Geral

Pela primeira vez Flores da Cunha terá um representante na semifinal do concurso de beleza Mister Rio Grande do Sul. Felipe Aver, 23 anos, leva no peito a faixa do município que, embora não seja sua casa – ele mora em Antônio Prado –, marcou sua vida de uma forma particular. Foi em Flores da Cunha que Felipe sofreu um grave acidente de trânsito no dia 9 de outubro de 2014, o qual ceifou a vida da noiva Érika Peres Pacheco, 23 anos. Natural de Rosário do Sul, na Fronteira Oeste, Érica morava em Flores da Cunha e comemorava seu aniversário naquele mesmo dia – data também em que eles tinham noivado.

Quase três anos separam aquele Felipe mais jovem do hoje candidato ao concurso que irá eleger o homem mais bonito do Estado em 2018. Cicatrizes espalhadas pelo corpo e a tatuagem em homenagem à Érica estão marcadas na pele de Felipe. Desistir nunca foi uma opção para ele. “É até difícil explicar tudo o que aconteceu. O acidente marcou minha vida e muitas pessoas me julgam ser frio por ter superado isso tudo. A Érica era uma menina especial e eu aproveitei tudo de bom que ela me passou, como ver a vida de forma mais positiva, sempre pelo bem. Minha superação faz me sentir bem, e autoestima e ego são importantes para nós. Amadureci muito depois do acidente, e procuro aprender o máximo possível, dando valor a essas coisas que passamos na vida, sejam elas boas ou ruins. É o que está acontecendo agora durante o concurso”, reconhece.

Na época, Felipe dirigia o carro em que o casal estava e que ficou totalmente destruído na ERS-122. Ele ficou preso às ferragens e teve um número quase inacreditável de fraturas – quebrou todas as costelas, o externo (osso do peito), o braço direito, o osso occipital (parte de trás do crânio), o osso zigomático das duas faces (das bochechas), perfurou o fígado, o intestino, o baço e amassou um dos pulmões. O trauma provocou hemorragia interna e Felipe precisou fazer três transfusões de sangue. Embora a gravidade do caso, a recuperação do jovem foi considerada rápida pelos médicos – 18 dias de internação, 10 deles em coma na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).

Hoje Felipe lida com uma pequena sequela do acidente. Em função do politraumatismo que teve na cabeça, desenvolveu epilepsia e leva alguns cuidados diários para evitar as convulsões. “Não consumo bebidas alcoólicas ou cigarro, por exemplo, ou algo que possa alterar minha pressão. Mas eu vejo isso de forma positiva, me afastou de hábitos que não são legais”, acredita Felipe. As cicatrizes ele não pretende tirar. “Hoje elas fazem parte de mim, me fizeram quem eu sou hoje.”

O concurso

No dia 15 de outubro Felipe vai participar da semifinal do Mister Rio Grande do Sul 2018, que ocorrerá no Canoas Parque Hotel, na cidade de Canoas. Há mais de três meses, desde que foi convidado por um agente para participar do evento, o jovem está envolvido em uma série de atividades preparatórias como passarela, dicção e oratória. Em outubro ele disputa com cerca de 80 candidatos as 20 vagas para a grande final, esta marcada para dezembro. Entre os critérios de avaliação estão a apresentação, o desfile de sunga e a desenvoltura em passarela e com o público. O vencedor segue para disputar o título de Mister Brasil com representantes de outros Estados.

Participar do concurso já estava nos planos de Felipe há algum tempo. Como Antônio Prado já tem um representante, ele aceitou representar Flores da Cunha. “O concurso é pouco conhecido aqui na Serra, mas tem muito prestígio no Estado. Enfrentei algumas dificuldades e até mesmo preconceito, mas nesta caminhada meu agente auxiliou na busca por patrocinadores e parceiros e estou feliz por conhecer tantas pessoas. Está sendo uma experiência muito bacana e eu estou tirando proveito de tudo, aprendendo mesmo que eu não passe para a final ou não vença”, assegura Felipe.

Embora já ilustre catálogos e anúncios publicitários de lojas, Felipe nunca foi modelo profissional, sempre teve uma vida saudável, inclusive antes do acidente – esta foi inclusive uma das explicações dadas pelos médicos para a sua rápida recuperação. Ele une os estudos em Nutrição e Educação Física ao trabalho – é dono de uma loja de suplementos alimentares e naturais. “Esporte para mim é doutrina, é educação, e isso me ajudou muito a superar tudo isso, inclusive agora com a epilepsia”, garante o jovem.

O concurso Mister RS foi criado em 2003 e, em 2012, passou a fazer parte do Mister Brasil como uma seletiva estadual. No RS o concurso é coordenado por Marcelo Soes, que também atua em outros concursos de beleza como o Garota Verão, Soberana das Piscinas RS e o Broto RS.

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