Como o coronavírus impactou o setor de eventos
Profissionais da área projetam uma retomada gradual somente a partir de setembro. Diversos eventos foram cancelados
“Tenho três funcionários, uma família para sustentar e nenhum evento”. Essa é a realidade do empresário de locação de som e iluminação, Igor José Longhi, 39 anos. Há 25 anos ele atua no ramo de eventos e aponta que nunca vivenciou um período tão conturbado como esse, em que a pandemia da Covid-19 obrigou o isolamento social e com ela o cancelamento e adiamento de diversos eventos. O setor é um dos que mais sofre. Foi o primeiro a parar, já que em sua essência conta com aglomeração de pessoas e, provavelmente, será o último a retomar as atividades. “A partir do dia 13 de março foram cancelados todos os eventos até o final de julho. São pelo menos 50 atividades”, diz Longhi. Conforme o empresário, eventos sociais como casamentos foram reagendados. Já palestras, bailes, shows e eventos corporativos foram temporariamente cancelados. “Não tenho outra renda para viver. Vivo disso. Agora estou negociando alguns adiantamentos. Mas é um momento bem complicado e a maior preocupação é manter as contas em dia sem faturamento”, declara.
O empresário possui três funcionários, que estão trabalhando internamente com reparos, testes e treinamentos de novos softwares e equipamentos. “Vamos ficar assim até o final deste mês. Em maio, vamos conceder férias para os funcionários que têm direito. A nossa intenção é não demitir ninguém. Farei de tudo para manter o quadro para quando voltar as atividades”, informa ele, que complementa. “O setor de eventos é o mais prejudicado com a pandemia. Foi o primeiro setor a paralisar suas atividades e será o último a voltar e não temos expectativas concretas de quando retornaremos”. Segundo Longhi, em outras crises econômicas, como a de 2008 e 2015, o setor de eventos levou de dois a três anos para recuperar as atividades 100%.
Dificuldades
Outros profissionais do setor também sentem as dificuldades. As proprietárias do Armazém da Festa, Suzana Fontana, Barbara Fontana e Daiane Parizotto, que trabalham no ramo há 11 anos, tiveram 19 eventos, entre formaturas, casamentos, aniversários e chás de fraldas cancelados ou reagendados. “A maioria foi cancelada. No início ligavam para reagendar, mas como não há uma perspectiva de retorno imediato acabaram desistindo”, conta Daiane.
As empresárias também possuem uma loja física de artigos para festas e confeitaria, que precisou ficar fechada por uma semana. “Neste período nos reinventamos e trabalhamos com tele entrega e take away. Dessa forma, fizemos pequenas comemorações com material locado em casa”, relatam as sócias que estão cortando gastos. “Não recebemos adiantamentos dos eventos que foram reagendados, por isso precisamos cortar despesas. Não estamos repondo mercadoria, trabalhamos apenas com o estoque, já que a venda foi bem reduzida dos produtos da loja. Estamos negociando valores de aluguel e redução de horário de atendimento, além de não estarmos recebendo salário neste momento para conseguir pagar as contas. Torcemos para que a retomada ocorra em setembro”, contam.
Mês de retorno
Os profissionais do setor de eventos apontam que agosto deve ser o mês do retorno. Para a empresária Dolores Zim, da DMZ Decorações, que atua há 25 anos no setor, agosto será decisivo, já que até lá nenhum evento está programado. “Nossa expectativa é grande para setembro, outubro e novembro, pois todos os eventos reagendados devem se concretizar no final do ano. Por outro lado, poderá haver congestionamento nas datas, podendo até não conseguir atender a demanda de todos”, destaca. Conforme ela, as perdas nesses últimos dois meses foram de 100%. “Trabalhamos eu e meu marido e nossa renda é os eventos e a loja. É nossa única renda. Tínhamos eventos pequenos, como festas infantis, que já estava tudo pago, e como foi cancelado tivemos que devolver o dinheiro”, conta. A empresa possuía três funcionárias, mas com a crise, uma acabou sendo demitida e as outras duas tiveram o contrato de trabalho suspenso por 60 dias.
A mesma aflição é sentida pelos fotógrafos Luizinho Bebber e Mara Luci Bebber que também tiveram eventos adiados. São 25 trabalhos, entre casamentos e demais festas que foram realocados. “Mas não é só a questão de eventos. Também tivemos uma queda significativa nas fotos em estúdio, além de termos ficado em torno de 25 dias fechados”, informam. O estúdio possui duas funcionárias, as quais, no primeiro momento tiveram férias concedidas. “Agora optamos pela suspensão temporária, esperando uma melhora no movimento”, declaram os fotógrafos, que apostam na retomada em setembro.
“Era pra ser neste sábado”
Os casamentos foram os mais afetados pela Covid-19 já que possuem aglomerações. Conforme a Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, sete uniões foram desmarcadas até agora. Um dos casais que precisou reagendar a data foi a cabelereira Maira de Rossi, 34 anos, e o comerciante Filipe Massarotto, 32. Eles se casariam neste sábado, dia 25. “Nos conhecemos em 2011 e há dois fomos morar juntos, mas sentíamos a falta de receber uma bênção e oficializar a união”, diz Maira. Porém, o coronavírus fez os planos mudarem e a realização do sonho passou para 23 de janeiro de 2021. “Nunca imaginamos passar por tudo isso. É difícil de descrever, não só por nós, mas por tudo e por todos. As perguntas eram várias. Porque com nós? Era pra ser neste sábado, mas acredito que Deus tem um propósito para todos nós”, contam.
A noiva já tinha o modelo do vestido escolhido e o tecido comprado, o que também influenciou no trabalho da estilista Juliana Lazzari. Ela teve 100% de alterações de datas dos pedidos. “Já temos noivas dos meses de setembro e outubro pensando em trocar data, pois agora seria o momento em que elas estariam distribuindo convites, provando pratos, fazendo fotos de pré-wedding, escolhendo tecidos para o vestido. No entanto a incerteza do momento acaba impedindo tudo isso”, enfatiza a estilista.
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