Nova Pádua

O passado eternizado nas páginas de um livro

Terceira Feira do Livro ao Ar Livre será realizada nos dias 25 e 26, no largo da Igreja Matriz

Na próxima sexta-feira, dia 17, o Pequeno Paraíso Italiano começa a escrever mais um capítulo na história da literatura. A data marcará o início do projeto literário, cultural e artístico que antecede a 3ª Feira do Livro ao Ar Livre de Nova Pádua, que será realizada no sábado, dia 25, e domingo, 26, no largo da Igreja Matriz. 
A escolha do local para sediar o evento, que já ocupou a Adega Dom Camilo e o Complexo Belvedere Sonda, de acordo com a secretária de Educação, Cultura, Turismo, Esporte e Lazer, Josenice Panizzon Bernardi, surgiu com a conclusão da revitalização e reforma das praças e da Avenida dos Imigrantes, entregue pela administração no fim de 2022, e reforçando a ideia de manter o evento itinerante e em espaços abertos. 
Essa opção vem ao encontro de despertar nos jovens o interesse pelo hábito da leitura e da escrita, aspecto evidenciado por Josenice: “Embora o ponto alto do evento seja nos dias 25 e 26, as atividades iniciam ainda no dia 17, com a roda de conversas para os professores do município, com o patrono Prof. Delcio Agliardi, a partir das 18h15min, no auditório da prefeitura. No mesmo dia, a partir das 20h, o público poderá acompanhar, pelas redes sociais do Instituto Flávio Luis Ferrarini (IFLF), o Café Literário, também com a presença do patrono e de escritores convidados”. 
A secretária da pasta acrescenta que nos dias 20, 21 e 22, na casinha da árvore, será realizada a Contação de Histórias para os alunos da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental, além de palestras nas escolas para alunos de anos finais do Ensino Fundamental e Médio. “Este projeto literário, cultural e artístico visa, sobretudo, estimular o hábito da leitura, desenvolver habilidades e competências no que se refere, principalmente à área das linguagens, além de incentivar o senso criativo, a imaginação e a fantasia das crianças por meio de obras de nossa literatura. Neste ano, junto à Escola Luiz Gelain acontecerá o Festival de Sonetos, coordenado pelas professoras de Língua Portuguesa Janaina Figueiredo e Iliane Lusa Linden, a partir da obra da escritora Isabel Damian ‘Sonetos da Diversidade’, cuja premiação dos melhores sonetos ocorrerá durante a Feira do Livro”, detalha Josenice. 
O grande diferencial desta edição, conforme a secretária, será o Encontro de Corais, promovido pelo Coral Santa Cecília, de Nova Pádua: “Por meio desta ação, será possível prestigiar a boa música, com corais convidados, além da confraternização com jantar no Salão Paroquial. No domingo, dia 26, também está prevista a apresentação do Coral Tramontina, de Farroupilha, com vasto repertório de clássicos da MPB”, comemora, acrescentando que na mesma data haverá a terceira edição do Tramonto In Piazza, com a dupla florense Maicon&Pontel.  
De acordo com a idealizadora e vice-presidente do Instituto Flávio Luis Ferrarini, Madeleine Ferrarini Dallemole, a escolha dos nomes do patrono e dos escritores que serão homenageados na Feira do Livro foi um consenso entre os realizadores do evento: “O patrono, professor Delcio Antônio Agliardi, e um dos homenageados, Arcangelo Zorzi Neto, o ‘Maneco’,  aconteceu devido a grandiosa trajetória de ambos no universo literário e artístico e também à proximidade que os dois sempre tiveram  com o IFLF, assim como com meu irmão, Flávio. Já Gema Menegat Tonet é a homenageada local, por sempre ter sido muito envolvida na sociedade paduense, contribuindo como professora, vereadora, escritora, líder comunitária e eterna incentivadora das artes, da literatura e da contação de histórias”, explica Madeleine. 
O IFLF esteve à frente da organização de todas as edições da Feira do Livro ao Ar Livre, o que, conforme a idealizadora, é motivo de orgulho e alegria: “Para nós, do Instituto Flávio, é um grande privilégio ajudar a organizar a 3ª Feira do Livro de Nova Pádua, somos agradecidos por toda a comunidade paduense ter recebido tão bem nossas sugestões desde a primeira edição. Ficamos felizes em fazer parte, já que o Instituto foi criado para ser parceiro em projetos literários e fazer conexões culturais”, revela, acrescentando que pelo fato de o evento ser itinerante, surpresas sempre estarão garantidas. 
Por isso, além das atrações já previstas na programação, neste ano a feira contará com várias bancas de livros e um espaço de arte: “Também teremos aquela decoração diferenciada que nós gostamos de fazer para que o público possa interagir e se divertir de todas as formas’”, conclui a vice-presidente do Instituto, emocionada em dar sequência a este projeto na Terra do Sol, cidade natal de seu irmão, Flávio. 
A 3ª edição da Feira do Livro ao Ar Livre é uma realização da Prefeitura de Nova Pádua, do Instituto Flávio Luis Ferrarini e do Coral Santa Cecília de Nova Pádua.

A paixão por contar histórias

Ser homenageado por seu legado à literatura, pelas palavras que foram escritas e ajudarão a contar histórias para as próximas gerações, registros do passado eternizados para o futuro. É por isso e muito mais que o professor e escritor Delcio Antônio Agliardi foi escolhido como patrono da 3ª Feira do Livro ao Ar Livre de Nova Pádua, e Arcangelo Zorzi Neto, o ‘Maneco’, e Gema Menegat Tonet foram agraciados com o título de escritores homenageados do evento. 
Em entrevista ao Jornal O Florense, o patrono, Delcio Antônio Agliardi, revelou que o sentimento é de alegria: “É uma honra participar dessa iniciativa que valoriza e reconhece a leitura literária, que movimenta e envolve a comunidade para o prazer e a fruição de ler. Estou feliz por saber que a Feira do Livro participa da formação e da história de leitura de crianças, jovens e adultos, além de construir pontes entre o real e o ficcional e vice-versa”. 
Formado em letras, direito, filosofia e educação, Agliardi é natural de Machadinho, no noroeste gaúcho, e atua como professor do curso de Pedagogia na Universidade de Caxias do Sul (UCS) e demais licenciaturas. É autor das obras: ‘Duetto Poético’ (Tomo, 2015), ‘Rotas do Imaginário’ (Liddo: 2018), ‘A coruja de pernas tortas’ (Elos do Conto: 2019), ‘A caixa dourada’ (Chiado Books: 2019), ‘Converso: poesia para a infância’ (Elos do Conto: 2020).
Sobre sua relação com o município paduense, ele explica que por trabalhar na formação inicial e continuada de professores da educação básica, a docência resulta na construção de vínculos afetivos e de amizade com estudantes e professores de Nova Pádua e região. “Na área da literatura literária, desenvolvi iniciativas e projetos de leitura que reverberam na promoção e valorização do ato de ler. Como escritor, tive o privilégio de observar o uso dos livros que escrevi pela comunidade escolar. Um dia, uma criança me perguntou qual é o segredo de escrever um livro. Respondi que o livro espera o leitor, deseja ser lido, esse é o segredo. Outra ligação é com os escritores e produtores culturais de Nova Pádua. A obra do escritor Flávio Luis Ferrarini, e a amizade com ele, nascido em Nova Pádua, é talvez o maior elo, assim como o trabalho do livreiro Maneco”, explica o patrono, que também participou de eventos em Flores da Cunha, cidade-sede do IFLF, e acredita que o trabalho da entidade é de grande valia para a cultura local: “É imprescindível para o presente e o futuro da leitura literária, além de preservar a memória e a obra de Flávio”, reflete. 
Agliardi também fala de sua relação com o curta-metragem ‘O Menino da Terra do Sol’, conforme o autor, em 2015 ele havia comprado 10 exemplares do livro e distribuído: “Um deles foi entregue para a amiga, escritora e produtora cultural, Raquel de Marco. Ela amou a obra. Surgiu assim um filme, baseado na vida do escritor Flávio Luis Ferrarini”. 
Acerca das expectativas para a Feira do Livro ao Ar Livre, o patrono acredita que o evento cumprirá seu propósito, afinal, temos direito à literatura: “Ela é uma ferramenta para a construção da subjetividade humana e para aproximar das novas gerações tudo aquilo que o mundo das letras e das artes, nos deixa para apreciar e valorizar. Espero que a comunidade, por isso, participe e valorize”, conclui. 
E por falar em participar e valorizar, quem sempre viveu entre os livros é o escritor homenageado Arcangelo Zorzi Neto, o ‘Maneco’, que nasceu no Travessão Santo Isidoro, em Nova Pádua. Filho de José Zorzi e Anna Simionato, ele fundou a Livraria do Maneco, foi um dos fundadores do grupo teatral Miseri Coloni e participou como ator nos filmes: ‘O Quatrilho’, ‘Orindi’, ‘Nossa Senhora do Caravaggio’ e ‘Ego Sun’. 
Para Maneco, que já foi homenageado na Feira do Livro de Caxias do Sul, ser agraciado ‘em casa’ tem um significado especial: “Fico muito feliz por ser homenageado na Feira do Livro de Nova Pádua, onde nasci. Após sair do município, com 12 anos de idade vim para Caxias do Sul para estudar e trabalhar. Meu primeiro trabalho foi vender livros na Livraria Sulina”, lembra. 
Hoje, como escritor homenageado, ele almeja que o evento seja de muito sucesso, prestígio e conte com a presença do povo paduense e florense: “É uma honra poder fazer parte de um evento como este, juntamente com o Instituto. Flávio e eu éramos grandes amigos e tive a honra de editar várias obras literárias (13) deste grande autor da literatura Riograndense”, conta Maneco, emocionado. 
Emoção também é o que sentimos ao falar com a escritora homenageada Gema Menegat Tonet, um exemplo de mulher apaixonada pela educação e pelo município em que vive. Natural do Travessão Curuzu, a professora aposentada lecionou por 23 anos na Escola Luiz Gelain e foi eleita a primeira vereadora mulher de Nova Pádua, tendo sido reeleita em 2005. 
A autora do livro ‘Nova Pádua – Histórias das Escolas: Viagem no Tempo’ (Palotti: 2012) lançou a obra há mais de 10 anos, como um presente ao 20º aniversário do Pequeno Paraíso Italiano. “Como fui vereadora, eu sei que sempre quando vinham pessoas, Nova Pádua era apontada como um município que não tinha nada escrito sobre sua história, que não tinha história. Então, parece que o município surgiu, cresceu, mas não deixou nada para os futuros moradores. Futuramente, e até mesmo agora, tem pessoas que não conhecem a história daqui e eu acho que isso faz falta”, conta Gema sobre a percepção da necessidade de um livro por meio do qual pudesse compartilhar suas vivências com a comunidade, acrescentando que realizou sua pesquisa em documentos que foram deixados quando as escolas do interior fecharam e os materiais foram deixados na prefeitura. 
A paduense lembra que o que a motivou a publicar a obra foram as histórias narradas por seu pai: “Eu sempre dizia para o pai me contar uma história e ele só contava do que eles tinham passado na infância. Eu achava interessante aquilo, ele dizia que me contaria, mas que eu tinha que contar para outros quando ‘ficasse grande’, então, dentro de mim, gravei que tinha a obrigação de contar o que ele me contava, porque senão ninguém contaria”, recorda, com carinho. 
A escritora homenageada adianta que tem uma segunda obra quase finalizada sobre a história dos imigrantes da antiga Nova Pádua, e comemora: “Acho que o que faz uma pessoa feliz não é o dinheiro, o importante  é o que a gente consegue deixar de bem, poder contribuir para o desenvolvimento, para poder viver, para as pessoas que vem depois da gente. Aqui em Nova Pádua, por exemplo, não tinha nada registrado, mas o município nasceu e se desenvolveu às custas de muito sacrifício, de muito trabalho. O importante, para mim, de deixar registrado, é mostrar para as futuras gerações que é possível. Hoje o mundo é difícil, mas naquela época era bem mais, porque não tinha condições, não se tinha nada, e mesmo assim eles (imigrantes) deixaram muita coisa”, ressalta a escritora, que finaliza dizendo que não fez nada para ganhar méritos ou títulos, mas sim por amor, sem esperar nada em troca.

Delcio Antônio Agliardi e Arcangelo Zorzi Neto, o ‘Maneco’. - Divulgação Em 2019, Gema Menegat Tonet recebeu Moção de Congratulação da Câmara de Vereadores de Nova Pádua. - Câmara de vereadores de NP/Divulgação
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