Nova Pádua

Em busca da sustentabilidade

Biodigestor reaproveita resíduos orgânicos para fornecer gás à escola do município

A Escola Municipal de Educação Infantil Bortolo Bigarella, em Nova Pádua, conta com um novo equipamento que promete ajudar a cozinha da instituição a se tornar autossustentável. Com design semelhante a uma barraca de camping, o biodigestor nas cores verde e preto transforma sobras de alimentos em gás de cozinha e fertilizante, ajudando a tornar mais verde também o dia a dia dos alunos e professores da escola.
Outras escolas espalhadas pela Serra Gaúcha também receberam ou ainda vão receber o aparelho, como Nova Roma do Sul, Nova Bassano e Veranópolis. No Pequeno Paraíso Italiano, a primeira parte da instalação ocorreu no dia de 11 de junho e, desde então, o equipamento passa por um processo de fermentação, etapa necessária antes da segunda fase de instalação, quando o biodigestor estará em pleno funcionamento. 
“Agora, é preciso esperar 40 dias para que as bactérias consumam o resíduo orgânico e produzam a primeira chama de biometano”, explica a diretora Marisangela Beazuti Triaca. Após esse período, funcionários da empresa responsável voltarão à escola para instalar um canal que ligue a cozinha ao equipamento, instalado no parquinho da escola – além de dar todas as instruções para as cozinheiras do colégio, que vão alimentar o biodigestor com os resíduos orgânicos.
O aparelho tem capacidade para 4kg de material por dia, gerando cerca de 3h de gás – o que seria capaz de tornar o uso do combustível na cozinha da escola autossustentável a longo prazo, já que o biodigestor tem uma vida útil estimada em 20 anos. Para melhor proteger o aparelho e as crianças, a escola estuda rodeá-lo por uma cerca, evitando que os alunos mexam nele fora dos horários devidos e sem a instrução de um professor.
O biodigestor conta com uma divisória que o separa em dois andares: o de baixo é onde há o digestor de fato, que transforma os resíduos em um gás armazenado no andar de cima, pronto para uso. Na frente, um cano vertical de 100 milímetros recebe diversos tipos de alimentos, como frutas, legumes, carnes a até mesmo ossos, que seriam jogados em aterros sanitários e agora serão reaproveitados para alimentar a cozinha.
Durante o processo de decomposição, além do gás, o equipamento gera um líquido depositado no recipiente da parte de trás, que será reutilizado para regar as plantas do parquinho e de uma área ao lado da escola, que recentemente passou por replantio. Já o gás, claro, vai produzir chama para o fogão da cozinha e preparar a refeição dos cerca de 60 alunos da escola, que hoje recebem a merenda dentro da própria sala de aula, devido à pandemia.
A iniciativa da aquisição do biodigestor partiu do próprio gabinete, após visita técnica de um dos representantes da empresa, realizada no início do ano, segundo o prefeito Danrlei Pilatti. Com o sinal verde da Secretaria da Agricultura e do Meio Ambiente, o equipamento foi adquirido com a verba do fundo municipal do meio ambiente oriundo de multas e taxas ambientais. O valor final girou em torno dos R$ 7,5 mil, que passou pela aprovação e o crivo do Conselho Municipal de Proteção Ambiental. 
Além da economia de gás, o projeto vai contribuir para a conscientização das crianças quanto ao cuidado com o meio ambiente. “A ideia é exatamente essa. A Secretaria de Educação, em parceria com a Agricultura e o Meio Ambiente e a Emater, está trabalhando nessa questão do meio ambiente, de reaproveitar os resíduos”, comenta a secretaria da Educação, Cultura, Turismo, Esporte e Lazer, Josenice Panizzon Bernardi.
“Eles (os resíduos) deixarão de ser enviados para os aterros sanitários. Ao mesmo tempo, nós contribuímos para a diminuição do aquecimento global. Sem falar na consciência das crianças sobre a importância do uso de energias renováveis e a proteção do planeta”, completa o fiscal do Meio Ambiente, Carlos Eduardo Sesti. Sobre o mesmo tema, o prefeito Danrlei Pilatti crê que ele pode fazer parte das dinâmicas dos professores em sala de aula: “É uma forma de valorizar o meio ambiente e o dia a dia dos educadores e dos alunos que estão aqui”, afirma.
Segundo a diretora da escola, a iniciativa tem vários benefícios, como a economia financeira, a diminuição do lixo no meio ambiente e a autoprodução de biofertilizantes, alinhada com as perspectivas de sustentabilidade, que podem ir além dos muros da escola, atingindo também as famílias. “Posteriormente, poderemos também montar projetos para serem trabalhados com as crianças e suas famílias sobre a importância  do destino correto do lixo e dos cuidados com a natureza para um futuro sustentável”, projeta Marisangela, concluindo uma série de falas que mostram que esse futuro será construído com várias mãos.

O que é o HomeBioGas?
O HomeBiogas é um biodigestor israelense que promove o reaproveitamento de recursos orgânicos das residências. Por meio de uma cultura de bactérias presente no reator do produto, cascas, ossos e outros restos de alimentos e também fezes de animais de estimação servem como matéria-prima para a geração de biogás.
O sistema é integrado ao fogão da cozinha, para que o gás produzido possa ir direto do biodigestor israelense para seu uso final. A empresa fornece a instalação dos canos necessários para a adaptação do fogão ao gás do HomeBiogas. Isso permite que os restos de uma refeição ajudem a cozinhar a próxima, em um sistema que otimiza os recursos domésticos e produz energia sustentável.
O sistema do biodigestor pode ser montado pelo próprio consumidor. Depois de deixá-lo em pé, é preciso encher um reator com água e adicionar uma cultura de bactérias, enviada pelo fabricante e responsável pela transformação da matéria orgânica em gás.
Assim como todo biodigestor residencial, o ideal é instalar o HomeBiogas em local aerado e ensolarado, já que as bactérias necessitam de calor para se multiplicar rapidamente. Como o processo é anaeróbio, não há problemas com odores e o aparelho pode ser instalado perto das residências. A manutenção é simples, deve-se observar sempre a válvula, que tem que estar no mesmo nível da água e a limpeza do biodigestor é feita através de um dreno de fundo.

Ajudando pessoas no mundo inteiro
Desenvolvido em Israel, o HomeBioGas foi trazido para o Brasil pela empresa Biomovement, de São Paulo, com representante em São Marcos. Lançado em 2012 por Yair Teller, o equipamento se expandiu para várias partes do mundo, inclusive em comunidades carentes e ajuda a resolver dois grandes problemas.
O primeiro deles é o efeito estufa, emitido principalmente pelos resíduos orgânicos domésticos, que produzem uma quantidade muito grande de gás metano. O outro é o da poluição do ar em ambientes fechados: mais de 3 bilhões de pessoas ainda cozinham usando fogueiras e mais de 4 milhões de pessoas morrem todo ano por serem expostas à poluição causada por elas. 
Em janeiro de 2016, por exemplo, o HomeBiogas instalou o inovador sistema de biogás no Orfanato Buvundya, em Uganda. O sistema ajudou a alimentar crianças carentes em uma área muito remota do país, além de dar a elas a oportunidade de aprender sobre energia limpa e questões ambientais e tornar seu dia a dia mais seguro e saudável. O fertilizante passou a ser usado para cultivar vegetais mais saudáveis e mais fortes na horta do orfanato. 
Já em 2017, o biodigestor chegou à fronteira da Jordânia, em uma área onde se busca desenvolvimento pacífico e sustentável na região. Lá, um campo de refugiados acolhia cerca de 80 mil pessoas que fugiam da Guerra Civil na Síria. Para eles, o HomeBioGas foi uma solução viável porque depende apenas dos recursos renováveis: resíduos alimentares/animais e calor do sol. Muitas agências humanitárias diferentes doam comida para o campo, mas não se dá muita atenção à forma como os refugiados cozinham os alimentos que recebem.
O tipo de combustível mais comum utilizado nos campos de refugiados é a biomassa (madeira, esterco animal, resíduos de plantações). Isso significa que quem prepara o alimento deve ficar próximo de uma fogueira. Isso não é aconselhável por vários motivos. 
Em primeiro lugar, cozinhar em fogueiras é prejudicial à saúde humana. O fogo emite gases nocivos e partículas pequenas no ar, que penetram profundamente nos pulmões e são extremamente perigosas. Em segundo lugar, as pessoas responsáveis por encontrar e coletar a biomassa (geralmente mulheres e crianças) enfrentam dificuldades sociais desproporcionais. 
Ao deixar suas residências para encontrar biomassa, eles estão mais expostos a ameaças como assédio sexual e perigo físico. Além disso, a necessidade de encontrar e coletar biomassa pode forçar as crianças a faltar na escola. Por último, a exploração da madeira para cozinhar perpetua o desmatamento, o que contribui gravemente para o aquecimento global.
 

O fiscal do Meio Ambiente, Carlos Eduardo Sesti, a vice-diretora da escola Liliane Menegat Daniel, a secretária de Educação, Josenice Panizzon Bernardi, e o prefeito Danrlei Pilatti.  - Pedro Henrique dos Santos
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