obras públicas.

Nova prefeitura
A nova prefeitura deverá ser inaugurada no mês de dezembro, entretanto, a mudança ocorrerá em novembro. Iniciada em 2011, tem uma área total construída de 1,5 mil metros quadrados e com três pavimentos, a edificação terá custo de R$ 1,5 milhão e foi construída na parte de trás do atual prédio. No local do ‘antigo’ Centro Administrativo será feito um estacionamento com ajardinamento.

Edificação era local de estudos
O prédio da atual prefeitura paduense foi construído por volta de 1946 para abrigar o moinho Ciro Munaro, o qual fabricava farinhas de milho e trigo para a região. Em 1949, após passar por reformas devido a um sinistro, o moinho deu lugar à Escola Sagrada Família, das irmãs de São José. A estrutura abrigou a escola até 1965, quando a instituição encerrou suas atividades.



A partir de 1968 os alunos foram transferidos para as dependências do Grupo Escolar e o prédio ficou desocupado até 1973. Nessa época, as Irmãs de São José o alugaram para o Estado com o intuito de atender aos alunos da Escola Estadual Luiz Gelain, devido à falta de espaço. Os alunos estudaram no local até 1991. Com a emancipação de Nova Pádua, em 1992, e tendo a necessidade de instalação da prefeitura, as irmãs alugaram o prédio – que foi comprado pela prefeitura em 1996. Na edificação da Escola Sagrada Família foi instalada a prefeitura, que permanece até os dias atuais.

Artigo
O que e para quem preservar?
Gissely Lovatto Vailatti*

O tempo é o senhor de todas as coisas, mas cabe àqueles capazes de transformar o espaço em que vivem a grande responsabilidade de servirem como guardiões da memória. Todos, indiferentes a diversidade cultural existente, têm um grande compromisso consigo mesmo. Não existe nada que possa provar que a nossa geração é melhor do que as que nos antecederam.

O tempo é o senhor de todas as coisas, mas cabe àqueles capazes de transformar o espaço em que vivem a grande responsabilidade de servirem como guardiões da memória. Todos, indiferentes a diversidade cultural existente, têm um grande compromisso consigo mesmo. Não existe nada que possa provar que a nossa geração é melhor do que as que nos antecederam.

Principalmente nas décadas de 1970 e 1980, foram sendo demolidas casas e casarões, queimados documentos e fotografias, o que de alguma forma não representasse o poder do Século 20, provenientes de uma ideologia consumista e de abrangência mundial. Junto com esta mudança ideológica, foram-se muitos resquícios que ligavam as pessoas as suas origens, que as faziam diferentes de outras existentes em outros lugares.

Por isso, é importante preservar alguns resquícios do passado. Porque todo o poder econômico gerado nesta terra é fruto de muito trabalho, fé e determinação, aceitemos isso, ou não, isso faz parte da nossa história. Foi um esforço contínuo, geração após geração, o que deve ser motivo de orgulho e não de vergonha.

Preservar significa manter, conservar e dar significados, tornar útil. Podemos exemplificar com a questão dos imóveis. Existem inúmeras formas de manter características históricas e ao mesmo tempo usá-los de forma moderna e inteligente. Existem lugares em nosso país onde o próprio poder público incentiva que se preserve ao menos as fachadas, podendo construir por trás delas espaços modernos e arrojados. Existem lugares onde o poder público auxilia por meio da isenção parcial de impostos as construções modernas, feitas com características arquitetônicas específicas de uma época.

A preservação pode acontecer no todo ou em partes, condizendo com as condições estruturais, quando bem conservadas ou em estado de ruína. Sendo viável, e um imóvel de importância comum, sem a menor dúvida, recomendasse o restauro. Não sendo viável, recomendasse a conservação, a manutenção e a troca das partes danificadas ou que apresentam perigo de perda total. Com toda a tecnologia que dispomos é possível fazer as mais variadas formas nos mesmos moldes que as originais. É possível trocar a fiação de luz, o encanamento, controlar as infiltrações, trocar a cobertura ou forro, pintar. Sem com isso descaracterizar ou demolir um lugar de memória. O que deve ser considerado não é o valor a ser investido, mas o valor que um determinado imóvel tem para população.

Muitas vezes faltam espaços para instalação dos arquivos históricos, públicos e/ou particulares, de museus, memoriais, de salas de leitura e pesquisa, de comunicação via internet, de salas para cursos, palestras, apresentações, de espaços para atividades culturais, educacionais ou sociais, locais para informações turísticas, entre tantas outras coisas. Por isso, quando existe a disposição de um imóvel que é referência para a história de um lugar, é preciso avaliar coletivamente.

É preciso organizar um conselho para os bens culturais, formá-lo com profissionais capacitados e atuantes em diversas áreas do conhecimento. É preciso mais que ouvir, porque às vezes, aos olhos e de alguns ou da maioria, não faz sentido preservar um determinado espaço, por mais significativo que seja para a história de um determinado lugar. É preciso discutir, elencar os prós e os contras, buscar informações sobre os possíveis usos, dar significância, buscar auxílio financeiro para a conservação junto aos órgãos competentes e, quando possível, torná-los uma forma de investimento. O que não se pode é ficar indiferente.

* Professora de História, pesquisadora e escritora.



Prédio que abriga a atual prefeitura (E) foi construído na década de 1940 e novo (D) será inaugurado em dezembro. - Danúbia Otobelli
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