Mais de 50% da produção comprometida pela seca
354 dos 497 municípios gaúchos decretaram situação de emergência por conta dos danos causados pela estiagem
Que a estiagem é uma realidade para os moradores de Flores da Cunha e Nova Pádua, e que ambos os municípios já decretaram situação de emergência já se sabe. No entanto, o que ainda surpreende são as perdas dos produtores locais com a seca.
Este é o caso do agricultor Adair Bianchin, de 52 anos, morador do Travessão Leonel, em Nova Pádua. Desde os 15 anos ele se dedica ao plantio de frutas de caroço, que iniciou ao lado do pai. Hoje, o paduense cultiva pêssego, ameixa, nectarina e caqui, e em todas as culturas teve perdas expressivas não só na quantidade, mas, especialmente na qualidade das frutas.
“Temos plantado em torno de 3 hectares de pêssego, um pouquinho mais talvez. Esperávamos, no mínimo, que pudesse ter dado umas 50 toneladas, mas, deu menos de 35. Com certeza nós tivemos uma perda de 30% mas, se tivesse chovido e sido um ano normal, íamos passar de 60, chegar até, talvez, a 70 toneladas”, lamenta Bianchin.
O mesmo ocorre com outras duas variedades cultivadas pelo produtor: a ameixa e a nectarina. “Também temos em torno de 3 hectares de nectarina e esperávamos colher uns 50 mil quilos – já cheguei a produzir 70 mil – essa fruta teve uma perda maior: não chegou nem a 30 toneladas de colheita, uma perda de mais de 40%. Já a ameixa, que eu tenho 1 hectare, no ano passado nós produzimos 35 toneladas e esse ano não chegou a 12. A fruta está miúda, não cresceu e, na fase final, foi deixada bastante na planta, prejudicando muito a qualidade”, lastima o agricultor.
Em relação à colheita do caqui, que também conta com 3 hectares, o produtor revela não saber o que vai acontecer ainda, mas, acredita que se as chuvas não normalizarem, de agora em diante, as consequências serão ainda mais drásticas, uma vez que a água dos açudes terminou, impossibilitando as irrigações.
“Mesmo que chova, com certeza, mais de 50% da produção já foi perdida. A variedade Kioto – chocolate – essa terá praticamente 100% de perda, chovendo ou não. Agora não tem mais o que fazer, já caíram até as frutas de cima. E a variedade de chocolate branco, o Fuyu, se voltasse a chover talvez desse ainda alguma coisa, mas, frutas miúdas, sem qualidade”, reflete, ao mesmo tempo em que lembra que no ano passado foram colhidas 110 toneladas da fruta, mesmo resultado do retrasado.
Além da redução nas toneladas, a perda da qualidade das poucas frutas que restaram vai impactar diretamente no preço das mesmas, tanto no valor recebido pelo produtor, quanto no que nós, consumidores, teremos que desembolsar.
“Uma fruta de qualidade esse ano, que seria calibre 18 e 21, estava em um preço bom, mas, o problema é que por causa da seca não teve esses calibres”, pontua Bianchin. Ainda de acordo com ele, o que acontece, então, é que essas frutas são quase “dadas” e os produtores têm que tirar os custos com embalagem, do que se gasta com a energia elétrica para esfriar as frutas que precisam de resfriamento, com câmaras frias e mão de obra.
“Pior do que a grande perda em quantidade, eu acho que a perda desse ano foi em qualidade, ali a perda foi grande”, conclui, na esperança de que a chuva retorne e, com isso, consiga ter uma produção mais significativa.
À espera da Chuva
Nova Pádua juntou-se aos munícipios gaúchos que decretaram situação de emergência por conta dos danos causados pela estiagem. O decreto nº 1449 foi emitido na segunda-feira, dia 17, e assinado pelo prefeito Danrlei Pilatti, após levantamento realizado pelo escritório da Emater de Nova Pádua, que avaliou as perdas na produção de uva, maçã, pêssego, milho, hortifrutigranjeiros, entre outras culturas, estimando que as perdas cheguem a R$ 9,1 milhões.
A decretação pode ajudar na contratação direta, devido a urgência, de serviços necessários, como por exemplo, a utilização de caminhão pipa para o abastecimento de residências no interior do município. “Com o decreto de situação de emergência, a administração busca amparar os agricultores que tem operações de crédito junto às instituições bancárias do município, visando assim, a prorrogação do pagamento de parcelas para os munícipes que tiveram prejuízos em decorrência da estiagem. Essa prorrogação não inviabiliza os agricultores de fazerem novos empréstimos no próximo ano e foi uma forma encontrada pela administração municipal para auxiliar o nosso agricultor nesse período complicado de estiagem”, evidencia o prefeito de Nova Pádua, Danrlei Pilatti.
Ponto de vista compartilhado pelo secretário da Agricultura e Meio Ambiente, Gelson Sonda: “O decreto é uma forma de amparar nosso agricultor paduense que trabalha de sol a sol para produzir e contribui para o crescimento e desenvolvimento de Nova Pádua”.
Sonda também destaca o planejamento dos agricultores que, antes mesmo de iniciar esse período de estiagem, com subsídios da prefeitura, se programaram com a limpeza, ampliação e abertura de novos açudes para a irrigação das plantações. “Só em 2021 foram 131 pedidos e atendidos pela administração”, pontua. Ainda conforme o secretário, os cidadãos também têm papel fundamental neste momento de seca, já que precisam reduzir o desperdício e utilizar a água de forma consciente. “Outra medida importante é captar a água da chuva para lavar calçadas e carros, bem como para a irrigação de plantações”, aconselha Sonda.
Uma sugestão muito importante uma vez que, de acordo com engenheiro agrônomo e extensionista rural do escritório da Emater de Nova Pádua, William Heintze, as perdas chegam a aproximadamente R$ 9,1 milhões. Entre as produções que mais tiveram perdas estão a cultura de milho (silagem e grão) com 35%, seguida da produção de pêssego e outras frutas, com 25%, cebola com uma perda de 15% e a produção de uva e alho, com 10%.
“O levantamento foi realizado com base na observação pela visitação de algumas áreas em diversas comunidades do município, bem como entrevista com alguns agricultores que já estavam realizando a colheita. Ele é fundamental para a decretação de situação de emergência, pois, é necessária uma avaliação dos prejuízos consolidados no município pelo evento danoso, até aquele momento”, explica Heintze sobre a importância do levantamento realizado pela Emater.
Dessa forma, o engenheiro esclarece que os dados são temporalmente pontuais e tratam das perdas já consolidadas na data da avaliação, sendo que, com a continuidade da seca, as perdas tendem a se agravar e ter seu valor aumentado. “Em termos de vulnerabilidade, a cultura mais significativa é a uva, que embora no momento do levantamento tenha contribuído com pouco mais de 50% do total, tem potencial para aumentar significativamente, caso persista a estiagem”, ressalta, ao mesmo tempo em que explica que, caso a prefeitura solicite, a Emater poderá elaborar uma atualização as perdas, considerando o agravamento, se vier a ocorrer.
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