Economia

O impacto do aço nas metalúrgicas

Principal matéria prima do setor teve aumento de mais de 60% em 2020 e elevações continuam

Escassez e aumento. Duas palavras que estão rondando as empresas metalúrgicas que têm o aço a sua principal matéria prima. A realidade dos reajustes no valor e a falta do produto vêm sendo o principal desafio em 2020 e 2021. 
Conforme o Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul e Região (Simecs), 68% das empresas da região observaram reajustes de mais de 61%, em 2020 e a tendência vem se mantendo. “No primeiro trimestre do ano, 82% das empresas já revelaram ter recebido aumentos de até 20%. Há depoimentos de empresários que registram aumento acumulado (2020 e 2021) de até 225%”, relata a pesquisa realizada pelo Sindicato. O levantamento feito pela entidade ainda mostra que, para o próximo trimestre, algumas usinas já sinalizaram mais elevação, indicando que, se acumulados, os reajustes sofridos extrapolam qualquer comparação com a inflação do período.
O vice-presidente de Relações Institucionais do Simecs, Ruben Bisi, destaca diversos fatores para o aumento dos preços, e tudo a nível mundial. “O cenário mundial vem de uma desorganização nas cadeias de insumos, além da desorganização na logística, com poucos navios para realizar o transporte”, elenca. Isso tudo agregado às baixas de estoques, já que a demanda por aço aumenta a cada dia. 
Bisi salienta que a Austrália é a maior produtora de minério de ferro e a China a maior exportadora. Os dois países cortaram relação por conta da Covid-19, o que fez aumentar ainda mais os valores. “Atualmente a produção do aço já está aumentando, mas depende de fornos que demoram quatro meses para aquecer – dois estão previstos para serem religados neste mês de junho”, informa. 
Dentro de um cenário brasileiro, as usinas já repassaram em torno de 80% de aumento, mas o problema está nas distribuidoras. Conforme Bisi, os empreendedores de pequeno e médio porte, que compram apenas de distribuidoras, receberam um aumento foi de 220%. 
“Temos quatro pontos positivos neste momento: o dólar que está caindo, a baixa do frete internacional, a estabilização da economia da China (já com estoque de aço), e a maior oferta com as usinas aumentando a produção”, relata. De negativo, Bisi informa o crescimento do PIB, o que consequentemente vai demandar mais aço para diversos setores, como infraestrutura, maquinário, entre outros. “Num panorama geral, não vemos baixa nos preços, mas sim uma estabilização”, aponta. 
De acordo com o Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), somente  neste ano até maio, os valores já foram reajustados entre 50% e 52% e não estão descartados novos reajustes entre junho e julho, que podem variar entre 5% e 10%.
 “Além do preço, a escassez também é outra preocupação. Mais da metade das empresas (62%) vêm enfrentando dificuldades para conseguir realizar a compra do aço”, diz o Sindicato. 
O diretor comercial da Jopemar, Pedro Vieira dos Santos, destaca que a empresa sempre trabalha com o preço do dia do aço e, com isso, precisa repassar todo o acréscimo para seus clientes. Mas, para Santos, o maior problema é a escassez. “Dependendo da obra nos obrigamos a comprar de vários fornecedores, pois nem sempre um fornecedor tem todas as variedades de espessuras que necessitamos”, relata. E como mostram as pesquisas, Santos enaltece que a curto prazo as notícias não são boas. “A maioria das usinas de fora do país estão com a produção tomada até próximo do final do ano e, nesse caso, mesmo que o material tenha uma redução no preço lá fora ou o dólar venha a baixar, isso vai se refletir somente no final do ano ou início de 2022, que é quando este material vai chegar no Brasil. Na minha opinião, o material até pode baixar mas, com certeza, não vai ser nas mesmas proporções e velocidade do que os reajustes que vem sofrendo desde 2020”, finaliza.
Para as pequenas e médias empresas, o vice-presidente de Relações Institucionais do Simecs, Ruben Bisi, salienta que uma solução é cotar preço de distribuidoras fora da região do Rio Grande do Sul. “Já existem empresas da região que estão comprando de São Paulo, Minas Gerais e, mesmo com o frete, o valor fica abaixo do que comprado diretamente no RS. Infelizmente a baixa do preço nas distribuidoras é a competição entre elas”, relata. 
Outra forma que a Simecs está debatendo é reunir pequenos e médios empresários e realizar uma compra diretamente da usina, para baixar preços. “Tivemos pouca adesão, até por causa de fatores como a separação do aço após a compra, que é bastante complicado”. 
Para tentar contribuir com as empresas, a entidade formalizou, junto aos órgãos de governo, o pleito de eliminar o imposto de importação do aço. “O setor tem sido fortemente impactado com a falta ou atrasos de fornecimento, com os aumentos já implementados, bem como novos aumentos que estão sendo sinalizados para os próximos meses. Agora, foram feitos os registros junto ao Concex e também ao Congresso”, destaca a entidade.
Esse assunto também foi tema de um encontro no dia 2 de junho com uma comitiva com representantes do Ministério da Economia, incluindo o secretário especial de Produtividade Emprego e Competitividade, Carlos Alexandre Jorge Da Costa, o secretário de Desenvolvimento da Indústria, Comércio, Serviços e Inovação, Jorge Lima, e o secretário da Infraestrutura, Gustavo Ene. Na ocasião, o Simecs mencionou a necessidade de atenção para alguns temas envolvendo a indústria e entregou uma carta com pleitos para o setor.
Além da escassez e do aumento do valor do preço do aço, entre os temas abordados estavam a revisão das Normas Regulamentadoras, “que hoje trazem prejuízos financeiros e técnicos, inviabilizando a criação ou manutenção de empresas e empregos e impactando diretamente no Custo Brasil e na competitividade da indústria nacional”, e também a questão tributária, “especialmente sobre o limite de faturamento anual para opção do regime de tributação pelo lucro presumido”. “O encontro com os secretários foi fundamental para tratarmos de questões primordiais para o nosso segmento. Vivemos hoje um cenário particular no nosso setor e precisamos contar com apoios e reformulações que contribuam para a competitividade da indústria”, salienta o presidente do Simecs, Paulo Spanholi.

 - Divulgação
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