Geral

Feche a torneira

Dos 3% de água doce da Terra, apenas 0,3% é acessível ao consumo humano.

Dos 3% de água doce da Terra, apenas 0,3% é acessível ao consumo humano. Mesmo o recurso ocupando 70% da superfície do planeta, a maior parte, 97%, é salgada. O restante está em geleiras, icebergs e em subsolos muito profundos. Isso demonstra que existe uma grande diferença entre água e recursos hídricos, ou seja, a água potencialmente consumida representa uma pequena fração. Estima-se que 74% da população mundial tem acesso a água potável, mas em continentes como a África essa proporção baixa para apenas 46%, chegando a menos de 24% em determinadas regiões da Ásia. O Brasil é um país privilegiado nesse sentido. Ele enquadra-se na categoria de 10.000 a 100.000 m³/ano de água por habitante. Porém, sua distribuição não é uniforme. A Amazônia, por exempo, detém a maior bacia fluvial do mundo, mas também é a região menos habitada do Brasil. Esses são dados mundiais e nacionais e podem parecer distantes quando pensados para uma cidade como Flores da Cunha, com cerca de 30 mil habitantes e como dizem "água em abundância e de qualidade". Entretanto, os dados apontam que Flores necessita de um plano a longo prazo para rever o seu abastecimento de água, feito hoje apenas por poços artesianos. A partir disso, outros meios para abastecimento já começam a ser arquitetados. "A tendência é trabalhar com um sistema misto, que opere com uma barragem e com os poços artesianos com maior produção", projeta o gerente da Corsan, Bruno Debon. Conforme o diretor do Meio Ambiente, Gilberto Betanin Júnior, é necessário criar alternativas para se buscar água na superfície, já que a subterrânea está escassa. Numa audiência pública, realizada no final do mês de abril, a Corsan apresentou um pré-projeto do plano de saneamento básico e o contrato de prestação de serviços de água e esgoto sanitário para o Município. No pré-projeto, que prevê um contrato de 25 anos da prefeitura com a companhia, estão estipulados a construção de quatro estações de tratamento de esgoto (São Gotardo, Linha 80, Lagoa Bela e Nova Roma) e de uma barragem em Santa Bárbara (Cascata Menegon) e São Cristóvão. Dessa forma, o Município mesclaria entre a água dos poços e da barragem. O investimento total seria de R$ 28,4 milhões. Somente para as estações seriam aplicados R$ 8,7 milhões. As obras seriam encaminhadas em três etapas, com prazo de conclusão estimado entre 10 a 12 anos. Qualidade Considerada de alta qualidade, a água de Flores é tida como uma das melhores da Região, mas também apresenta um custo elevado. Conforme o gerente da Corsan, de 18 a 20% da arrecadação da estatal vai na energia elétrica para manter essa qualidade. O pré-projeto apresentado pela Companhia aponta que com as mudanças, além da taxa de água, seria cobrada também uma tarifa mensal de esgoto (coleta, transporte e tratamento. O pré-projeto prevê a construção de redes que separarão o esgoto na saída das moradias e o levarão até as estações de tratamento. Segundo Betanin, com a implantação de uma barragem seria necessário um custo maior para o tratamento do recurso hídrico. "A qualidade também não seria a mesma da água que tomamos hoje", destaca. Abastecimento Atualmente, Flores conta com 26 poços artesianos oficiais em funcionamento. Cada um deles têm capacidade para 135 mil metros cúbicos. São 261 quilômetros de redes de abastecimento implantadas no Município e 14 reservatórios. Os poços têm entre três meses até 40 anos de uso. No total, seriam 58 poços, mas 32 estão desativados, ou porque secaram ou porque apresentaram má qualidade de água. A Corsan ainda possui um poço em reserva técnica. Localidades como Mato Perso e Otávio Rocha já encontram dificuldades em encontrar água. No 3º distrito há pelo menos 20 poços considerados secos.

É preciso se conscientizar

Fechar a torneira, há muito tempo, deixou de ser um gesto nobre para se tornar uma obrigação. A conscientização sobre o desperdício da água é uma das pautas constantes. Neste ano, Flores escolheu a água como tema da Semana do Meio Ambiente. Conforme o diretor de Meio Ambiente, Gilberto Betanin Júnior, o tema foi proposto devido a vários fatores, como: a quantidade disponível hoje no município, o consumo elevado, o abastecimento. "Chegamos num momento que precisamos decidir sobre o saneamento básico e outros meios para abastecimento de água em Flores. Tivemos uma pequena seca e o leito dos rios já baixou muito", pontua Júnior, que acrescenta: "Qualquer ação positiva ou negativa afeta na água. Provavelemente o tema será abordado em muitos anos ainda". A questão do saneamento básico foi definida como prioridade de investimento na área urbana nas reuniões do Orçamento Cidadão (OC). De acordo com dados da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), Flores consome 135 milhões de m³ de água por dia. Mas esse gasto diminuiu consideravelmente no último ano. Em maio de 2008 foram consumidos 144 milhões de m³. Nesse ano, no mesmo mês, foram 124 milhões, o que demonstra uma redução de 20 milhões de m³ de água. Em termos de volume, a média de 2008, por mês, para cada família, era de 12 a 11 m³ consumidos. Nesse ano, a média está em torno de 9 a 10 m³. Segundo o diretor da Corsan, Bruno Debon, essa redução mostra uma conscientização por parte da população. "As pessoas estão pensando na preservação e na melhor utilização dos recursos hídricos", destaca. A Corsan recebe denúncias sobre desperdício ou má utilização da água, entretanto só pode alertar e realizar campanhas de conscientização. Uma multa ou a proibição do uso da água por quem desperdiça só pode ser feita quando é decretado estado de racionamento, feito pela própria estatal, pela Prefeitura ou pelo Ministério Público. Telefone para denúncias: 3292 1332

Poços clandestinos

A Corsan calcula que existam exatroficialmente de 50 a 60 poços irregulares no Município. No Ministério Público há 60 denúncias de poços clandestinos entre a zona urbana e rural. "Não tem como controlar e a Patran até fiscaliza. Essas perfurações são proibidas porque não existe um controle do nível do poço", diz Debon. São permitidas aberturas de poços profundos em zonas rurais para a irrigação, em postos de combustíveis para limpeza, com devida autorização, além de poços domésticos rasos. "Esses rasos não têm problema e devem até ser feitos para utilizar a água na descarga e na lavagem. É uma maneira de economizar, até para não usar a água tratada para fazer limpeza", aponta. Segundo Debon, esses poços irregulares são uma das causas pela dificuldade de encontrar água nos dias atuais. "Antigamente se perfurava um poço com 80 metros e se achava água. Hoje, para se encontrar água é necessário mais de 200 metros de profundidade. O lençol freático está baixando e não se vê mais vertentes na cidade", frisa.

Concurso Calendário Ecológico 2010

Como parte das comemorações da Semana Municipal do Meio Ambiente, aconteceu na noite de ontem o lançamento do Concurso Calendário Ecológico 2010. Com o tema O Meio Ambiente que queremos, o concurso objetiva despertar nos alunos a consciência para a preservação ambiental. Podem se inscrever estudantes das redes municipal, estadual e privada. A primeira categoria é reservada à alunos de 1ª a 4ª série ou de 2ª a 5ª série do ensino fundamental. A segunda categoria é destinada aos estudantes de 5ª a 8ª série ou de 6ª a 9ª série. Segundo o regulamento, cada aluno pode inscrever um desenho, que deverá retratar e ser pertinente ao tema central do concurso. Serão premiados os autores dos 12 melhores desenhos, que irão compor o Calendário Ecológico 2010. As atividades da Semana Municipal do Meio Ambiente encerram hoje com a “Parada Ambiental”. Das 14h às 16h, integrantes do Comitê Mirim Conhecer Para Preservar e a diretoria de Meio Ambiente estarão distribuindo mudas de árvores, sacolas de lixo para automóveis, copos de água e material educativo, na Praça da Bandeira.

Estudantes com atitude

"Preservar, para não faltar". Os alunos de 4ª a 8ª séries da Escola Municipal de Ensino Fundamental Tiradentes levaram a fundo essa máxima. Desde o início de março, a escola conta com uma cisterna para captar água da chuva e evitar o desperdício. O equipamento tem capacidade para recolher até 10 mil litros de água e é destinado para a limpeza do pátio e nos sanitários. "Sempre tivemos preocupação com o Meio Ambiente. Essa é uma ideia simples e objetiva que está gerando tanto a diminuição no gasto com água, quanto a educação ambiental, já que as crianças vão levar isso para casa", aponta a diretora da escola, Elizete Maria Chitolina. A atitude de preservação vem sendo desenvolvida há pelo menos dois anos por meio de projetos escolares. No ano passado, o projeto Valorizando a Vida: O Eu, o Outro e o Meio deu o pontapé inicial para a instalação do equipamento. "Trabalhamos a questão em sala de aula e fizemos a relação com o meio através da cisterna. Com isso plantamos uma semente para ser adotada fora da escola também", avalia a professora de Ciências, Daniela Baggio.

Tomada a iniciativa, a escola solicitou apoio da Prefeitura Municipal, que desenvolveu o projeto através da Secretaria de Planejamento, Meio Ambiente e Trânsito. Com recursos para a execução – foram cerca de R$ 7 mil investidos - vindos do Conselho Municipal de Meio Ambiente, o reservatório foi implantado. "Muito importante para não gastar tanta água e é bem satisfatório porque é um trabalho que nós contribuímos", aponta o estudante da 7ª série, Alex Eberle, 13 anos. Integrante do Comitê Mirim Conhecer Para Preservar ele já levou a iniciativa para casa, onde possui uma espécie de bombona que capta a água da chuva. Da mesma opinião compartilha a aluna Gerciane Vieira Pereira, 13. "Como fazemos parte da escola é fundamental ajudar". A cisterna funciona a partir da captação da água das chuvas, que é escoada no telhado da quadra de esportes por meio de calhas. Os primeiros 200 litros armazenados são destinados a um recipiente menor, com o objetivo de eliminar as impurezas que as primeiras chuvas levam das telhas. Depois, a água vai para um reservatório fechado e protegido da evaporação e das contaminações. A água captada não pode ser consumida, sendo utilizada apenas para limpeza. O projeto piloto ainda não está em pleno funcionamento, devido alguns ajustes.

Pensando no futuro

O pintor Adriano Mabilia, 38 anos, é um exemplo positivo de preservação ao Meio Ambiente. Há cerca de cinco anos, devido a dificuldades enfrentadas com o abastecimento em sua residência (pelo terreno ser íngreme), Mabilia projetou e construiu uma cisterna. O reservatório é composto de três caixas d’água de polipropileno na parte interna e metal na parte externa (para resistir a força da água), todas interligadas. No total, elas comportam 3 mil litros de água. A água da chuva é recolhida nas cisternas e utilizada na lavanderia, nos jardins ou mesmo para lavar o carro. Para Mabilia foi uma boa oportunidade de economizar na conta e também de ajudar o Meio Ambiente não desperdiçando mais água. “Faço o possível para evitar o desperdício. É bom saber que estamos fazendo limpeza e não estamos utilizando água da Corsan. Que estamos contribuindo pelo planeta Terra”, diz ele. Mabilia conta que tem outro projeto que pretende colocar em prática. Ele quer implantar outra cisterna que reaproveite a água que sai do chuveiro. Essa água será utilizada no vaso sanitário.

A água em Nova Pádua

Nova Pádua é abastecida por meio de poços artesianos. São 15 no total. Conforme o secretário da Saúde do município, Odir Boniatti, cada uma 13 comunidades, incluindo o Centro, possui uma associação, que tem a responsabilidade de administrar esses poços e os recursos provenientes deles. “O município presta apoio quando houver necessidades, mas ela é autosustentável”, diz ele. Boniatti conta que os trabalhos de perfuração dos primeiros poços na região foram iniciados ainda no ano de 1982, sob a administração do prefeito da época (Nova Pádua ainda não era município), Ângelo Araldi. “Naquele ano nós estabelecemos um estatuto, perfuramos os poços artesianos e organizamos todas essas entidades. Hoje elas se mantêm sozinhas”. Anos se passaram. Os recursos naturais foram se esgotando e hoje uma das comunidades, o Travessão Leonel, vem enfrentando problemas de abastecimento. O poço daquela comunidade secou há mais de ano. Agora, os moradores buscam água nas vertentes próximas. Entretanto, o secretário adianta que já foi encaminhado, pelo prefeito Itamar Bernardi, um pedido de concessão de máquinas junto ao Estado para fazer uma nova perfuração. “Naquela localidade já foi constatado que não existe mais água. Então, o poço deverá ser feito na comunidade vizinha, no Travessão Mützel”, explica Boniatti. Qualidade Outra questão que também preocupa o poder público de Nova Pádua é a qualidade da água que provém desses poços artesianos. De acordo com o secretário da Saúde, mensalmente é feita uma coleta da água nas comunidades. Assim, é feito um rodízio até que todas sejam acompanhadas. “Essas amostras são enviadas para a 5ª Coordenadoria Regional de Saúde, onde são feitas as análises”, explica. Ele esclarece que todas as comunidades possuem um aparelho dosador para aplicação de cloro. Entretanto, existe resistência por parte de algumas associações no que se refere ao tratamento dos poços. “Nós pretendemos fazer um trabalho de conscientização nessas comunidades. Mostrar toda a sequência desse trabalho e o que isso vai ocasionar. Educar para depois partirmos para uma ação mais firme no sentido de fiscalizar”, diz. Segundo ele, existe um projeto para lançar um concurso público que nomeará um fiscal sanitário e do meio ambiente para a cidade. “A partir disso nós vamos conseguir reativar uma série de projetos nessa área, pois não adianta criar e depois não acompanhar, não dar a atenção devida”.
Adriano desenvolveu um sistema que leva a água através de uma mangueira diretamente à lavanderia. - Mirian Spuldaro
Compartilhe esta notícia:

Outras Notícias:

0 Comentários

Deixe o Seu Comentário