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BM apura ação que teve homem baleado dentro de bar no bairro União

A Brigada Militar (BM) apura uma ação realizada em um bar de Flores da Cunha que terminou com um homem baleado na madrugada de sábado (31). A vítima é Andrius de Freitas, 21 anos, que segue internado no Hospital Nossa Senhora de Fátima. Testemunhas relatam um suposto abuso policial pela agressividade da ação e pelo disparo sem provocação.

Procurado pela reportagem, o 36º Batalhão de Polícia Militar (36º BPM) respondeu que “não será prestada nenhuma declaração enquanto não encerrada a apuração do fato pela Brigada Militar”. O capitão João Pedro, vice-comandante do 36º BPM, que tem sede em Farroupilha, afirma que o sigilo desta ocorrência acontece de acordo com diretrizes da BM e Secretaria Estadual de Segurança Pública.

— Teve um baleado, foi feita a ocorrência e está sendo investigada a atuação policial.  Quando acabar o procedimento investigatório, que tem um prazo de 30 dias, aí poderemos falar. Se houver uma irregularidade policial, o policial ou os policiais serão punidos. Se houver uma irregularidade pelo baleado ou outro preso terá a penalidade aplicada pelo Judiciário — resume o capitão.

Conforme apurado pela reportagem, a BM teria recebido seis denúncias no 190 sobre o bar do bairro União, por isso foi enviada uma viatura. Supostamente, as denúncias seriam sobre disparos de arma de fogo. A BM não confirma nem nega esta informação.  Na ação, duas pessoas foram presas em flagrante: o baleado (Andrius de Freitas) por apreensão de objetos ilegais e um segundo homem por resistência.

Procurada pela reportagem, a delegada de Flores da Cunha, Suelen Panizzon respondeu que está em voto de silêncio em apoio a Associação dos Delegados de Polícia (Asdep) que busca melhorias para a classe junto ao Governo do Estado.

 

Estado grave

Segundo familiares, Andrius de Freitas foi atingindo na barriga e está em estado grave. A cunhada Paola Soares dos Santos, 23, relata que o jovem está em um quarto especial e aguarda um leito em um Centro de Terapia Intensiva (CTI) em Caxias do Sul.

— Ele passou por uma segunda cirurgia, está entubado e lutando para poder sobreviver.  Ele teve uma parada cardíaca em meio à cirurgia, então tiveram que entubar — lamenta.

A cunhada relata que o tiro acertou a barriga de Andrius, mas a bala ficou alojada entre a coluna e o quadril.

— Está sendo um milagre ainda estar vivo. A bala está alojada nas costas e não conseguiram removê-la. Ele sofreu lesão nos órgãos e no momento está desacordado. Está tendo muita febre e pressão baixa — descreve.

Andrius trabalha na construção civil e é pai de duas crianças, Merillyn, de quatro anos, e Murilo, de um ano. No momento da ação policial, Andrius estava dentro do bar, que estava fechado, acompanhado de familiares e da esposa. A mulher também foi abordada pelos PMs e teve uma arma de choque apontada contra si.

“Nunca vi um filme de terror como nesse dia”

O proprietário do bar invadido, Gessi Bassani, 63, também denuncia a forma que a ação policial aconteceu. Ele relata que os PMs quebraram a porta do estabelecimento por volta das 4h de sábado (31), quando o bar estava fechado e recebia apenas conhecidos e familiares.

– Estávamos em sete pessoas aqui dentro. O bar tinha fechado pouco depois da 1h, então era só a minha família e amigos aqui dentro bebendo e jogando sinuca. Vi uma claridade (luz das viaturas) e, quando me aproximei (da entrada do bar), o policial veio com a porta e tudo. Ele arrombou a porta e chegou derrubando tudo. Quando se aproximou (da mesa de sinuca), atirou no cara (Andrius) que estava sentado. Ele primeiro deu um tiro no piá e depois começaram a dizer "queremos a arma, queremos a arma" — relata.

Segundo o comerciante, os policiais militares tinham a denúncia sobre um tiro no bairro e por isso estavam a procura de uma arma. Contudo, não havia nenhuma arma no estabelecimento e, segundo Bassani, nenhum dos presentes tinha envolvimento com o tal tiro.

Bassani afirma que, algumas horas antes da chegada dos policiais, eles ouviram os estampidos de disparos vindo do lado de fora. Segundo ele, é possível que os policiais tenham confundido a origem dos tiros.

– O tiro não foi aqui. Acredito que tenha sido lá no prédio (cerca de 500 metros do bar). Eu falei para o policial, vai lá no prédio, que o tiro foi lá, não foi aqui. Ele dizia "foi aqui, foi aqui". Eu nunca vi um filme de terror como nesse dia. Chegaram do nada, quebraram tudo e atiraram no piá sentado – relata o dono do Mini Bar GB.

Bassani também relata que havia um cachorro no estabelecimento no momento da ação policial. O comerciante afirma que os PMs demonstraram intenção de atirar no animal e detiveram outro dos presentes no bar.

– Eles queriam atirar no cachorro também, mas não atiraram porque o cara (um dos conhecidos de Gessi) pegou o cachorro e o defendeu. Aí os policiais pegaram esse cara e prenderam por desacato. Eu não quis bater foto aqui, porque eu fiquei apavorado. Tinha muito sangue por tudo. O cara que trabalha sempre para o bem, fazerem uma covardia que eles fizeram, isso é um abuso de autoridade – desabafa.

Após o incidente, Bassani afirma que procurou a Delegacia de Flores da Cunha, mas foi instruído a esperar por um chamado de policiais de Caxias do Sul para prestar depoimento.

– Fui na Polícia Civil, mas disseram que têm que esperar a polícia que vem de Caxias. Daí eles vão chamar para apresentar uma testemunha. Tudo que estragaram aqui dentro do bar, tudo quebrado porque jogavam no chão. Estou aguardando a polícia me chamar. Não é possível deixar assim, não pode invadir desta forma. Mesmo se tivesse denúncia, poderia chegar na porta com respeito. Eu já estava indo abrir a porta para ver quem era, não tinha porque arrombar e quebrar a porta – lamenta.

O proprietário do Mini Bar GB relata que, na tentativa de encontrar a suposta arma, os policiais levaram uma faca utilizada para cortar o salame vendido no bar.

— A porta ficou só os pedaços. Quebrou tudo, tinha pedaços para todo lado. Eles investigaram, procuraram e não encontraram nada aqui — reforça.

 

 

 - Antonio Galvão
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