Política

Razões e convicções na política

Eleitos para administrar o município, legislativo e executivo teriam que ter mais diálogo

Pela primeira vez na história de Flores da Cunha, quatro vereadores não comparecem a duas sessões extraordinárias, interrompendo o trâmite legislativo e, de certo modo, forçando o executivo a retirar de pauta o projeto de reforma administrativa. 
Em um sentido, parece que deu certo a estratégia dos vereadores das bancadas do MDB e PSB em impedir que o projeto fosse apreciado. Por outro lado, a alegação de que queriam impedir “um gasto enorme ao município” não soa plausível. Acontece que, na segunda-feira, dia 24, de forma unânime, ou seja, contando com votos das bancadas da situação e da oposição, os oito vereadores – o presidente só vota em caso de empate – aprovaram projetos de aumento das despesas de mais R$ 5 milhões. O auxílio alimentação e o auxílio transporte causam impacto de pelo menos R$ 2,85 milhões. São cerca de 580 servidores ativos que receberam 100% de aumento no auxílio alimentação – que passou de R$ 292,60 para R$ 600 – e outros R$ 140 mensais de auxílio transporte. Soma-se a esta despesa, a criação de 31 cargos para serem providos por concursos público, nos quais projeta-se uma despesa de mais de R$ 2,6 milhões.  Em sequência a estes projetos, quando se tratou de aprovar a criação de 26 cargos de confiança, necessários a qualquer administração, e que de certo modo já existiram e foram extintos em 2019, cujo impacto é de R$ 1,9 milhão, os vereadores recusaram-se a comparecer, temendo que se o projeto fosse submetido à votação, seria aprovado. 
É preciso ressaltar, ainda, que no cálculo do impacto financeiro não está sendo contabilizado o aumento dos servidores municipais, que foi de 12,6%, acima de outras categorias e do próprio aumento que os aposentados do INSS receberam, que foi de 10,06% de reposição. 
Eleitos para administrar o município – legislativo e executivo teriam que ter mais diálogo. Quem legisla e hoje é oposição, pode em breve ser governo. Por outro lado, o argumento de que a população deve ser ouvida, o que é louvável, deve ser acompanhado de estratégia de comunicação e de instrumentalização para que a decisão não seja apenas intuitiva. A criação de cargos públicos, de modo geral, será sempre rejeitada pela população, diante do desgaste que a política e os políticos, de modo geral, vêm sofrendo nestes tempos. Se perguntar para a população, quem está de acordo com a criação de cargos, a grande maioria vai dizer que é contra. Mas, todos queremos professores nas escolas, médicos e enfermeiros nas unidades de saúde e administradores, profissionais e executores para todas as demais áreas do serviço público. Portanto, sem questionar ou negociar os demais projetos, a oposição barrou a tramitação apenas do projeto que cria cargos de confiança que, de certo modo, já existiam, dando uma conotação apenas política a este ato. 
O impasse está gerado e o prefeito solicitou a retirada do projeto. Há quem defenda que uma administração deva ter mais cargos de confiança, enquanto outros entendem que os cargos de chefia devam ser executados por servidores concursados e com estabilidade de emprego. Em política, mais do que razões, valem as convicções. O problema é que esta percepção toma posições diferentes quando se é governo ou oposição. 

 - Rouglan Uliana
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