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Granizo não poupou os pomares de Nova Pádua

Temporal do dia 15 prejudicou 13% da produção de uvas, somando aproximadamente R$ 5 milhões em prejuízos

Considerado um comportamento comum nos períodos de verão, chuvas de granizo isoladas são registradas no Estado todos os anos, isso devido às altas temperaturas da estação. Em Nova Pádua esse fenômeno ‘comum’ foi muito além do que o esperado no final da tarde de terça-feira, dia 15. Por volta das 18h um temporal despencou sobre o município, mais precisamente nas comunidades dos travessões Leonel e Mützel, destruindo pomares e vinhedos com a força das pedras de gelo. Produtores do Travessão Barra também registraram prejuízos. A Secretaria de Agricultura de Nova Pádua estima que a arrecadação municipal tenha perdas de R$ 5 milhões. As culturas mais afetadas foram a da pera e da uva.

Somando as propriedades do Leonel e do Mützel, chegam-se a mais de 310 hectares de área de produção entre uva, pêra, maçã e caqui. As plantações não foram atingidas igualmente. Cerca de 60 famílias foram castigadas e em algumas o prejuízo foi de 100%. Nesses hectares estimava-se colher mais de 4 mil toneladas de uvas e 40 mil quilos de peras. Considerando a produção total de uvas em Nova Pádua – de 29.862 mil toneladas –, as duas comunidades representam mais de 13% da produção geral do município.

O granizo durou de 20 a 30 minutos e veio acompanhado de vento e chuva. As áreas mais atingidas registraram cerca de 70 milímetros, o que destoa do 1mm registrado a poucos quilômetros, na área central de Nova Pádua. Além das plantações a chuva que assustou os moradores destelhou e danificou a estrutura de galpões e casas.
A maioria das famílias contava com o seguro agrícola. “Na viticultura muitos vinhedos não tiveram tanta uva no chão, mas os cachos estão bastante danificados e esses grãos acabam apodrecendo. Essa é a situação da maioria dos casos”, explica o secretário da Agricultura paduense, Rafael Martello, citando que a perda total, em toneladas, de todas as frutas, ultrapassa as 6 mil toneladas. De acordo com o chefe do escritório da Emater de Nova Pádua, Leonildo Sperotto, grande parte das famílias tinha seguro, o que deixou a situação mais amena, mas as plantações devem ser tratadas para diminuir os prejuízos para o próximo ano. “Esses produtores afetados equivalem a 10% do total do município. Eles conseguiram salvar somente o que tinham colhido. É uma perda muito grande para o município”, constata Sperotto.

Peras danificadas saem do mercado
Na propriedade do agricultor Celso Sonda, 51 anos, são cerca de 4 hectares de peras de três variedades que resultariam em uma colheita de 90 mil a 100 mil quilos da fruta. Na manhã da quarta-feira, dia 16, muitas delas estavam no chão, destruídas. Do total da produção, Sonda estima que menos de 10% seja aproveitado para fazer geleias, um produto tradicional da família. Além da pera, Sonda tem uma produção de pêssego – que já foi colhido, e de caqui.

Sonda tem segurada toda a propriedade, o que permitiu um pouco de calma após ver os estragos do temporal. “Estava com algumas plantas prontas para colher e seria uma grande safra de pera. Mas agora é recomeçar e cuidar das plantas para que não se tenha um reflexo em longo prazo”, aponta o agricultor. As frutas iriam para mercados da grande Florianópolis (SC). “Hoje não temos como arriscar tanto trabalho e tanto investimento em uma área agrícola sem seguro, é indispensável. Se não conseguir pagar o seguro nem arrisco mais plantar”, sustenta Sonda.

Pedras levaram também o ânimo
A situação se torna ainda mais grave em propriedades não seguradas. O descontentamento era evidente e óbvio nos olhos do agricultor Ademir José Rossi, 53 anos, também na manhã da quarta-feira, quando, com a família e vizinhos, tirava os poucos cachos que restaram nas videiras. Com 3,5 hectares de vinhedos – a maioria Niágara rosa –, Rossi estava colhendo os primeiros cachos da safra exatamente no dia em que o granizo destruiu toda a produção, estimada em 35 mil quilos de uva. “Tiramos cerca de mil quilos, encaixotamos e tivemos que parar, pois havia começado a chover. Poucos minutos depois a uva que estava ali já tinha sido destruída”, lamenta Rossi.

Um bom trecho do parreiral estava produzindo pelo segundo ano, plantas jovens que agora irão sofrer com o granizo. O agricultor estima que no próximo ano a produção seja até 50% menor do que o projetado. “Vamos tratar para que os machucados nos galhos cicatrizem, mas dificilmente teremos o mesmo desempenho da planta”, lembra o agricultor.

Vinícolas como a Panizzon e a Nova Aliança abriram as portas mais cedo para auxiliar os agricultores mais prejudicados. Dessa forma, a família Rossi encontrou forças na manhã seguinte ao temporal para colher a uva que restou e mandar para a cantina. “Ontem caminhamos por aqui e estava uma produção tão bonita. Não existem palavras para descrever o que se sente. Essas pedras não levaram só a uva, mas também nosso ânimo”, desabafa o agricultor.

Clima imprevisível
Um caso semelhante ao ocorrido nesta semana em Nova Pádua ocorreu em dezembro de 2011 em 12 municípios e 1,2 mil propriedades da Serra. Foram 4.383 hectares e 62.658 toneladas em perdas da produção atual, englobando viticultura, fruticultura e hortaliças. O prejuízo total estimado foi de R$ 60 milhões. O distrito florense de Otávio Rocha foi o local mais afetado.

Depoimento*
Sou filho de agricultor, nasci e fui criado assim. Sem dúvida eu e meu pai somos os maiores companheiros, e o que me faz levantar todos os dias é ver ele feliz. Você já parou e perguntou ao seu pai sobre o seu passado? Então, um dia, tire um tempo e comece a entender suas angústias, suas alegrias, coisas que ele gostaria ter feito, das oportunidades que ele gostaria de ter tido. Procurar ser compreensivo é uma das maiores formas de expressar seu amor por alguém. Hoje, dia 15, pela primeira vez olhei para ele e tentei pedir o que estava acontecendo e ele só conseguia falar com lágrimas. É incrível como às vezes a vida é tão injusta com pessoas honestas, de bom coração, incapazes de fazer mal a alguém. Ocorreu uma perda lastimável na produção de uva. Mas isso é de menos. O difícil é buscar ânimo e vontade. Por isso, um dia, quando encontrarem um agricultor, tenham respeito: são pessoas simples que vivem com a incerteza do amanhã e nem por isso desistem.

Somos jovens, e como todos os jovens querem trabalhar a semana inteira e ficar esperando a sexta-feira para fazer festa. A maioria dos jovens trabalha fora de casa, tem seu dinheiro, paga as suas contas, e faça chuva ou faça sol o salário é depositado. Nós, jovens, tivemos oportunidades, mas esquecemos de parar para agradecer e pensar um pouco no que os nossos pais tiveram.

Meu pai e minha mãe viveram em uma época totalmente diferente, e no dia 15 eu cheguei em casa com o sorriso no rosto. Mas só até abrir o portão e ver inúmeras pedras brancas... Na medida em que o portão abria eu via as lágrimas do pai, da mãe e da minha irmã. Pessoas que nunca mediram esforços quando o assunto era trabalho, pessoas que andam unidas, que têm força de vontade. Faltam palavras e sobra dor de ver um ano perdido em minutos, de ver a tristeza estampada no rosto. Faltam palavras e sobra dor.

O sol nasceu novamente e como eu bem conheço a Neiva, o Clemente e a Jéssica, o que acabou ontem em minutos recomeça hoje, recomeça amanhã, porque eles não desistem fácil. O granizo será retirado do caminho para que novamente a jornada recomece. Deu tudo errado? Tudo bem, hoje a gente tenta de novo. Família unida vence tudo.

* Alex Zanella, 17 anos, agricultor de Nova Pádua e estudante de Arquitetura e Urbanismo.


90% da produção de peras de Celso Sonda foram destruídas pelo temporal. - Camila Baggio
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1 Comentários

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    Sou Altair menzem morador de Alpestre rs eutambem passei por por uma situasao. Paresida um temporal que aconteseu no dia. 17 de outubro 2017 perdi 95% da produsao de uva mas temos que seguir enfrente a luta continua ..forca familia zanela. Trabalhei com esta familia a 13 anos atras e sei a forca que vcs tem pois sao trabalhadores. Vamos a luta e assim a vida do agricultor..... Altair mensem ou tato

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