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Era uma vez um barril de carvalho

Com criatividade, empresários de diversas partes do mundo atraem turistas reaproveitando as barricas

Garrafas plásticas que viram árvore de Natal, lacres de lata de alumínio transformados em bolsa, jornal que vira cesta. Hoje, com criatividade, quase tudo pode ser reaproveitado. Ainda que pareça, isso não é novidade; bem sabiam Newton e Lavoiser pelos idos do século XVIII, que “nada se destrói, tudo se transforma”. Porém, converter barril de vinho em quarto de dormir, cadeira e até mesmo pista de dança é algo que talvez eles nunca tenham imaginado.

Vale do Reno
Rüdesheim am Rhein, uma cidade que não tem mais que 10 mil habitantes, fica na pitoresca região vinícola de Rheingau, no sudoeste da Alemanha. Conhecida como berço do Riesling, a menor das 13 regiões vinícolas do país tem apenas 3200 hectares de vinhedos, o que representa 3% do total. No entanto, Rheingau é uma região de grandes vinhos e possui os registros mais antigos da existência de uvas Riesling, datados de 1435.

Além de opções óbvias, como visitar parreirais, vinícolas e degustar o vinho local, quem estiver em Rüdesheim am Rhein tem a oportunidade de ver o tapete de videiras do alto do teleférico, que vai ao monumento de Niederwald e, no fim do dia, ter o merecido descanso dentro de um barril de vinho. Para atrair turistas, o Hotel Lindenwirt decidiu transformar velhos barris em quartos, com duas camas de solteiro e até banheiro. O preço médio da diária é de 35 euros por pessoa. Só falta mesmo sonhar com Baco.

Depois de uma noite bem dormida e uma e hora e meia de estrada, chega-se em Heidelberg, parte da região vinícola de Baden, onde se encontra um dos maiores barris de carvalho do mundo. Apesar da capacidade para armazenar 220 mil litros, e respeitáveis oito metros e meio de profundidade por sete de altura, o tal barril sempre esteve vazio, mas tem atraído milhões de turistas desde sua construção, em 1751.

Acredita-se que foram usadas 130 árvores para construir o tonel gigante. No entanto, esse já é o quarto barril em exposição no Castelo de Heidelberg, sendo que o primeiro foi construído em 1591. O barril, carinhosamente chamado de Karl-Theodor-Fass, sempre teve uma certa fama, o que não se deve à plataforma construída no topo para ser pista de dança. Ele já foi mencionado em obras da literatura como Moby Dick, de Melville, Cinco Semanas em um Balão, de Júlio Verne e Um Vagabundo no Estrangeiro (A Tramp Abroad) de Mark Twain.

Baden é a região mais quente da Alemanha, o que resulta em vinhos mais encorpados e com maior graduação alcoólica. As uvas Pinot (Noir, Blanc e Gris) são responsáveis por mais de 50% dos vinhedos de Baden, enquanto apenas 7% são Riesling. Müller-Thurgau representa 18% do que é produzido na região, mas recentemente vem sendo substituída por Spätburgunder e outras varietais tintas. Gutedel, mais conhecida por Chasselas, é cultivada em sete por cento dos vinhedos e na Alemanha, exclusivamente em Baden.


Barris transformados em cabanas
Mas a França não fica muito longe. Depois de cumprir a nobre missão de guardar dezenas de litros de Beaujolais, oito barris de carvalho descartados pela indústria vinícola foram parar na vizinha Suíça, de onde seguiram ao Hotel Vrouwe, de Stavoren. Os barris inutilizados viraram quatro apartamentos excelentes, que têm uma pequena sala de estar, banheiro e o conforto que se espera de um hotel que cobra diárias de até 100 euros por pessoa.

Para quem prefere o isolamento das montanhas e não quer gastar muito dinheiro, o Camping Madulain, na Suíça, é a opção ideal. Os barris não foram apenas transformados em cabanas, mas também decorados exteriormente com cenas do cotidiano local. A diária fica em torno dos 30 euros por cabana, e estando nos Alpes Suíços, é fácil achar diversão para quem gosta de esquiar.

Na América do Sul, alguns projetos que buscam reaproveitar barris de vinho têm sido desenvolvidos pela Universidade de Talca. A aluna de arquitetura Macarena Avila Burdiles desenhou uma área de descanso com cadeiras, espreguiçadeiras e guardassóis para a Viña Casa Donoso, usando a madeira dos barris que a empresa chilena não utilizava mais. “Eu iniciei o projeto em 2006 e, um ano depois, a obra estava concluída. Foram usadas 50 barricas de carvalho francês que iriam para o lixo. Hoje, os trabalhadores da vinícola têm um lugar para se abrigar do sol e descansar durante o intervalo do almoço. Espaço que também é aproveitado pelos inúmeros turistas que visitam os vinhedos”, explica Macarena.

Já a artista inglesa Claire Danthois, conhecida por transformar pedaços velhos de madeira em móveis de design muito diferente, criou uma peça chamada Wine Tasting Station (Estação de Degustação de Vinho), onde se podem guardar garrafas e copos. “Eu busco inspiração nas próprias histórias que os objetos descartados trazem de quando eram úteis. Para mim, é fascinante poder recriar objetos de valor a partir de itens que tiveram outra vida e são considerados lixo por muitas pessoas,” conta.



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