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E o coração, Mireto? Vai bem, obrigado!

Florense Ademir Ignácio Rigo comemora ao lado da família o transplante cardíaco que salvou sua vida há um ano

No dia 3 de dezembro de 1967, há exatos 50 anos, foi realizado o primeiro transplante de coração entre seres humanos. O procedimento ocorreu na África do Sul e, no ano seguinte, o Brasil realizou seu primeiro transplante cardíaco. Mas não é apenas para a história da medicina mundial que dezembro é um mês especial quando se fala em coração. Há um ano o florense Ademir Ignácio Rigo, 52 anos, teve em seu peito um coração pulsando com força, muito diferente do seu que havia passado por três cirurgias e não conseguia desempenhar suas funções. Ele recebeu um transplante de coração no dia 1º de dezembro e no dia 27 do mesmo mês estava em casa, ao lado da família. Um ano depois a recuperação segue e a gratidão transparece aos olhos.

Ainda na infância Mireto, como é conhecido em São Gotardo, começou a ter problemas reumáticos. Aos 21 anos de idade descobriu um sopro no coração que, com o passar dos anos, evoluiu para uma arritmia cardíaca cada vez mais severa. Em 1993 ele foi submetido à sua primeira cirurgia com a troca da válvula aórtica (as válvulas são estruturas do coração responsáveis por coordenar a passagem de sangue) e plastia da válvula mitral. “Assim levamos a situação com tratamentos por mais alguns anos e, no ano de 2000, um segundo procedimento teve de ser realizado para a troca da válvula mitral. Com isso eu estava com duas válvulas metálicas, sozinho meu coração já não funcionava mais. Eu tinha muita fadiga, não podia fazer esforço físico e o meu quadro foi ficando cada vez mais limitado”, conta Rigo, que anteriormente trabalhava no setor de móveis e nesta época conseguiu o afastamento do trabalho por invalidez.

Daí por diante seu coração regrediu ainda mais. Em 2013 realizou sua terceira cirurgia cardíaca e recebeu um marcapasso, equipamento que tem como função observar e corrigir os defeitos do ritmo cardíaco, e um desfribilador. “Porém, em 2015, com a situação ainda mais grave, a única alternativa era o transplante. E esse foi o momento mais difícil, mas eu sempre me mantive paciente e nunca pensei negativo, sempre imaginei que iria dar certo e, graças a Deus, deu”, comemora o florense. Iniciou então uma série de exames e consultas e o nome de Rigo passou a integrar a lista de pacientes à espera de um coração no Estado. Um ano e oito meses depois, no terceiro chamado, o transplante de coração foi realizado. Um pulsar novo no peito de Mireto.

O transplante

De acordo com o Centro de Transplantes do Rio Grande do Sul, neste ano (dados até novembro) o Estado realizou 16 transplantes de coração. Atualmente, 21 pacientes estão na lista de espera pelo órgão. No dia em que recebeu a notícia do possível doador pela esposa Edilce Rosane Fachim Rigo, Mireto conta que estava tranquilo. “Minha esposa, que chegava do trabalho, e que esteve sempre ao meu lado desde a primeira cirurgia, ainda quando éramos namorados, recebeu a ligação. Ela começou a chorar e eu a amparei e meu irmão, que ficaram muito nervosos com a notícia. Arrumamos as malas e fomos para Porto Alegre. Mais do que minha família, eu estava consciente que precisava disso e estava tranquilo”, recorda Rigo. “Ele estava bem sossegado fazendo cruzadinhas na sala quando a mãe chegou chorando. Tínhamos ideia dos riscos da cirurgia e o médico só pediu para rezarmos”, conta Vitória, de 16 anos, filha do casal.

Por ter um organismo saudável, o transplante tinha ainda mais chances de ser um sucesso e, após 12 horas, foi concluído. “Fiquei cinco dias em uma unidade de tratamento intensivo e mais 27 dias hospitalizado. Tive alta logo após o Natal, no dia 27 de dezembro”, recorda-se. Tendo sempre ao lado a filha Vitória e a esposa Edilce, Rigo leva até hoje cuidados diários, mas vê sua rotina começar a voltar ao normal. Um ano depois, pode dizer que seu coração vai muito bem. “Faço caminhadas matinais, ainda limitadas, mas aos poucos estou recuperando minha condição física, afinal, há 10 anos eu não conseguia fazer essas atividades”, reconhece Mireto, sempre sob os olhar atento da filha. “Foi um período difícil, porque quando ele sofre, nós sofremos junto. Quando ele entrou para a cirurgia foi uma espera angustiante, o dia parecia não passar, mas deu tudo certo”, assume Vitória.

Ainda segundo o Centro de Transplantes gaúcho, em outubro deste ano, dos casos em que poderiam haver doações, 35% não se concretizaram por uma opção das famílias. Para Ademir, é preciso intensificar ações de conscientização, especialmente nos núcleos familiares. “Infelizmente sabemos que é o momento mais difícil para se tomar uma decisão assim, mas os familiares precisam estar conscientes de que estão salvando outras vidas”, valoriza Rigo.

 

O transplantado Ademir Ignácio Rigo comemora neste mês o primeiro ano de coração novo ao lado da filha Vitória. - Camila Baggio/O Florense Há um ano Ademir comemorava, muito mais do que o Ano-Novo, o sucesso do transplante ao lado da filha e da esposa Edilce. - Arquivo Pessoal/Divulgação
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