A maternidade por meio da adoção
Há três anos, Zulma Paim comemora o Dia das Mães ao lado da pequena Ana Paula
O primeiro contato entre a empresária Zulma Paim, 50 anos, e a pequena Ana Paula Paim, hoje com cinco anos, foi de puro amor. A conexão foi imediata e mesmo tendo esperado seis anos para ter a filha nos braços, tudo valeu a pena. “A Ana Paula chegou com dois anos na minha vida. Eu pegava ela na escolinha, levava para a minha casa e jantávamos juntas. Mas, depois de um dia inteiro, precisava ir até Caxias para devolvê-la ao lar. Lembro como era doloroso fazer isso. Depois de uma semana com essa rotina, liguei para a psicóloga e informei que ela ficaria comigo para sempre”, conta a empresária. E assim foi, passados três anos a conexão entre as duas se fortalece dia a dia. Zulma aprendeu por meio da adoção as dores e as delícias da maternidade e Ana Paula a receber amor em um novo lar. Neste domingo, dia 12, elas irão comemorar mais um Dia das Mães juntas.
Entretanto, para chegar até aqui, Zulma precisou enfrentar um burocrático e desgastante processo chamado adoção. Há alguns anos atrás, a moradora de Flores da Cunha decidiu que queria adotar um filho. O desejo veio a partir de um trabalho voluntário que ela pratica até hoje. “Via muitas crianças sem perspectivas de futuro e fui amadurecendo a ideia dentro de mim, pois não é uma decisão fácil, ainda mais sozinha”, conta Zulma, que é solteira. Em 2009, ela realizou o cadastro em Caxias do Sul, cidade em que trabalha, e após várias entrevistas com assistentes sociais e psicólogas conseguiu, um ano depois, a habilitação para adotar uma criança. Mal sabia ela que a espera seria lenta e árdua.
“É um processo doloroso que, muitas vezes, desmotiva. Briguei muito com a Justiça. Vi muitos pais com cadastros mais recentes que o meu já estarem com seus filhos e eu nada”, relembra.
A dificuldade em conseguir adotar uma criança fez com que Zulma alterasse as características do cadastro, passou a incluir uma idade maior e com irmãos. Mesmo assim não desistiu e continuou em frente no sonho de ser mãe. O processo durou seis anos e, no dia 24 de maio de 2016, ela recebeu a ligação que tanto esperava. “Nunca vou esquecer esse dia. Me ligaram falando que minha filha havia chegado. Era depois das 18h e tive que esperar até o dia seguinte para conhecer a Ana”, conta.
A menina chegou na vida de Zulma com dois anos e 10 meses e estava num lar temporário para adoção. A empresária conta que a adaptação da filha foi rápida e a conexão imediata. A única dificuldade enfrentada foi não ter conseguido a licença maternidade no primeiro mês de convívio. “Tinha viagem de trabalho e tive que deixar a Ana na escolinha em Caxias. Foi um período difícil, por que queria muito ficar com ela, mas precisava viajar”, relembra.
Passados três anos e dois Dias das Mães juntas, elas não se desgrudam mais. Zulma, que contou com o apoio dos familiares e amigos, diz que não se vê mais sem a filha. “Uma criança muda tudo na vida da gente, a casa muda, as rotinas mudam, as prioridades mudam. Sou outra pessoa depois da chegada da minha filha. Hoje somos nós duas, e formamos uma família muito feliz. Não há amor maior que de um filho, independente de como foi gerado”, afirma Zulma. Ela sempre foi honesta com Ana, que sabe que é adotada. “Sempre fui muito transparente com ela. Ela sabe que não nasceu da barriga, mas do coração”, finaliza.
Como adotar uma criança
No Brasil, o processo de adoção é definido pelas regras do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), através da Lei nº 8.069/1990 e suas alterações que diz que a adoção é ato voluntário irrevogável, um direito civil e constitucional, devendo ser processado absolutamente dentro da lei, para garantir segurança jurídica tanto para quem adota como para quem é adotado. Em Flores da Cunha, todo o processo tramita no Fórum (Rua Borges de Medeiros, 2170, Centro). Pode se habilitar à adoção pessoas com idade mínima de 18 anos, independentemente do estado civil, desde que seja respeitada a diferença de 16 anos entre quem deseja adotar e a criança a ser acolhida. Atualmente, existem 28 pessoas aptas no município, aguardando pela adoção. Outras seis pessoas estão em processo de habilitação.
O primeiro passo é dar entrada na documentação junto ao Cartório Judicial, no Fórum. São necessários diversos documentos, incluindo atestado ou declaração médica de sanidade física e mental. Pessoas solteiras podem encaminhar sozinhos os processos, mas casados ou pessoas que vivam em união estável devem fazê-lo juntos. Depois de aprovado esse processo é que a pessoa será habilitada a constar nos cadastros local e nacional de pretendentes à adoção. São realizadas visitas e entrevistas preliminares para avaliar a situação socioeconômica e psicoemocional do adotante.
Durante essa etapa, o pretendente descreverá o perfil da criança desejada. É possível escolher o sexo, a faixa etária e o estado de saúde. A partir do laudo, o juiz dará a sentença. Se aprovado, o pretendente entra automaticamente na fila de adoção e aguardará até aparecer uma criança com o perfil compatível com aquele fixado durante a entrevista técnica.
O Fórum avisa ao pretendente quando existir uma criança com o perfil compatível ao indicado. O histórico de vida da criança é apresentado ao adotante. Se houver interesse, ambos são apresentados. É permitido visitar o abrigo ou a casa onde ela mora e dar pequenos passeios. Se o relacionamento correr bem, a criança é liberada e o pretendente ajuizará a ação de adoção. Ao entrar com o processo, o adotante receberá a guarda provisória, que terá validade até a conclusão do processo. Nesse momento, a criança passa a morar com a família. A equipe técnica continua fazendo visitas periódicas e, ao final, apresenta uma avaliação conclusiva.
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