Setor primário enfrenta dificuldades com a chuva
Após calor antecipado, geada tardia, granizo e chuvas acima da média, agora são as doenças que preocupam os agricultores
As incertezas quanto ao futuro das colheitas deste ano são as mesmas dúvidas em estimar qual a real perda de produção nas mais diversas culturas – resultado de um clima instável, sem estações definidas e que prejudicou fases de desenvolvimento, especialmente das frutas. Em Flores da Cunha, a principal cultura atingida foi a uva, que sofreu em especial com a geada tardia de setembro. Após o granizo e o excesso de chuvas, a Comissão Interestadual da Uva estima em 50 milhões de quilos a perda nos vinhedos do município, número que representa 56% da produtividade, levando em conta a safra deste ano, que colheu 88,3 milhões de quilos da fruta. Essa estimativa de prejuízos tende a ser ainda mais representativa. Isso porque, entre um evento climático e outro, doenças e pragas encontram ambientes favoráveis para proliferação e também infecção de culturas.
O Sul do país vem enfrentando nas últimas semanas chuvas acima da média resultantes da influência do fenômeno El Niño. O tempo marca extremos que comprometem a saúde da população e também das plantas. O engenheiro agrônomo e chefe do escritório da Emater-RS/Ascar de Flores da Cunha, André Miguel, aponta que em setembro 90% da área do município foi atingida pela geada que, no caso da uva, já representou uma boa queda na produção, estimada na época em 33,5 milhões de quilos. O clima, infelizmente, segue engrossando os prejuízos na agricultura. “É muito difícil estimarmos um volume em perdas, pois existem diversos fatores que ainda devem afetar a agricultura e esta época de florada é fundamental para definir a produção”, argumenta Miguel. A época de florada, assim como da brotação, está sendo afetada, mas desta vez em função das chuvas excessivas.
O solo, ambiente e folhas úmidas formam uma condição muito favorável ao surgimento de doenças, pragas e fungos que atacam não somente a uva, mas diversas frutas como o pêssego e a maçã. Além disso, a falta de sol dificulta a fotossíntese das plantas que não acumulam reservas de nutrientes para poder estimular a produção. “Um dos grandes problemas nas lavouras do município está sendo o míldio (popular mufa). É uma doença que normalmente é controlada com bastante facilidade, mas os relatos de agricultores neste ano é que, em função da umidade demasiada, está difícil tratá-la. As folhas não secam nunca e esse é o ambiente ideal para os fungos se desenvolverem”, explica o agrônomo. O aumento de insumos na tentativa de livrar as plantas de doenças vem causando outro efeito colateral, a morte de parreiras. “Causa-se uma desordem fisiológica na planta, que fica desequilibrada tantos de produtos”, complementa.
Agricultura como sinônimo de persistência
Somadas somente as perdas da geada de setembro, entre as culturas como a uva, a ameixa, o pêssego, a maçã, o caqui e a pera, Flores da Cunha alcançou um número de 34,2 milhões de quilos de produção perdida, segundo levantamento feito pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do município. Agora, contudo, esse número é ainda mais alto. Somente a uva saltou de 33,5 para 50 milhões de quilos a menos. “Sinceramente, nunca vi um ano como este, com tantas adversidades e perdas. E o ciclo ainda não terminou, temos um caminho de mais de 90 dias até a safra da uva, as perdas podem ser ainda maiores”, avalia o vice-coordenador da Comissão Interestadual da Uva e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Flores da Cunha e Nova Pádua, Olir Schiavenin.
As previsões para o período de colheita não são muito animadoras para a agricultura. Dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) indicam que a influência do El Niño ainda vai trazer muita chuva para o Sul do Brasil até janeiro de 2016. O restante da primavera e início do verão deve ser também de chuvas acima da média para este período. As temperaturas máximas serão mais amenas e as mínimas mais altas, tendo assim a inexistência de extremos de calor ou frio.
Apesar das muitas adversidades que 2015 está retratando para a agricultura, o agrônomo da Emater-RS-Ascar, André Miguel, estimula que, independente do ano difícil, o agricultor não desanime do trabalho. “É um ano para esquecer, tivemos todos os problemas que poderíamos ter, mas não se pode desanimar. Viemos de diversos períodos de boas safras, por isso é necessária paciência e sabemos que boas safras voltarão a acontecer”, pondera. Para o profissional, a época pode ser propícia para que o agricultor pesquise alternativas diferenciadas. “Hoje a matriz econômica de Flores da Cunha está na uva. O produtor precisa diversificar e buscar alternativas que viabilizem a produção”, sustenta.
Situação mais amena em Nova Pádua
Na propriedade de Rafael Giacometti, 32 anos, cada uma das culturas semeadas pela família tem um fator que exige atenção neste ano complicado. As videiras da variedade Niágara estão cobertas e por isso apresentam boa formação dos cachos. As da variedade Bordô serão destinadas para suco e não sofreram com a geada tardia, mas algumas perdas foram registradas com a chuva de granizo. “Notamos que a uva está atrasada em relação a outros anos e as chuvas exageradas fazem as flores caírem”, lamenta Giacometti. Com o auxílio do pai Vitor, da mãe Ivete e da tia Lurdes, Rafael cultiva também cebola, pêssego e maçã, culturas mais prejudicadas pela chuva, mas que não sofreram com a geada ocorrida há um mês.
De acordo com o engenheiro agrônomo da Emater-RS/Ascar de Nova Pádua, Willian Heintze, culturas como a uva, pêssego, ameixa e maçã são tolerantes ao frio, desde que ainda não tenham as folhas. Após a brotação, a estrutura das plantas é frágil e se torna suscetível a fungos e doenças, o que vem acontecendo neste ano. “O agricultor deve cuidar dessas plantas normalmente, mesmo com uma baixa produtividade, pois a produção da próxima safra depende dos cuidados deste ano”, assegura Heintze. “Estamos fazendo os tratamentos, os raleios e os cuidados necessários. É um ano bem difícil para a agricultura, pois além das perdas, estamos precisando utilizar mais insumos e eles ficaram mais caros no mercado. É um ano difícil para todos os setores e não podemos desanimar”, destaca o agricultor Giacometti.
Como estão as culturas
– Uva: a Bordô, variedade mais produzida na região, está em fase final de floração, com formação inicial das bagas. As chuvas estão atrasando a produção desta que é a cultura mais afetada pelo clima neste ano. A umidade facilita a infecção por fungos e doenças, exigindo mais tratamentos.
– Pêssego: algumas variedades precoces estão sendo colhidas. O pêssego registra problemas com pragas como a mosca da fruta e a grafolita que, em função do pouco período de frio, tiveram reprodução acentuada.
– Maçã: por ter uma polinização cruzada, a maçã depende do trabalho das abelhas e, em função da chuva, muitas flores estão caindo sem a formação da fruta. Doenças futuras como a sarna da macieira deverão exigir atenção redobrada em função das previsões chuvosas para os próximos meses.
– Morango: a cobertura plástica reduz os riscos de doenças, porém, diminui a incidência do sol sobre as plantas, ainda mais quando o tempo é bastante chuvoso. Com isso são produzidas menos flores e, consequentemente, menos frutos.
– Tomate: as chuvas estão atrasando a época de plantio dos pés de tomates. Por ser uma cultura muito vulnerável a doenças de solo, muitas vezes perdendo a planta inteira, os agricultores estão aguardando para fazer o plantio.
– Alho e cebola: ambas as culturas apresentam doenças associadas ao excesso de umidade. O alho inicia sua colheita na segunda quinzena de novembro, com um bom preço e perspectiva de mercado, contudo, as chuvas estão prejudicando a qualidade da olerícola. A umidade poderá ser um problema também após a colheita, podendo alastrar bactérias nos galpões de armazenagem. A cebola tem uma sobrevida maior que o alho, mas tem também doenças fúngicas que encontram acesso pelas folhas, muitas quebradas em função das fortes chuvas.
Fontes: Escritórios da Emater-RS/Ascar de Flores da Cunha e Nova Pádua.
O Sul do país vem enfrentando nas últimas semanas chuvas acima da média resultantes da influência do fenômeno El Niño. O tempo marca extremos que comprometem a saúde da população e também das plantas. O engenheiro agrônomo e chefe do escritório da Emater-RS/Ascar de Flores da Cunha, André Miguel, aponta que em setembro 90% da área do município foi atingida pela geada que, no caso da uva, já representou uma boa queda na produção, estimada na época em 33,5 milhões de quilos. O clima, infelizmente, segue engrossando os prejuízos na agricultura. “É muito difícil estimarmos um volume em perdas, pois existem diversos fatores que ainda devem afetar a agricultura e esta época de florada é fundamental para definir a produção”, argumenta Miguel. A época de florada, assim como da brotação, está sendo afetada, mas desta vez em função das chuvas excessivas.
O solo, ambiente e folhas úmidas formam uma condição muito favorável ao surgimento de doenças, pragas e fungos que atacam não somente a uva, mas diversas frutas como o pêssego e a maçã. Além disso, a falta de sol dificulta a fotossíntese das plantas que não acumulam reservas de nutrientes para poder estimular a produção. “Um dos grandes problemas nas lavouras do município está sendo o míldio (popular mufa). É uma doença que normalmente é controlada com bastante facilidade, mas os relatos de agricultores neste ano é que, em função da umidade demasiada, está difícil tratá-la. As folhas não secam nunca e esse é o ambiente ideal para os fungos se desenvolverem”, explica o agrônomo. O aumento de insumos na tentativa de livrar as plantas de doenças vem causando outro efeito colateral, a morte de parreiras. “Causa-se uma desordem fisiológica na planta, que fica desequilibrada tantos de produtos”, complementa.
Agricultura como sinônimo de persistência
Somadas somente as perdas da geada de setembro, entre as culturas como a uva, a ameixa, o pêssego, a maçã, o caqui e a pera, Flores da Cunha alcançou um número de 34,2 milhões de quilos de produção perdida, segundo levantamento feito pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do município. Agora, contudo, esse número é ainda mais alto. Somente a uva saltou de 33,5 para 50 milhões de quilos a menos. “Sinceramente, nunca vi um ano como este, com tantas adversidades e perdas. E o ciclo ainda não terminou, temos um caminho de mais de 90 dias até a safra da uva, as perdas podem ser ainda maiores”, avalia o vice-coordenador da Comissão Interestadual da Uva e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Flores da Cunha e Nova Pádua, Olir Schiavenin.
As previsões para o período de colheita não são muito animadoras para a agricultura. Dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) indicam que a influência do El Niño ainda vai trazer muita chuva para o Sul do Brasil até janeiro de 2016. O restante da primavera e início do verão deve ser também de chuvas acima da média para este período. As temperaturas máximas serão mais amenas e as mínimas mais altas, tendo assim a inexistência de extremos de calor ou frio.
Apesar das muitas adversidades que 2015 está retratando para a agricultura, o agrônomo da Emater-RS-Ascar, André Miguel, estimula que, independente do ano difícil, o agricultor não desanime do trabalho. “É um ano para esquecer, tivemos todos os problemas que poderíamos ter, mas não se pode desanimar. Viemos de diversos períodos de boas safras, por isso é necessária paciência e sabemos que boas safras voltarão a acontecer”, pondera. Para o profissional, a época pode ser propícia para que o agricultor pesquise alternativas diferenciadas. “Hoje a matriz econômica de Flores da Cunha está na uva. O produtor precisa diversificar e buscar alternativas que viabilizem a produção”, sustenta.
Situação mais amena em Nova Pádua
Na propriedade de Rafael Giacometti, 32 anos, cada uma das culturas semeadas pela família tem um fator que exige atenção neste ano complicado. As videiras da variedade Niágara estão cobertas e por isso apresentam boa formação dos cachos. As da variedade Bordô serão destinadas para suco e não sofreram com a geada tardia, mas algumas perdas foram registradas com a chuva de granizo. “Notamos que a uva está atrasada em relação a outros anos e as chuvas exageradas fazem as flores caírem”, lamenta Giacometti. Com o auxílio do pai Vitor, da mãe Ivete e da tia Lurdes, Rafael cultiva também cebola, pêssego e maçã, culturas mais prejudicadas pela chuva, mas que não sofreram com a geada ocorrida há um mês.
De acordo com o engenheiro agrônomo da Emater-RS/Ascar de Nova Pádua, Willian Heintze, culturas como a uva, pêssego, ameixa e maçã são tolerantes ao frio, desde que ainda não tenham as folhas. Após a brotação, a estrutura das plantas é frágil e se torna suscetível a fungos e doenças, o que vem acontecendo neste ano. “O agricultor deve cuidar dessas plantas normalmente, mesmo com uma baixa produtividade, pois a produção da próxima safra depende dos cuidados deste ano”, assegura Heintze. “Estamos fazendo os tratamentos, os raleios e os cuidados necessários. É um ano bem difícil para a agricultura, pois além das perdas, estamos precisando utilizar mais insumos e eles ficaram mais caros no mercado. É um ano difícil para todos os setores e não podemos desanimar”, destaca o agricultor Giacometti.
Como estão as culturas
– Uva: a Bordô, variedade mais produzida na região, está em fase final de floração, com formação inicial das bagas. As chuvas estão atrasando a produção desta que é a cultura mais afetada pelo clima neste ano. A umidade facilita a infecção por fungos e doenças, exigindo mais tratamentos.
– Pêssego: algumas variedades precoces estão sendo colhidas. O pêssego registra problemas com pragas como a mosca da fruta e a grafolita que, em função do pouco período de frio, tiveram reprodução acentuada.
– Maçã: por ter uma polinização cruzada, a maçã depende do trabalho das abelhas e, em função da chuva, muitas flores estão caindo sem a formação da fruta. Doenças futuras como a sarna da macieira deverão exigir atenção redobrada em função das previsões chuvosas para os próximos meses.
– Morango: a cobertura plástica reduz os riscos de doenças, porém, diminui a incidência do sol sobre as plantas, ainda mais quando o tempo é bastante chuvoso. Com isso são produzidas menos flores e, consequentemente, menos frutos.
– Tomate: as chuvas estão atrasando a época de plantio dos pés de tomates. Por ser uma cultura muito vulnerável a doenças de solo, muitas vezes perdendo a planta inteira, os agricultores estão aguardando para fazer o plantio.
– Alho e cebola: ambas as culturas apresentam doenças associadas ao excesso de umidade. O alho inicia sua colheita na segunda quinzena de novembro, com um bom preço e perspectiva de mercado, contudo, as chuvas estão prejudicando a qualidade da olerícola. A umidade poderá ser um problema também após a colheita, podendo alastrar bactérias nos galpões de armazenagem. A cebola tem uma sobrevida maior que o alho, mas tem também doenças fúngicas que encontram acesso pelas folhas, muitas quebradas em função das fortes chuvas.
Fontes: Escritórios da Emater-RS/Ascar de Flores da Cunha e Nova Pádua.
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