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O sonho da duplicação da ERS-122

Projeto discutido pela Federasul, mas não oficializado ao governo do Estado, depende da mobilização regional para sair do papel

Muito se questiona sobre o futuro da ERS-122, uma das principais ligações da Serra com a Região Metropolitana de Porto Alegre e a única via para escoamento da produção primária e industrial (e acesso turístico) de Flores da Cunha. Embora tenha permanecido sob concessão da iniciativa privada durante 15 anos, período em que grande parte do trecho de 168,65 quilômetros esteve sob responsabilidade da concessionária Convias, não recebeu nenhuma grande melhoria. Hoje, devolvida ao governo do Estado, por meio da Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR), recebe menos ainda. Os cuidados dispensados à rodovia pela estatal estão restritos a pouco e ineficazes operações tapa-buracos.

A ERS-122 é apenas um exemplo da situação em que se encontra a malha viária gaúcha. Em último lugar no ranking nacional de pistas asfaltadas, com apenas 7,2% de pistas pavimentadas (a média brasileira é de 12,9%), segundo dados do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), o Rio Grande do Sul já apresenta sinais de esgotamento no fluxo de estradas. Atualmente, o tráfego rodoviário gaúcho se concentra em duas rotas, pela BR-101 (via Torres), com 520 mil veículos/mês (média do primeiro trimestre de 2013), e pela BR-116 (por Vacaria), com 130 mil veículos/mês (média estável entre 2010/2012).

Ao observar a lógica empresarial de cargas e turismo, conclui-se que ambos os trechos estão saturados. “Considerando que a logística de movimentação de entrada e saída fácil é o segredo para o desenvolvimento de um Estado ou de uma região, pode-se afirmar que o RS está travado e isso tem afastado muitos investidores e interferido negativamente no desenvolvimento econômico e turístico de diversas regiões. Hoje, as empresas não se deslocam somente atrás de incentivos fiscais, fatores como logística e mão de obra representam itens de maior peso para a segurança do investimento no longo prazo”, observa o empresário e diretor da Federação das Associações Comerciais e de Serviços do Rio Grande do Sul (Federasul), regiões Hortênsias e Campos de Cima da Serra, José Sozo.

Alternativa à BR-116
A BR-116 é a principal via de acesso do Rio Grande do Sul, o que tem motivado discussões sobre a sua duplicação. Inclusive, o governo federal iniciou a duplicação do trecho entre Porto Alegre e Pelotas. Contudo, na opinião de Sozo essa seria uma alternativa cara e inviável, considerando que o traçado original da estrada em direção ao Norte do país cruza por uma série de serras. “A opção da BR-116 foi acontecendo ao longo do trecho em que os imigrantes foram se instalando, independentemente de existir serras ou morros era preciso investir na rodovia. Se analisarmos, desde a saída de Portão temos cinco subidas e descidas até Vacaria. Por isso, imagine o custo dessa obra. Seria um absurdo se nós deixássemos duplicar a BR-116 pelo trajeto original, e deixar a ERS-122 abandonada”, considera o empresário.

O representante da Federasul defende a ideia de que é preciso uma alternativa mais barata, uma variante que desvie da rodovia federal o tráfego pesado. Partindo dessa lógica, a entidade desenvolveu um projeto que coloca a ERS-122 como rota alternativa à BR-116. A ideia foi lançada inicialmente durante o 11º Congresso das Entidades Filiadas, promovido pela Federasul nos 21 e 22 de junho, em Canela. O evento que debateu os desafios do crescimento no Rio Grande do Sul contou com a presença do governador Tarso Genro (PT), entre outras autoridades e estudiosos do setor econômico.

O projeto prevê a duplicação de alguns pontos da ERS-122, num total de 90 quilômetros, não incluindo a Serra do Rio das Antas, por exemplo. Sozo explica que a ideia é duplicar a subida da Serra de São Vendelino, em direção a Farroupilha. Fazer um sistema de viadutos na saída para Caxias do Sul, duplicar o entorno de Caxias até Flores da Cunha pela Estrada Velha, contornando a barragem da Maestra e passar à leste da cidade de Flores da Cunha. Além do trecho entre Ipê e a BR-116, até Vacaria. “Para fazer a ligação da Região Metropolitana com a BR-101, pela BR-116, temos que ultrapassar cinco segmentos da Serra, contra dois pela rota da ERS-122”, compara.

O empresário considera este um importante projeto de logística rodoviária para o Rio Grande do Sul, já que a ERS-122 seria uma opção pela BR-101 que, apesar de duplicada, está sinalizando pontos de saturação, principalmente na Grande Florianópolis. “Além dos benefícios ao fluxo de longa distância, será altamente prioritário para as regiões da Serra e Campos de Cima da Serra tornando-se uma alavanca importante para acelerar o desenvolvimento industrial, do agronegócio e turismo. Assim também teríamos um eixo rodoviário importante para instalação de indústrias e serviria de perimetral para as cidades”, acrescenta Sozo.

A reivindicação é pautada na promoção e no desenvolvimento econômico e turístico do RS e da Serra, que é a segunda região mais desenvolvida do Estado e que nos últimos 40 anos não recebeu nenhum quilômetro novo de asfalto. De acordo com Sozo, as questões principais são baratear a mercadoria, estimular a instalação de empresas e o movimento dos turistas. “Nós estamos conformados com a atual situação do governo, mas não podemos aceitar isso. Temos de nos mobilizar para mudar. Já vemos indústrias se transferindo para outros locais. Se continuar assim, visualizando um horizonte de 15 ou 20 anos, nós seremos um grande polo travado”, evidencia.

Recursos de onde?
É de conhecimento de todos os cidadãos gaúchos que o Rio Grande do Sul está endividado e que não sobra dinheiro para nenhum investimento. Dessa forma, o governo não teria a menor condição de bancar uma obra de tal magnitude dentro dos próximos 10 anos, tempo estimado pelo projeto para início das obras de duplicação da ERS-122. Para viabilizar essa obra, Sozo sugere duas possibilidades: a primeira seria o governo estadual buscar um financiamento junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), mediante aprovação do Senado, ou Parcerias Público-Privadas (PPPs). A segunda seria fazer com que o governo federal assumisse a rodovia e, consequentemente, a obra, considerando que a ERS-122 será uma perimetral da BR-116. “Outra alternativa seria entregar para a iniciativa privada, mediante concessão sob forma de pedágio. As empresas fariam todo esse investimento e depois cobrariam pedágio”, explica.

Entidade busca apoio
Conforme José Sozo, da Federasul, o projeto que visa a duplicação da ERS-122 ainda não foi apresentado oficialmente ao governo estadual, mas já foi catalogado dentro das reivindicações à logística do Estado. “Temos que vender a ideia de que precisamos trabalhar nesse projeto para que possamos estabelecer um horizonte de até 10 anos para início dessas obras. Agora iremos buscar o apoio das entidades representativas, CIC’s e dos poderes públicos das cidades contempladas, de Portão a Vacaria e, juntos, pleitear recursos federais”, explica.

O presidente do Centro Empresarial de Flores da Cunha, Vanderlei Dondé, destaca que a logística é essencial para o desenvolvimento de qualquer região e que por isso considera bem-vindo o projeto apresentado pela Federação. “Sempre que se pensa em desenvolver uma região é preciso considerar de que forma se chega ou se sai dela. Por isso a questão da logística é fundamental. Nós, de Flores da Cunha, absorvemos um ônus de escoamento de toda a produção da Serra que passa pela ERS-122, já que o trecho da BR-116 deixou de ser prioridade devido à estrada ser mais íngreme e sinuosa. Em contrapartida, a manutenção da ERS-122 não existe. É um trecho de pista simples, o que eleva muito o tempo de locomoção”, critica.

Dondé frisa que é necessário divulgar a ideia e buscar apoio político e de entidades representativas de toda a região para que o projeto ganhe força. O CE é filiado à Associação das Entidades Representativas da Classe Empresarial da Serra Gaúcha (CICS Serra), cuja principal reivindicação é o investimento em infraestrutura. “Temos muitas associações e cada uma pede uma coisa. Penso que esse seria o momento de todas se unirem por um propósito único para que se tenha representatividade junto ao governo do Estado”, assinala o florense.



Rodovia é a única que serve para escoamento da produção primária e industrial (e acesso turístico) de Flores da Cunha. - Antonio Coloda
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