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Como a pandemia influencia nossos sonhos

Especialistas explicam que sonhos "estranhos" são comuns em situações traumáticas intensas

Faça uma pesquisa rápida com seus familiares e amigos sobre o que eles andam sonhando neste tempo de quarentena e é bem provável que diversos deles responderão que estão tendo sonhos “estranhos” desde o início do isolamento social e da avalanche de notícias ruins. “É bem comum em situações mais graves. Há diversas pesquisas, inclusive, durante a Segunda Guerra Mundial e o 11 de Setembro, sobre o que as pessoas sonham quando estão vivendo situações traumáticas intensas e coletivas”, afirma a psicanalista Adriana Antunes.

Adriana explica que, com as rotinas completamente alteradas em razão do novo coronavírus, o que, para muitos, significa mais tempo de sono, os sonhos acabam por expressar, de uma forma muito mais vívida e livre, os medos, as angústias e o estresse emocional e físico causados pela pandemia. “Os sonhos vêm como uma forma de nos aliviar. A gente sonha porque precisa armazenar memória, a gente sonha porque o nosso inconsciente, durante o sono, está mais livre, com menos censura. E também sonhamos para simbolizar as experiências que estamos vivenciando. Há mais de 100 anos a psicanálise diz que é muito importante que a gente consiga sonhar”, reflete a profissional.

Situações frequentemente ligadas a aspectos negativos refletem o período delicado que a sociedade atravessa. “Na nossa geração, nunca se falou tanto de morte como se tem falado ultimamente. A morte acabou se tornando um assunto muito diário. Todos os aspectos que são relacionados à questão da morte e ao desejo da vida vêm à tona de forma mais forte na questão do sonho”, acrescenta Adriana.

Adriana cita o neurocientista Sidarta Ribeiro, que diz que estamos vivendo uma experiência onírica que vai trazer aspectos da negatividade, do medo, do pesadelo, desses sonhos de angústia muito fortes, mas também trazem a ideia da salvação. E assim vamos conseguindo simular futuros possíveis. “Como estamos mais reclusos agora, os nossos sonhos, os nossos desejos estão mais difíceis de serem manifestados no dia a dia. Isso acaba sendo jogado para dentro do nosso inconsciente”, completa a psicanalista.

 

Olhar para si

O psicoterapeuta junguiano Filippo Pezzini explica que tanto para Freud (1856-1939) quanto para Jung (1875-1961), os sonhos são expressões do inconsciente. Freud vê os sonhos como a realização de desejos. Jung, como uma manifestação simbólica. “Nessa quarentena, as pessoas estão tendo que ficar mais sozinhas. Estão tendo que pensar muito. Elas se obrigaram a parar e olhar para a sua vida. Qual efeito disso para a psique da pessoa? Obviamente, vão começar a sonhar mais, porque quando a gente começa a dar abertura para o inconsciente, os sonhos começam a aparecer mais. Antes, a gente vivia uma rotina em que a gente podia se distrair, se ocupar, socializar, que é uma maneira extrovertida de viver a vida. Agora, estamos obrigados a introverter, a parar e pensar, olhar para dentro.”

Nesse processo, continua Pezzini, surgirão sonhos estranhos que parecem não ter sentido algum. Ressaltando a importância da psicoterapia para interpretar os sonhos juntamente com o paciente, o profissional também cita o neurocientista Sidarta Ribeiro e seu livro, O Oráculo da Noite. “Ele fala da importância de manter um registro diário dos sonhos. Toda vez que a gente sonha, na cama mesmo ter um bloquinho do lado e anotar esses sonhos, porque o Jung também pensava que os sonhos não podem ser isolados. Eles são como capítulos de livros. Um vai acrescentando ao outro. Os sonhos têm que ser pensados em série. Muitas vezes, numa semana, falam do mesmo tema.”

 - Reprodução
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