Nova Pádua

A cultura do Talian sempre esteve muito presente nas raízes das famílias que moram no Pequeno Paraíso Italiano. E para que essa cultura possa ser levada adiante, o município de Nova Pádua realiza uma oficina de Talian, a qual busca resgatar a história, a cultura e as tradições, além de manter viva a língua dos antepassados, a fim de consolidar o ensino de forma oral e escrita.
“Um povo que esquece a sua língua, aos poucos, esquece quem é e quem foi. Neste sentido, a iniciativa busca preservar o legado deixado pelos nossos antepassados, mas sobretudo, oportunizar aos discentes o aprendizado de uma segunda língua, imprescindível na formação acadêmica nos dias atuais”, relata a secretária de Educação, Josenice Panizzon Bernardi.
O projeto, que iniciou na metade de março, superou a expectativa da administração. De acordo com a secretária da pasta, o interesse da comunidade pela oficina já vinha sendo notado há algum tempo. “A comunidade escolar demandava e expressava seu interesse em preservar a cultura e o nosso maior legado histórico: a língua. A partir disso, a oficina de Talian ganhou estrutura e funcionamento adequados a atender os objetivos propostos, contemplando alunos e comunidade em geral”, revela Josenice, ao mesmo tempo em que diz que outro aspecto inerente a abordagem é a Lei Municipal nº 1.214, de 26 de novembro de 2020, que regulamenta o Talian como língua cooficial do município, bem como ressalta a importância da preservação deste patrimônio imaterial paduense.
Ao todo, 22 alunos estão participando do ensino, sendo 18 estudantes do 1º ao 6º ano do Ensino Fundamental e quatro participantes na modalidade adulto. A oficina, voltada para as crianças do 1º ao 6º ano, é ministrada pela professora Ariela Boldrin Baggio, que já concluiu as três modalidades do curso de Talian e, atualmente, está cursando a conversação e preparando planos de aula. As oficinas ocorrem sempre no contraturno escolar, nas segundas-feiras, das 8h às 10h, e nas sextas-feiras à tarde, das 15h às 17h, na Escola Municipal de Ensino Fundamental Profª. Libera Bianchin Salvador. De acordo com a secretária de Educação, as aulas serão realizadas durante todo o ano letivo e devem continuar em 2024, contemplando novas faixas etárias.
Já as oficinas para adultos, ocorrem no Centro Integrado de Apoio à Criança e ao Adolescente, junto ao prédio da antiga Câmara de Vereadores, sempre às quartas-feiras, das 19h às 20h, e tem duração de dois anos. Neste grupo, as aulas são ministradas de forma online pelos professores Juvenal Jorge Dal Castel e Loremi Loregian-Penkal, diretamente pela Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (Unicentro). Nestas aulas, a professora Ariela se responsabiliza por organizar a turma e preparar as atividades extras. “A metodologia e os conteúdos são um pouquinho diferenciados. Com os adultos é possível explorar muito além, já com as crianças seguimos por etapas, aprendendo o alfabeto, um pouco das músicas, as letras, e os adultos conseguem atingir mais objetivos a cada aula”, explica, acrescentando que a dinâmica também acaba mudando devido a modalidade das aulas.
Apesar de ser algo novo, a professora diz perceber o interesse de muitas pessoas – inclusive de outras cidades – em aprender a escrever e, até mesmo, falar corretamente o Talian: “Vários municípios tornaram o Talian uma língua cooficial, não só Nova Pádua. Percebo que é fundamental que as pessoas mantenham essa cultura, preservem essa língua; se ela não for falada, não for escrita, não for passada para as futuras gerações, nós não teremos a língua Talian mantida”, relata, na expectativa de que o Talian seja uma das línguas ensinadas nas escolas da Serra Gaúcha, ou na forma de oficina, ou na de disciplina, para que assim possa ser perpetuada.
Fato este que levou a contadora e princesa da 15ª Feprocol, Aline Marin, de 26 anos, a saber mais sobre a língua: “O que me motivou a participar foi o desejo de aprender e aperfeiçoar meus conhecimentos sobre o Talian, uma língua que representa nossos imigrantes, as pessoas que tanto batalharam e ainda lutam para o nosso desenvolvimento. Acredito que o Talian também está relacionado à nossa cultura, história e ao nosso povo, representando as raízes e a origem das pessoas que vivem na nossa região”, revela a jovem.
Para a paduense, a iniciativa do município é fantástica e traz uma experiência maravilhosa e enriquecedora, contribuindo para que, no futuro, sejam formados cidadãos conscientes, que entendam a verdadeira importância da valorização dessa cultura. “O Talian é a raiz das nossas famílias, dos nonos e pais, dos nossos agricultores e do povo da nossa região, principalmente de quem vive em Nova Pádua e em Flores da Cunha. É a essência e os valores da nossa gente, das pessoas que tem amor à sua cultura e a tudo que construímos. É o desejo de querer avançar, cada vez mais, em todos os aspectos – econômicos, culturais e sociais. Então é por esse motivo que o Talian é importante, porque acima de tudo, ele representa o orgulho do povo paduense”, defende Aline.
A princesa também conta que a turma já aprendeu alguns conteúdos básicos, como as saudações: bona sera (boa noite, quando se chega), bona note (boa noite, quando se vai embora), bon giorno (bom dia), bem vegnesto (bem-vindo), ciao (tchau), além do alfabeto, vogais, consoantes e a maneira correta de pronunciá-las. 
Com o decorrer do tempo, novos conteúdos serão apresentados à turma, o que traz ótimas perspectivas de crescimento: “Minhas expectativas, até o fim do curso, são as melhores possíveis, espero estar praticando bem (tanto a fala, quanto a escrita) de modo que possa estar repassando este conhecimento. Acredito que isso agregue em diversos aspectos, seja em questões pessoais ou profissionais”, empolga-se Aline.
As inscrições para a oficina de Talian, para crianças do 1º ao 6º ano, ainda estão abertas e podem ser realizadas, de forma presencial, junto à Secretaria de Educação de Nova Pádua, ou pelo telefone (54) 3296 1600. Já as inscrições para adultos estão encerradas.