“O esporte transformou a minha vida”
Atleta Tatiane Corso Giotti encontrou na natação e no surfe adaptado, a força e a inspiração para continuar vivendo
O dia 11 de fevereiro de 2018 será lembrado para sempre por Tatiane Corso Giotti. Naquele sábado, um casal de amigos convidou ela e as filhas Gabriele e Ingrid para irem à missa. Só que a ida se transformou em uma tragédia. Um carro acabou colidindo com o veículo em que estava Tatiane e ela foi arremessada por cerca de 20 metros para fora. “Na hora só senti que as minhas costas arderam, um formigamento nas minhas pernas e não senti mais nada. Com o impacto, lesionei a medula e a partir daquele momento, embora sem o diagnóstico de um profissional, sabia que estaria numa cadeira de rodas”, relembra ela.
Depois do acidente, Tatiane, que era uma pessoa bastante extrovertida, se deprimiu e se afastou dos amigos. Para superar isso, ela encontrou no esporte, mais precisamente na natação e no surfe adaptado, uma nova inspiração para continuar vivendo. “O esporte transformou minha vida”, conta. A oportunidade surgiu ao conhecer a L’agua, associação patrocinada pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Conforme o professor Lucas Freut Gil, que trabalha com pessoas com deficiência física, o esporte pode ajudar na construção de uma nova imagem corporal e oferece outras perspectivas. “O esporte é uma ferramenta de empoderamento, onde a Tati descobriu seu potencial para outras possibilidades que talvez antes do acidente ela nem sabia que existiam”, acredita Gil.
A esportista iniciou as aulas de natação e devido a dedicação começou a integrar o time da UCS. Já na primeira competição, a atleta conquistou o título nas modalidades de 50m e 100m. “A natação me tornou uma pessoa melhor. Passei a entender o que aconteceu comigo e me aceitar”, ressalta. Um grande desafio veio em setembro de 2019, em Santa Catarina, quando ela conquistou o título dos 600m em mar aberto. “Essa foi a minha primeira experiência no mar. Antes da prova eu pensei em desistir, mas pensava que cada braçada era um merecimento meu por estar naquele lugar, no meio de pessoas normais, sem deficiência. Não é por um troféu ou qualquer medalha, mas foi uma conquista que mostrou a força e a capacidade que tenho”, destaca ela, que conheceu o surfe adaptado por meio de entidade que realiza atividades com pessoas com deficiência, o Garopas.
A atleta de 43 anos tem uma rotina intensa de treinos e se desloca até Caxias do Sul duas vezes por semana para treinar a natação. Há ainda as aulas de fisioterapia e academia. “Vejo o esporte como um auxílio para mudar o foco. Ela deixa de olhar o que não consegue e passa a focar no que pode conseguir. No caso da Tatiane, os membros inferiores estão paralisados, mas os superiores estão em condições e precisam mais do que nunca serem fortalecidos, até mesmo para facilitar o deslocamento com a cadeira de rodas, além de melhorar ainda mais os resultados nas competições de natação e surfe adaptado”, explica a fisioterapeuta Dayana Floriani. Além da natação e do surfe adaptado, a cadeirante pretende fazer canoagem. “É uma modalidade que eu quero conhecer mais adiante. Se tiver condições, quero comprar uma bicicleta motorizada. Sei que os custos são elevados, mas ela facilitaria bastante o meu deslocamento”, torce.
Nova Vida
Presente no momento do acidente, a filha Ingrid lembra que a mãe levava uma vida normal e o acidente mudou a vida não só dela, mas também do marido Vicente Giotti e das filhas Érica, Jéssica, Daiane e Gabriele, que também acompanhava a mãe no dia do acidente. “Ajudo nos deveres de casa e acompanho ela no posto de saúde, hospital e nos treinamentos na universidade. Ela nos ensina todos os dias que não existem limites para viver”, diz Ingrid.
Para Tatiane, o esporte fez com que enxergasse a vida de outra maneira. “Em alguns momentos acho que sou mais feliz agora do que antes. Hoje eu dou mais valor para as pequenas coisas. Eu agradeço a Deus porque, apesar de ter fechado uma porta, está me oferecendo outras oportunidades. Todos os dias, quando eu acordo, mentalizo para mim que nada é impossível”, finaliza Tatiane, que solicita maior apoio de patrocinadores para participar das competições.
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