Fé, moralidade e imigração entrelaçadas
Livro ‘Verso e Reverso’, escrito pela professora Marlei Machado da Silveira, foi lançado na quarta-feira
A 22ª obra publicada por meio do projeto Memória Histórica e Cultural de Flores da Cunha foi lançada no dia 21. O livro Verso e Reverso: Igreja, Moral e Imigrantes, escrito pela professora de História Marlei Machado da Silveira, foi apresentado ao público no Espaço Cultural São José. O livro tem 157 páginas e foi editado pela Walcolor. Os exemplares estarão à venda a R$ 15 na VSComp Informática e na Almanaque Cultural.
A religiosidade teve um peso significativo na vida dos imigrantes italianos que se estabeleceram na Região Sul do Brasil. Ela foi fundamental para a construção da identidade cultural da população, da educação, da espiritualidade, das devoções, das festas populares e dos ritos sociais. Mais do que isso, foi uma influência e uma acolhida para os primeiros imigrantes. Essa importância religiosa está retratada nas páginas do livro Verso e Reverso: Igreja, Moral e Imigrantes. A obra foi a vencedora do projeto Memória Histórica e Cultural deste ano e está dividida em duas partes. A primeira versa sobre a importância da Igreja Católica na formação dos imigrantes italianos, seus valores, sua identidade cultural, a formação de grupos, a construção das capelas. “A Igreja Católica foi muito importante, apesar da forte doutrinação, para a população, pois promoveu a união da comunidade, a prosperidade entre as famílias e contribuiu para a formação dos grupos sociais, mediante a construção de capelas, criando povoados distintos”, destaca a escritora.
A segunda parte da obra retrata a influência do Guida Spirituale per I’emigrato Italiano nella Merica, escrito em 1896 pelo sacerdote Pietro Colbacchini, e que serviu de base para que os padres orientassem as vivências sociais, como casamento, festas, religiosidade, da população. O guia está reproduzido na íntegra no livro com alguns trechos traduzidos do italiano. “Era uma guia para a instrução e a orientação dos aspectos da vida familiar, das condições individuais e coletivas, da moral, da prática cristã e das atividades econômicas do colono, com o intuito de manter o sagrado na vida comunitária”, explica Marlei.
Ela conta que começou a escrever a obra em 2010, durante a conclusão da pós-graduação em História Regional pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). “A obra contribui para entender algumas práticas votivas e o significado que elas representavam para a manutenção da fé e ainda para rever algumas orientações repassadas pelos padres, além de contar com informações do Livro Tombo da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes”, pontua Marlei, que é formada em História e leciona na Escola Estadual São Rafael. Esse é o 22º livro editado pelo concurso Memória Histórica e Cultural, cuja impressão é custeada com verba pública.
Trecho
“A ideia de trabalhar seis dias da semana e descansar no domingo e no feriado religioso aparece no Guia como um poder imperativo, que rege as normas de organização do tempo dos colonos. A definição de como os colonos deveriam agir pode mostrar atos de aceitação ou resistência a essas regras (...). A Igreja acredita que pode determinar a organização do tempo do colono, não dando o devido valor àquilo que o colono acreditava como necessidade, não dimensionando as demandas da vida agrícola e da vida doméstica. O poder da Igreja manifesto no Guia crê na possibilidade de interferir nessa decisão”.
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