“Ler e escrever é verso e reverso da mesma magia”
Uma apaixonada pela leitura e pela escrita. Assim é a madrinha da 33ª Feira do Livro de Flores da Cunha, Heloísa Carla Coin Bacichette, ou a Helô Bacichette. Natural de Caxias do Sul, ela é professora, formada em Licenciatura Plena em Letras, com especialização em Educação do Movimento, pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Por sete anos, participou da equipe de coordenação de projetos de promoção do livro e da leitura da Secretaria da Cultura de Caxias do Sul. Atualmente, integra o grupo de contadora de histórias da Biblioteca Pública de Caxias.
Publicou seu primeiro livro, O Amor em Três Tempos, em 1997. Dois anos depois, com a obra O Segredo da Escaramuça, conquistou o 1º lugar no 33º Concurso Anual Literário de Caxias do Sul (veja no quadro todas as obras). Seu próximo projeto é a sessão de autógrafos (dia 10 de junho, no Zarabatana Café) da antologia Poemas de Amor Adolescente, escrito com Sérgio Vieira Brandão, Mario Pirata e Angélica Carvalho. "Tenho muitos projetos e alguns já estão próximos da execução. Ainda para esse ano está previsto o lançamento de um novo livro pela editora Maneco. Trata-se de uma obra infanto-juvenil escrita à oito mãos, em português/ espanhol", adianta.
Nessa entrevista, Helô fala da importância de ser madrinha da Feira, do mercado literário no Brasil e o porquê optou por escrever histórias infantis.
O Florense: O que significa para a senhora ser madrinha da 33ª Feira do Livro de Flores da Cunha?
Heloísa Bacichette: Tenho uma ligação afetiva muito forte com Flores da Cunha e boas lembranças da minha infância, do meu primeiro encontro com o mistério do sanguanel, nas histórias contadas e recontadas tantas vezes por meu pai, que é filho da Terra. Foi em Flores que recebi grande parte do alimento para meu imaginário. Ser madrinha da 33ª Feira do Livro de Flores da Cunha é motivo de muita alegria e orgulho. Creio que pessoas apaixonadas pelo livro e pela leitura, sejam elas escritoras ou não, teriam o mesmo sentimento ao receber uma homenagem como essa em que o livro é a Estrela Maior.
O Florense: Desde quando a senhora escreve? Por que começou a escrever?
Heloísa: Profissionalmente, desde 1997, com a publicação do meu primeiro livro “ O amor em três tempos”. Gosto de utilizar a expressão “Ler e escrever é verso e reverso da mesma magia”. É isso... o meu ofício de escrever vem do contato intenso e permanente com essa experiência de descobertas, de reflexão e crítica que é LER. Ler e escrever são processos que andam juntos, um complementa o outro. A Leitura amplia universos e encontros. Escrever é um desafio para me inventar. Porém, ler e escrever nem sempre estão associadas ao prazer, pois tanto o ato de ler quanto o de escrever exige uma pré-disposição e ginástica mental. No meu caso, quanto mais leio, mais escrevo e quanto mais escrevo, mais aumenta o meu desejo de ler. Por isso mencionei que ler e escrever andam juntos. Tenho necessidade de ler e me é vital ler tanto quanto escrever. Mas ler no sentido mais amplo, as palavras, as pessoas, além do que está posto. Ler a vida, o mundo.
O Florense: Por que a senhora optou por escrever histórias para o público infantil?
Heloísa: Não lembro de ter planejado escrever para esse ou aquele público. Gosto de escrever. Na realidade, as coisas foram acontecendo na medida em que fui me (re)conhecendo como escritora e até por força das circunstâncias, do retorno dos meus primeiros leitores, das minhas vivências, dos meus trabalhos em diferentes espaços e públicos. Meu primeiro livro, por exemplo, pode ser considerado um livro para adolescentes. Mas não posso negar que dentro de mim sempre existiu um gosto muito particular pelo texto infantil. Me sinto muito à vontade com as crianças. Sou uma pessoa apaixonada pela vida, pelas pessoas e pelas coisas que faço e tenho facilidade para entrar no jogo do faz-de-conta e transitar no lúdico. Me entrego ao encantamento, ao assombro e muitas vezes me pego transitando no mundo dos sonhos, onde habitam as crianças. Aprendi e aprendo muito com elas. As crianças são as Majestades do Reino da Invenção.
O Florense: Qual é o papel de uma feira do livro?
Heloísa: A Feira do Livro é um evento que favorece a democratização da leitura. Pode haver lugar mais democrático do que a praça de uma cidade para oportunizar o acesso da população aos mais diferentes tipos de livros? É o lugar do encontro, da diversidade, da pluralidade cultural. Tempos atrás tive o prazer de conversar com alguns escritores sobre a importância desse tipo de evento literário. E, se não me falha a memória, o escritor Wagner Costa comparou as Feiras de Livros com Feiras de Frutas. Para ele, a palavra feira remetia a diferentes sabores. Essa fala ficou gravada na minha cabeça. É incrível, mas quando transito nos corredores das feiras que visito faço uma associação gastronômica e depois que degustar alguns sabores consigo abrir a porta para outras experiências. A imagem que construí a partir da fala do Wagner e das minhas experiências pessoais em relação a leitura se aproximam muito, pois me remetem aos sabores que a leitura pode oferecer: doces, amargos, ácidos, suaves, picantes.
O Florense: Como a senhora vê o mercado literário no Brasil? E o que deveria ser feito para incentivar a leitura dos brasileiros?
Heloísa: Esse é um assunto muito complexo que exige várias reflexões. No meu ponto de vista essa questão é muito ampla e não diz respeito somente a uma análise em nível nacional, mas mundial. A produção editorial no mundo inteiro é vertiginosa. Tudo pode ser publicado e aí está o perigo, pois, muitas vezes, as pessoas não estão preparadas para escolher suas leituras. A produção digital está ganhando espaço e o acesso ao livro está sendo ampliado via programas de leitura. Está acontecendo uma grande mudança em relação aos formatos de livros que estão sendo oferecidos para os leitores de hoje. Os e-books, por exemplo, atendem a um determinado público e estimulam a leitura sem que isso necessariamente represente a morte do livro impresso. Mas, assim como eu, muitas pessoas respeitam os outros “suportes”, mas não abrem mão do papel. Isto é, sentem necessidade de explorar sensorialmente o livro e prazer em folheá-lo. Em relação ao mercado brasileiro sinto que há um esforço por parte de alguns editores em buscar a qualificação do produto. E, em especial, a literatura infanto-juvenil percebe-se um boom em relação a outros tempos. Hoje temos uma produção de livros para crianças e jovens de alto nível, com qualidade literária fantástica. Porém, ainda se vê muitas publicações que comprometem. Aqui abro um parênteses para chamar a atenção de pais e professores em relação a escolha dos livros que irão alcançar para suas crianças.
O Florense: O que lhe despertou a vontade de escrever?
Heloísa: O gosto pela palavra. Quando escrevo converso comigo e com o mundo. Muitas vezes as idéias e os sentimentos não cabem dentro de mim. Então, abro a porta do meu imaginário e busco elementos para expressar esses sentimentos e ideias de um outro jeito, com um outro olhar.
O Florense: Tem algum escritor que te instigou no início?
Heloísa: Tive o privilégio de ser aluna dos escritores: José Clemente Pozenato, Jayme Paviani e Oscar Bertoldo. Foram eles que apontaram caminhos, me desafiaram nesse processo de me descobrir como leitora crítica e, mais tarde, como escritora. A partir desse contato pude ampliar significativamente meus horizontes de leitura. Posteriormente, me encantei pela alegria do texto do Urbim e pela prosa poética do Wagner Costa.
Sou e sempre serei grata ao querido amigo, o grande poeta “Elias José”, falecido em 2008. Elias me inspirou e me instigou a ler mais e a aprimorar minha produção, buscando a qualidade estética. É um exemplo a ser seguido tanto pela qualidade da sua obra, quanto pela pessoa generosa que foi. Elias foi um leitor crítico do meu texto infanto-juvenil e de textos no gênero que escrevi com a escritora e amiga, Eloir Alves Fernandes.
Obras
2008 - T de Ti, T de Ta; 2008 – Kimbalo; 2007 – Au ou Miau sentimentos tudo igual; 2007 – O Enigma do Caixão; 2006 – História é pra contar – Antologia de Contos Populares; 2006 – Mirabolês e a Chave dos Sonhos; 2005 – Histórias de Amor Adolescente; 2003 – O Enigma das Caixas – Co-autora; 2000 – O Segredo da Escaramuça e 1997 – O Amor em Três Tempos.
Publicou seu primeiro livro, O Amor em Três Tempos, em 1997. Dois anos depois, com a obra O Segredo da Escaramuça, conquistou o 1º lugar no 33º Concurso Anual Literário de Caxias do Sul (veja no quadro todas as obras). Seu próximo projeto é a sessão de autógrafos (dia 10 de junho, no Zarabatana Café) da antologia Poemas de Amor Adolescente, escrito com Sérgio Vieira Brandão, Mario Pirata e Angélica Carvalho. "Tenho muitos projetos e alguns já estão próximos da execução. Ainda para esse ano está previsto o lançamento de um novo livro pela editora Maneco. Trata-se de uma obra infanto-juvenil escrita à oito mãos, em português/ espanhol", adianta.
Nessa entrevista, Helô fala da importância de ser madrinha da Feira, do mercado literário no Brasil e o porquê optou por escrever histórias infantis.
O Florense: O que significa para a senhora ser madrinha da 33ª Feira do Livro de Flores da Cunha?
Heloísa Bacichette: Tenho uma ligação afetiva muito forte com Flores da Cunha e boas lembranças da minha infância, do meu primeiro encontro com o mistério do sanguanel, nas histórias contadas e recontadas tantas vezes por meu pai, que é filho da Terra. Foi em Flores que recebi grande parte do alimento para meu imaginário. Ser madrinha da 33ª Feira do Livro de Flores da Cunha é motivo de muita alegria e orgulho. Creio que pessoas apaixonadas pelo livro e pela leitura, sejam elas escritoras ou não, teriam o mesmo sentimento ao receber uma homenagem como essa em que o livro é a Estrela Maior.
O Florense: Desde quando a senhora escreve? Por que começou a escrever?
Heloísa: Profissionalmente, desde 1997, com a publicação do meu primeiro livro “ O amor em três tempos”. Gosto de utilizar a expressão “Ler e escrever é verso e reverso da mesma magia”. É isso... o meu ofício de escrever vem do contato intenso e permanente com essa experiência de descobertas, de reflexão e crítica que é LER. Ler e escrever são processos que andam juntos, um complementa o outro. A Leitura amplia universos e encontros. Escrever é um desafio para me inventar. Porém, ler e escrever nem sempre estão associadas ao prazer, pois tanto o ato de ler quanto o de escrever exige uma pré-disposição e ginástica mental. No meu caso, quanto mais leio, mais escrevo e quanto mais escrevo, mais aumenta o meu desejo de ler. Por isso mencionei que ler e escrever andam juntos. Tenho necessidade de ler e me é vital ler tanto quanto escrever. Mas ler no sentido mais amplo, as palavras, as pessoas, além do que está posto. Ler a vida, o mundo.
O Florense: Por que a senhora optou por escrever histórias para o público infantil?
Heloísa: Não lembro de ter planejado escrever para esse ou aquele público. Gosto de escrever. Na realidade, as coisas foram acontecendo na medida em que fui me (re)conhecendo como escritora e até por força das circunstâncias, do retorno dos meus primeiros leitores, das minhas vivências, dos meus trabalhos em diferentes espaços e públicos. Meu primeiro livro, por exemplo, pode ser considerado um livro para adolescentes. Mas não posso negar que dentro de mim sempre existiu um gosto muito particular pelo texto infantil. Me sinto muito à vontade com as crianças. Sou uma pessoa apaixonada pela vida, pelas pessoas e pelas coisas que faço e tenho facilidade para entrar no jogo do faz-de-conta e transitar no lúdico. Me entrego ao encantamento, ao assombro e muitas vezes me pego transitando no mundo dos sonhos, onde habitam as crianças. Aprendi e aprendo muito com elas. As crianças são as Majestades do Reino da Invenção.
O Florense: Qual é o papel de uma feira do livro?
Heloísa: A Feira do Livro é um evento que favorece a democratização da leitura. Pode haver lugar mais democrático do que a praça de uma cidade para oportunizar o acesso da população aos mais diferentes tipos de livros? É o lugar do encontro, da diversidade, da pluralidade cultural. Tempos atrás tive o prazer de conversar com alguns escritores sobre a importância desse tipo de evento literário. E, se não me falha a memória, o escritor Wagner Costa comparou as Feiras de Livros com Feiras de Frutas. Para ele, a palavra feira remetia a diferentes sabores. Essa fala ficou gravada na minha cabeça. É incrível, mas quando transito nos corredores das feiras que visito faço uma associação gastronômica e depois que degustar alguns sabores consigo abrir a porta para outras experiências. A imagem que construí a partir da fala do Wagner e das minhas experiências pessoais em relação a leitura se aproximam muito, pois me remetem aos sabores que a leitura pode oferecer: doces, amargos, ácidos, suaves, picantes.
O Florense: Como a senhora vê o mercado literário no Brasil? E o que deveria ser feito para incentivar a leitura dos brasileiros?
Heloísa: Esse é um assunto muito complexo que exige várias reflexões. No meu ponto de vista essa questão é muito ampla e não diz respeito somente a uma análise em nível nacional, mas mundial. A produção editorial no mundo inteiro é vertiginosa. Tudo pode ser publicado e aí está o perigo, pois, muitas vezes, as pessoas não estão preparadas para escolher suas leituras. A produção digital está ganhando espaço e o acesso ao livro está sendo ampliado via programas de leitura. Está acontecendo uma grande mudança em relação aos formatos de livros que estão sendo oferecidos para os leitores de hoje. Os e-books, por exemplo, atendem a um determinado público e estimulam a leitura sem que isso necessariamente represente a morte do livro impresso. Mas, assim como eu, muitas pessoas respeitam os outros “suportes”, mas não abrem mão do papel. Isto é, sentem necessidade de explorar sensorialmente o livro e prazer em folheá-lo. Em relação ao mercado brasileiro sinto que há um esforço por parte de alguns editores em buscar a qualificação do produto. E, em especial, a literatura infanto-juvenil percebe-se um boom em relação a outros tempos. Hoje temos uma produção de livros para crianças e jovens de alto nível, com qualidade literária fantástica. Porém, ainda se vê muitas publicações que comprometem. Aqui abro um parênteses para chamar a atenção de pais e professores em relação a escolha dos livros que irão alcançar para suas crianças.
O Florense: O que lhe despertou a vontade de escrever?
Heloísa: O gosto pela palavra. Quando escrevo converso comigo e com o mundo. Muitas vezes as idéias e os sentimentos não cabem dentro de mim. Então, abro a porta do meu imaginário e busco elementos para expressar esses sentimentos e ideias de um outro jeito, com um outro olhar.
O Florense: Tem algum escritor que te instigou no início?
Heloísa: Tive o privilégio de ser aluna dos escritores: José Clemente Pozenato, Jayme Paviani e Oscar Bertoldo. Foram eles que apontaram caminhos, me desafiaram nesse processo de me descobrir como leitora crítica e, mais tarde, como escritora. A partir desse contato pude ampliar significativamente meus horizontes de leitura. Posteriormente, me encantei pela alegria do texto do Urbim e pela prosa poética do Wagner Costa.
Sou e sempre serei grata ao querido amigo, o grande poeta “Elias José”, falecido em 2008. Elias me inspirou e me instigou a ler mais e a aprimorar minha produção, buscando a qualidade estética. É um exemplo a ser seguido tanto pela qualidade da sua obra, quanto pela pessoa generosa que foi. Elias foi um leitor crítico do meu texto infanto-juvenil e de textos no gênero que escrevi com a escritora e amiga, Eloir Alves Fernandes.
Obras
2008 - T de Ti, T de Ta; 2008 – Kimbalo; 2007 – Au ou Miau sentimentos tudo igual; 2007 – O Enigma do Caixão; 2006 – História é pra contar – Antologia de Contos Populares; 2006 – Mirabolês e a Chave dos Sonhos; 2005 – Histórias de Amor Adolescente; 2003 – O Enigma das Caixas – Co-autora; 2000 – O Segredo da Escaramuça e 1997 – O Amor em Três Tempos.
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