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“Bem. Começo pela história comum a todos os descendentes de italianos que vivem no Rio Grande do Sul. Todos nós, desde sempre, nos consideramos italianos, então, a curiosidade em conhecer a Itália, e descobrir de onde meus bisavós e tataravós partiram, há muito tempo fazia parte do meu sonhos.” Assim inicia o texto enviado por email pela florense Carla Fontana, 32 anos, que hoje mora na província de Vicenza, no Norte da Itália. Encorajada pela vontade de conhecer outras culturas de forma mais completa, fazendo parte do lugar, Carla partiu e o primeiro destino foi Sospirolo, cidade coirmã de Flores da Cunha por meio do gemellaggio. Ali, acolhida por Gianni Casanova e Rita Fontana, que embora tenham o mesmo sobrenome não são parentes, ela começou uma experiência única, onde o primeiro aprendizado é que para ser parente não precisa do mesmo sangue, mas de corações em sintonia.

Há quase um ano Carla comprou a passagem só de ida para a Itália. Com um dos objetivos de concluir a cidadania italiana, a jovem embarcou sabendo que lá teria apoio da família de Gianni e Rita. “Acabei hospedada por uma família maravilhosa de Sospirolo, que foi apresentada a uma prima minha seis meses antes, por terem o mesmo sobrenome. Mesmo não sendo parentes realmente, tornaram-se amigos, ela conversou com eles, que aceitaram me hospedar”, recorda. Carla permaneceu por oito meses em Sospirolo, até seguir para Vicenza. “A gentileza e carinho com que fui recebida foram imensas, não sei se algum de nós faria o que eles fizeram, abrir as portas de casa para uma estranha. Eles fizeram me sentir parte da família. Nas primeiras semanas eles me apresentaram a todos os amigos, aos vizinhos e aos conhecidos que já tinham estado em Flores da Cunha. E eu não fazia ideia de que tantos italianos viajavam para a nossa cidade”, comenta Carla.

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Desde janeiro a florense mora em Vicenza na companhia de um casal de amigos, onde frequenta um curso de chef de cozinha, seguindo a paixão aprendida no Brasil em companhia do irmão. “O momento econômico italiano, europeu, na verdade, não é dos melhores, encontrar emprego é difícil, mas com boa vontade e com a ajuda das pessoas que eu fui conhecendo, consegui trabalhar quando estava em Sospirolo, e estou trabalhando também aqui em Vicenza. Continuo visitando Sospirolo, e a Rita, o Gianni e meus amigos de lá me visitam aqui. Eles são minha família italiana”, valoriza.

Carla conta que a experiência que está vivendo a faz, de vez em quando, recordar dos imigrantes italianos que há 140 anos partiram da Itália em busca de uma vida melhor para suas famílias. “Foi a convivência com tanta gente que admira a história dos nossos antepassados, que chegaram num Rio Grande do Sul desabitado e construíram um dos melhores lugares do Brasil, que me fez querer descobrir a minha história. Viver aqui, no lugar de onde eles partiram, me incentivou a aprender mais sobre a imigração e procurar as minhas raízes nesse outro lado do mundo. Criei laços de amizade tanto com parentes distantes de minha mãe quanto de meu pai”, garante Carla, que finaliza: “É claro que sinto falta da minha família, dos amigos mais próximos, e isso pesa muito na hora que surge aquela pergunta cruel ‘vai ficar ou vai voltar?’. Nada é definitivo; saber que as coisas não vão mudar me faz perder o entusiasmo, por isso não marquei data para voltar, quando eu sentir que está na hora, volto... Ou fico”.

A florense conta ainda que em abril recebeu a visita do irmão Fredi Fontana. A alegria foi dobrada. “Para encontrá-lo refiz exatamente o caminho que os bisavós de nossa mãe fizeram, de trem, há quase 140 anos, partindo de Vicenza até o porto de Gênova. Me senti viajando no tempo”, salienta.